O Brasil passa por dificuldades que não eram nossas conhecidas.
A primeira foi a falta de chuvas, no início do verão. As represas encontravam-se muito abaixo do tolerável. Como consequência, as usinas hidroelétricas funcionavam em nível mínimo. A segunda, mais grave, é a falta de irrigação no campo, prejudicando a agricultura. Os preços altos, por produção diminuída, começam a surgir. Estes fatos acontecem, são independentes da vontade humana.
Mas 2014 foi ano eleitoral, e o governo gastou bem mais do que recolheu. Seria o caso de crime de responsabilidade fiscal contra a presidente Dilma, mas acordos com o Congresso eliminaram a responsabilidade. Certa ou errada, a decisão foi política, onde manda a maioria, que saiu vitoriosa.
A operação Lava Jato, levada pela Polícia Federal e o Ministério Público, encontrou várias irregularidades com dinheiro da Petrobras, a ponto da empresa ter sido posta de fora do índice Dow Jones. Muitos milionários brasileiros estão na cadeia, coisa jamais vista aqui e acredito que em muitas partes do mundo. Na grande maioria, empresários de grandes construtoras de engenharia civil e antigos diretores da Petrobras.
Não se trata de golpismo político. Conhecido banco suíço bloqueou na semana passada uma transferência de alguns bilhões de euros, da conta de um dos envolvidos que queria salvar parte do dinheiro ilicitamente ganho. A quantia está depositada, a disposição do governo brasileiro. Sempre que ocorrem estes fatos, os acusados levantam a hipótese de golpe, ou 'terceiro turno' das eleições. Desta vez não há como negar os ilícitos. Os bancos estrangeiros estão colaborando e fica a prova que modesto funcionário de companhia petrolífera tem milhões de euros em conta secreta.
Como consequências, a inflação, miséria que nos perseguiu longo tempo, está voltando. Vai ser um combate duro dominá-la. O preço do petróleo subiu bastante, a energia elétrica vai a 40% de aumento, o dólar dispara, a produção industrial brasileira cai seguidamente e o desemprego, uma das conquistas do governo petista, que conseguiu diminuí-lo bastante, volta a ser problema.
Verdade que o problema não é só nosso, mas afinal somos a sexta economia do mundo. Dizem que é macumba inglesa, pois chegamos a ultrapassar, em dinheiro, a economia daquele país. Brincadeira nossa, eternos gozadores das derrotas dos outros, inclusive das brasileiras.
Mas convenhamos: esta não tem graça nenhuma.
Jorge Cortás Sader Filho é escritor