Alimentos: Meu bem, meu mal.

As mesas de comemoração ocupam o centro do palco e até se tornam aliadas em tempos de tristeza, a comida faz emergir rapidamente sentimentos. Pode ser algo positivo ou negativo.

Dezenas de apresentadores de televisão e chefs, no mundo inteiro, dedicam-se a despertar em seus telespectadores a emoção sensorial que o preparo e o sabor de um prato são capazes de proporcionar. Tem sido um sucesso absoluto. Mais do que uma necessidade fisiológica, o ritual de alimentação é um dos prazeres mais intensos da vida cotidiana. E tem tudo a ver com o estado de espírito. Para desvendar esta relação, HEALTH! entrevistou alguns dos principais especialistas em comportamento alimentar. Desfrute de alguns insights desses especialistas abaixo. E bom apetite!

Por que certos alimentos, especialmente alimentos doces e gordurosos, dão a sensação de prazer em momentos de depressão e ansiedade?

"Durante testes feitos com aqueles que estão deprimidos ou ansiosos, a necessidade de obter prazer através de um sistema de recompensa tende a exacerbar", diz o psiquiatra Alexandre Azevedo, coordenador do Grupo de Estudo sobre Alimentação Compulsiva e Obesidade, Hospital das Clínicas em São Paulo. "E alimentos cheios de açúcar e gordura, como chocolate e molhos, porque sabem melhor, proporcionam essa sensação rapidamente", acrescenta a endocrinologista Ellen Paiva, diretora da Terapia Nutricional Integrada na capital paulista.

As limitações impostas pela restrição alimentar causam frustração suficiente para levar a um estado de depressão?

"Sim, comer e beber confere uma sensação de bem-estar e faz parte dos rituais de socialização", diz Lara Natacci, autora de Anorexia, Binge Eating e Bulimina, Editora Atheneu. "Ou seja, uma dieta muito rigorosa não só priva o indivíduo do prazer que a comida oferece, mas também leva ao isolamento, favorecendo a criação de um estado deprimido".

Desse ponto de vista, virar-se para a alimentação como uma válvula de escape torna-se prejudicial?

"Nunca a perda de controle e o aumento excessivo dos padrões habituais foi considerado algo positivo", a Azevedo dispara. "Às vezes comemos quando não temos fome, em ocasiões festivas ou para socializar". Entretanto, comer por causa da tristeza ou da melancolia traz um sentimento de culpa, que é ainda pior do que o próprio exagero", acrescenta Ellen.

Que problemas na relação com a alimentação podem levar a um distúrbio alimentar?

"Muitas vezes começa com uma dieta simples para eliminar alguns quilos", adverte Lara. Ela disse que é comum que uma pessoa comece a suprimir a fome até chegar a um ponto em que deixe de expressar esse impulso. "Há também evidências de que a pressão social pela boa saúde na adolescência, os traumas infantis, o perfeccionismo e a presença de doenças na família contribuem para esses distúrbios", conclui ela.

Quais são os perigos da transferência de dependência de um item potencialmente nocivo, como o álcool e o cigarro para a alimentação?

Antes da resposta, Alexandre Azevedo faz uma correção: "Há substâncias que podem causar dependência, como álcool, tabaco e drogas ilícitas, ao contrário dos alimentos, que não promovem a dependência", explica ele. Algumas pessoas, no entanto, tendem a ter comportamentos compulsivos. "Ao parar de fumar, espera-se que o indivíduo se sinta ansioso e procure na comida um alívio para este sentimento", diz Lara Natacci. "Há também casos em que o hábito mecânico de acender um cigarro ou beber um copo de uísque é substituído por comer em excesso", diz ela.

Por que alguns alimentos se tornam proibitivos?

"Quando itens que são muito calóricos, ricos em gorduras saturadas ou açúcares são consumidos de forma abusiva, eles se tornam verdadeiros promotores de doenças", diz Ellen Paiva. Na lista de doenças, estão incluídos o diabetes, a obesidade e os problemas cardiovasculares. "Mas são as grandes porções e a freqüência do consumo que são os vilões". Consumidos em pequenas quantidades, nenhum alimento precisa ser banido do cardápio, exceto se houver dificuldade em controlar sua ingestão", diz a endocrinologista.

Por que algumas pessoas perdem a fome quando estão tristes ou nervosas?

"Na verdade, há indivíduos que reagem desta maneira. Outros, ao contrário, têm apetite aumentado. Ou, eles não demonstram mudanças antes de uma questão de tristeza ou ansiedade", diz Azevedo. Segundo o psiquiatra, a ligação entre essas emoções e o desejo de comer seriam neurotransmissores, substâncias que carregam informações elétricas entre neurônios, tais como serotonina, dopamina e norepinefrina. "Eles regulam tanto o humor quanto o equilíbrio entre fome e saciedade", explica ela. Em outras palavras, quando estes engenheiros químicos são alterados devido a questões emocionais, pode haver um desequilíbrio no apetite.


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Petr Ermilin