Foro Econômico Mundial: Os problemas globais continuam sobre a mesa

Havana (Prensa Latina) O Foro Econômico Mundial fechou este ano sua edição 45 depois do debate sobre grandes desafios e situações globais, e com a inconformidade daqueles que consideram o evento insuficiente para dar resposta a sérios problemas contemporâneos.

De 21 a 24 de janeiro a cidade suíça de Davos, sede habitual desse encontro, recebeu a cifra recorde de 2.500 participantes de 140 países, entre eles, cerca de 40 chefes de Estado e de Governo, ministros, diretores de grandes corporações, acadêmicos e membros de organizações civis.

Com o lema "O novo contexto global", os participantes do foro realizaram 280 sessões de trabalho, guiadas por quatro eixos centrais: crise e cooperação, crescimento e estabilidade, inovação e indústria, e sociedade e segurança.

Um dos assuntos mais delicados e importantes da reunião foi o da desigualdade entre ricos e pobres, problema que no meio da crise econômica dos últimos anos só se aumentou.

BRECHA ENTRE RICOS E POBRES, O DESAFIO PRINCIPAL

O um porcento da população mundial está constituído por aproximadamente 70 milhões de pessoas. Número maior que a quantidade de cidadãos em nações como França (66 milhões) ou Reino Unido (64 milhões), mas abaixo da população de pelo menos vinte Estados cuja população supera esse número de habitantes.

Considerando os 193 membros da ONU, um porcento da população mundial poderia caber em um território que, se fosse do tamanho da própria França, não ocuparia mais que 0,13% da superfície total da Terra.

No entanto, 70 milhões das pessoas mais ricas do mundo acumulam a mesma quantidade de patrimônio que cerca de 6,93 bilhões de habitantes, o 99% restante da população mundial.

Essa foi a estivamativa da Oxfam Internacional, uma confederação de 17 organizações não governamentais com presença em 90 países que alertou recentemente sobre os graves níveis de desigualdade em todo o mundo.

O aumento descontrolado da desigualdade está enfraquecendo a luta contra a pobreza, segundo a entidade, cuja diretora executiva, Winnie Byanyima, foi uma das co-presidentas na reunião de Davos.

Segundo o relatório "Riqueza: ter tudo e querer mais", apresentado para discussão no encontro, atualmente um em cada nove seres humanos carece de alimentos suficientes para comer e mais de bilhões ainda vivem com menos de 1,25 dólares por dia.

Apesar da crise econômica mundial que começou em 2008, e entre suas consequências deixou um número notável de desempregados, a Oxfam afirmoou que o um porcento mais rico do planeta aumentou sua fortuna, passando de 44% do patrimônio mundial em 2009, a 48% em 2014.

Em relação aos 52% restante da riqueza global, a maior parte (46%) está nas mãos dos 20% da população, enquanto os outro 80% compartilham apenas só 5,5% desse patrimônio.

Segundo Byanyima, nos últimos 12 meses, líderes mundiais como o presidente estadunidense Barack Obama ou a diretora gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, falaram sobre o combate contra a desigualdade extrema.

Mas ainda estamos esperando que muitos deles falem com o exemplo. Chegou o momento de que nossos líderes enfrentem os interesses que nos impedem de alcançar um mundo mais justo e próspero, manifestou.

Em seu Relatório de Riscos 2015, o próprio Foro reconheceu que a brecha entre a renda dos cidadãos mais ricos e dos mais pobres representa um risco que poderá provocar danos mais graves na órbita durante a próxima década.

No entanto, ainda que todo ano o problema da desigualdade é abordado de um modo ou outro na reunião da cidade suíça, continua como um assunto pendente que, em vez de se reverter, continua recrudescendo.

De fato, a própria Oxfam denunciou em 2014 que as 85 pessoas mais ricas possuíam o mesmo patrimônio que a metade mais pobre da população do planeta, uma concentração de riquezas que se agudiza e hoje se encontra nas mãos de apenas 80 cidadãos.

DIVERSOS RISCOS PLANETÁRIOS

Em sentido geral, durante as jornadas do foro foram abordados cerca de trinta perigos econômicos, ambiental, social, geopolítico e tecnológico, todos eles capazes de provocar um impacto sistêmico internacional.

Além da brecha na renda, os fenômenos meteorológicos extremos, o desemprego, a mudança climática e os ciberataques foram considerados, nessa ordem, os principais riscos em escala global.

Assim, o caráter geopolítico da crise internacional, os problemas na Ucrânia e a situação no Oriente Médio, os desafios para o crescimento da Europa, a mudança climática e a igualdade de gênero foram alguns dos assuntos centrais das análises.

Os atuais baixos preços do petróleo também concentraram muita atenção, assim como a economia latino-americana, contando com a presença de representantes do Brasil, México, Colômbia, Peru e Panamá, e da Comissão Econômica para América Latina e Caribe.

Durante a última jornada do encontro, a secretária executiva da organização, Alicia Bárcena, propôs implementar ações para consolidar as conquistas sociais da área, e para isso considerou importante estimular os investimentos e realizar uma mudança estrutural que melhore a integração das economias na produção de valor.

Mas para além da importância dos temas tratados, o encontro é considerado por diferentes analistas um espaço que não chega a respostas acertadas para as dificuldades, e no qual muitos dos compromissos ainda não foram cumpridos.

Segundo o jornalista econômico estadunidense Lew Rockwell, o Foro de Davos não busca soluções para a economia global, pois só se concentra em reunir os responsáveis pelas dificuldades que os mercados sofrem hoje.

Podem dizer que querem arrumar as coisas ou fazer com que a vida da gente seja melhor, mas o que fazem é conspirar para que haja mais guerras, intervenções, controle econômico, e benefícios para a elite do poder, considerou o presidente do Instituto Ludwig von Mises em entrevista à Russia Today.

A diretora executiva da Oxfam afirmou que ainda que a reunião tenha terminado, o trabalho de encontrar as vias para acabar com problemas como a desigualdade extrema estão apenas começando.

Por outro lado, a organização Cultura da paz realizou um protesto pacífico contra o encontro e denunciou que mulheres e homens de alto escalão tomam decisões por bilhões de pessoas sem escutar sua voz.

Antes do encontro, vários ativistas tinham colocado nos arredores da cidade alpina cerca de 140 bonecos de neve enfeitados com as bandeiras dos diferentes países para exigir mais estratégias contra a pobreza, a desigualdades e a mudança climática.

 

* Jornalista da Redação de Economia da Prensa Latina.


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