Testemunha ocular da História
Durante alguns anos, na TV Piratini e na Rádio Farroupilha, fui o redator exclusivo do Repórter Esso. Nada de que possa me ufanar, mas enfim, era um trabalho como qualquer outro e embora houvesse um manual que deveria ser seguido na elaboração das notícias, eu tratava de infiltrar algumas notícias que, em alguns momentos, poderiam ser consideradas subversivas.
Mas não é sobre essa minha pequena contribuição para a causa socialista que quero me referir, mas sim a algo mais prosaico, o slogan do noticiário. O Repórter Esso era a "Testemunha Ocular da História". Algo bastante pretensioso porque ele não estava presente em todos os lugares onde a História se desenvolvia e quando estava, tinha um olhar parcial, o olhar norte-americano sobre o mundo.
Relembrando o Repórter Esso, comecei a pensar que eu poderia ser hoje uma testemunha ocular da história política do Brasil a partir de 1950. O que ficou para trás, fiquei sabendo pelas minhas leituras, mas desde o último governo de Getúlio Vargas, posso dizer que acompanho o mais perto possível, o que acontece na vida política do Brasil
Em Vargas e Juscelino, não pude votar porque ainda não tinha a idade mínima, mas depois sempre fiz minhas escolhas. Perdi com o Marechal Lott contra Jânio Quadros. Perdi algumas vezes com o Brizola e o Lula, mas ganhei depois com o Lula e a Dilma.
Mesmo com as derrotas, sempre existia a expectativa que, logo ali adiante, haveria uma chance de vitória.
Esse ano, com a chegada do Bolsonaro e sua gang ao poder, ficou a sensação de que aquela tese furada, no mundo inteiro, do Fukuayama do "fim da História", poderia se tornar uma realidade no Brasil.
Já tivemos presidentes nacionalistas como Getúlio, desenvolvimentistas, como JK; ensandecidos como Jânio; confusos como Jango; aventureiros, como o Collor, provincianos como o Itamar, perigosamente neo-liberais como FHC, reformistas como Lula e Dilma, inodoros como o Temer e até aqueles patéticos generais que queriam comandar o Brasil como se estivessem na caserna, mas nunca tínhamos passado por um governo, tão anti-republicano como esse atual.
Mais do que um governo de idiotas, estúpidos e mal informados, temos no comando de um País, que já pensou em ser a sexta economia do mundo, um anti governo, onde se faz uma anti-política comandada por anti-seres humanos.
É uma hora, em como disse um amigo, a esperança de mudança parece desaparecer e para não enlouquecer precisamos nos socorrer das artes ou da esbórnia.
Pensava nisso, quando imaginei existir um outro caminho. E se a ciência nos ajudasse a criar brasileiros melhores para nos governar? Quem me deu alguma esperança nesse sentido, foi a leitura do livro do falecido Stephen Hawking - Breves Respostas Para Grandes Questões.
Claro que ele não se refere em nenhum momento ao Brasil, mas a humanidade em geral. Diz ele: "Não há tempo para esperar que a evolução darwiniana nos deixe mais inteligentes e melhore nossa índole. Mas estamos entrando em uma nova fase que pode ser chamada de evolução auto projetada, em que seremos capazes de mudar e melhorar nosso DNA. Hoje já temos o genoma humano todo mapeado, ou seja, lemos "o livro da vida", de modo que agora podemos começar a fazer correções. No início essas mudanças se restringirão a consertar defeitos genéticos, como fibrosa cística e distrofia muscular, que são controladas por genes isolados e portanto, razoavelmente fáceis de identificar e corrigir. Outras qualidades,como inteligência, são provavelmente controladas por um grande número de genes e será bem mais difícil encontrá-los e descobrir as relações entre eles. Não obstante, tenho certeza de que as pessoas descobrirão no próximo século como modificar tanto a inteligência quanto os instintos agressivos,por exemplo."
Senão nossos filhos, provavelmente nossos netos viverão esses novos tempos. Nesse novo mundo, não haverá espaço para Trumps e Bolsonaros. A dúvida é o que acontecerá para a maioria das pessoas.
Será melhor ou pior que hoje?
Para Hawking "quando o super-humano surgir, haverá problemas políticos graves com os humanos não aprimorados, que serão incapazes de competir. Presumivelmente, acabarão morrendo ou se tornando irrelevantes. No lugar estará uma raça de seres auto projetados se aperfeiçoando a uma taxa cada vez mais acelerada."
Vamos aguardar, então, enquanto damos um jeito de viver num País governado por um dos representantes mais abjetos da escória humana.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS