Angelo Scola, de 71 anos, arcebispo de Milão, a maior diocese da Europa.
Imagem de 16 de abril de 2005, feita antes do conclave que elegeu Bento XVI, mostra a fornalha onde os votos são queimados após cada rodada de votação.
Em março, pouco menos de 120 cardeais da Igreja Católica decidirão quem é o novo líder espiritual de 1,1 bilhão de pessoas. Isolados no Vaticano, tomarão uma decisão de grande impacto no mundo, mas cercada de segredos e reservada apenas a eles, seguindo o costume de pouca transparência da hierarquia católica. Ainda que o conclave seja secreto, assim como as opiniões dos cardeais, alguns nomes surgem como favoritos para suceder o alemão Joseph Ratzinger, conhecido desde 2005 como Bento XVI.
A principal estrela do conclave para suceder Bento XVI parece ser Angelo Scola, de 71 anos, arcebispo de Milão, a maior diocese da Europa. Próximo a Ratzinger, Scola é integrante do Comunhão e Liberação, um movimento conservador bastante ativo no mundo católico, o que dá a ele apoios importantes nos movimentos religiosos. Scola é um defensor do papel central da Igreja Católica na sociedade e defende que ela tenha voz ativa em discussões a respeito de costumes, política e economia.
No período em que foi Patriarca de Veneza, Scola ficou conhecido pela energia aplicada em seus afazeres de líder religioso. Para ele, os cristãos têm um sério problema de comunicação com a sociedade, pois apelam para o moralismo "em vez de dar razões, de convencer".
A força de Scola pode variar conforme a influência que o atual papa exerça no conclave. Federico Lombardi, o porta-voz do Vaticano, e Georg Ratzinger, irmão do papa, afirmaram que Bento XVI não vai tentar interceder junto aos cardeais. Em entrevista ao jornal Financial Times, Giuliano Ferrara, editor do jornal Il Foglio, que previu a renúncia de Bento XVI em 2012, afirma que o atual papa já pode ter garantido sua influência nos últimos anos. "Ele pode já ter um acordo sobre seu sucessor, mas de qualquer forma devemos esperar que ele tenha voz sobre quem virá depois", diz Ferrara.
A influência de Ratzinger se dá porque ele nomeou 67 dos 117 cardeais que hoje participariam do conclave, aqueles com menos de 80 anos. Ratzinger teria feito as escolhas de modo a manter o conservadorismo como ideologia majoritária na cúpula do Vaticano. Tudo isso, entretanto, não serve como garantia para Scola.
Além dele, há outros 27 italianos entre os prelados e não se sabe ao certo qual é a relação entre eles. Mauro Piacenza, de 66 anos, prefeito da Congregação do Clero, e Gianfranco Ravasi, 71 anos, presidente do Conselho Pontifício de Cultura, são outros italianos bem cotados.
Outro conservador com boas chances é o canadense Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos, terceiro cargo mais importante no Vaticano. Ouellet, ex-arcebispo de Québec, manteria algumas das rígidas posições da Igreja Católica, como na questão do aborto. Em 2010, ele chegou a afirmar que abortar uma gravidez era um "crime moral" mesmo em caso de estupro.
Uma papa do mundo em desenvolvimento?
Dom Odilo Scherer (foto), arcebispo de São Paulo, em imagem de 2007. Seria preciso uma mobilização dos europeus para entregar o papado a um cardeal do mundo em desenvolvimento. Foto: Elza Fiúza / ABr
Como ocorreu em 2005, há muitas especulações a respeito da possibilidade de o novo papa ser de um país em desenvolvimento, onde está hoje a maior parte dos católicos.
Dos cinco brasileiros que participam da votação, dois nomes são cotados: João Braz de Aviz, ex-arcebispo de Brasília e atualmente prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, e dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, a maior diocese brasileira. Dom Odilo é conhecido por dar ênfase ao trabalho de evangelização da Igreja e por tender a posições menos conservadoras que as de Ratzinger.
Assim como dom João de Aviz, dom Odilo tem um trabalho ligado às populações pobres, uma característica do catolicismo no Brasil, que pode se tornar um trunfo na eleição caso os cardeais queiram realizar esta guinada na atuação do Vaticano.
Outros latinos cujos nomes são cotados são o argentino Leonardo Sandri (foto), prefeito da Congregação das Igrejas Orientais, e o arcebispo de Tegucigalpa, o hondurenho Oscar Maradiagua. Maradiagua, de apenas 61 anos, é comparado a João Paulo II por conta de seu carisma, mas pode ser uma opção muito "à esquerda" para o Vaticano.
Entre os cardeais africanos o principal nome é o de Peter Turkson, de Gana (foto), prefeito do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz. Adorado em seu país e entre os católicos do oeste da África, Turkson é descrito com muitas palavras elogiosas pelos colegas. No ano passado, entretanto, Turkson se envolveu em uma grande polêmica ao exibir para um grupo de bispos um vídeo do Youtube com previsões estatisticamente duvidosas a respeito da "islamização da Europa".
Domínio é europeu
Ainda que haja muita especulação sobre a possibilidade de um papa do mundo desenvolvido, a possibilidade parece pequena. Hoje, 117 cardeais poderiam participar de um conclave em março, mas o número pode variar conforme a data em que as reuniões tiverem início, já que três prelados fazem aniversário em março. Levando em conta os 117, 61 cardeais são europeus, sendo 28 da Itália, seis da Alemanha, cinco da Espanha, quatro de França e Polônia, dois de Portugal e 12 de outros países. Há 11 africanos e 19 latinos (sendo cinco do Brasil e três do México).
Como se vê, para isso se concretizar seria necessária uma mobilização sem precedentes de cardeais europeus para ceder a liderança da Igreja Católica a um não europeu pela primeira vez. Esperar isso em 2013, talvez, seja como esperar um milagre.
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