O Brasil tem muito a aprender com Israel na Educação
por Floriano Pesaro, sociólogo
O Brasil, assim como Israel e outros 192 membros da ONU, acordou seu compromisso com a Agenda 2030, composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que versam sobre a erradicação da pobreza, segurança alimentar, educação, saúde, energia, água, produção e consumo sustentáveis, mudança do clima, dentre muitos outros.
Esses objetivos buscam tornar a sociedade mais equitativa e sustentável até a próxima década. Dentre eles, aqueles que versam sobre educação têm uma característica fundamental: como princípio, ou mesmo como meio fundamental para sua consecução, demandam integração entre a política educacional e o olhar transversal da política socioassistencial.
Esse que parece ser um entendimento sedimentado no mundo e principalmente em Israel, como abordaremos a seguir, parece não ser ainda sequer compreendido no Brasil. Segundo a Pnad Contínua 2016-17, 40,8% dos jovens brasileiros entram na fase adulta sem concluir o ensino médio. Os efeitos desse cenário são sentidos em sala de aula, mas pouco se fala de suas causas fora do ambiente escolar.
Já o cenário educacional israelense mostra-se diferente a começar com sua história: a primeira instituição de ensino superior do país foi criada antes mesmo do estabelecimento de Israel como um Estado, em 1924 com o Technion, o Instituto de Tecnologia de Israel, na cidade de Haifa. Os níveis de evasão escolar em Israel são incrivelmente baixos: 1,1%, quase inexistentes estatisticamente.
Enquanto isso, no Brasil, a assistência social, ao incorrer na pouca integração com a educação, desconhece o impacto de determinadas privações na aprendizagem e, também por isso, tem dificuldade em equacionar os desafios vividos pela criança e adolescente como um todo, uma vez que eles não são vistos como estudantes. Por outro lado, a educação depara-se com situações extraclasse que prejudicam a aprendizagem e parecem não ter sentido para o professor no contexto de sala de aula.
É fundamental desenharmos caminhos de diálogo e trocas de informações entre os profissionais da educação e da assistência social. Os jovens atendidos por esta política pública são os mesmos que o são naquela. Não é possível pensar o cidadão em recortes temáticos, uma vez que as privações da vida contemporânea se mostram cada vez mais multifacetadas.
Manter um jovem em sala de aula frente ao crescente desinteresse com o modelo de ensino tradicional, somado às tamanhas e variadas privações , é missão para cada uma das políticas públicas cumprirem juntas. É claro que, neste sentido, é fundamental que o Orçamento seja garantido e que dê conta do desafio, contudo, erramos quando restringimos a discussão apenas no investimento financeiro de um país na Educação. À exemplo, apesar do abismo que separa os índices educacionais brasileiros e israelenses, há um dado que nos aproxima: ambas as nações investem por volta de 5,7% do PIB em seussistemas educacionais.
Este olhar cuidadoso com o aluno teve seu primeiro grande passo em Israel com a criação da Escola Democrática de Hadera, em Haifa, onde, em 1987, um grupo de pais e educadores criou uma escola inovadora: a proposta era organizar um espaço de ensino que garantisse o direito de escolha do estudante sobre o que aprender e como aprender, bem como na experiência cotidiana daquela comunidade. Em funcionamento desde então, a escola hoje pertence ao sistema educacional israelense e atende crianças e jovens de quatro a 18 anos de idade.
Nossa comunidade, que sempre foi influente nas importantes decisões e políticas públicas brasileiras, pode usar a experiência de Israel como exemplo de integração de políticas públicas e acompanhamento individualizado do aluno. Na cidade de Ramat-Gan, região metropolitana de Tel Aviv, por exemplo, a Secretaria Municipal de Educação usa a tecnologia para acompanhar em tempo real por meio de indicadores o desempenho dos alunos em cada uma das áreas do conhecimento e do convívio social, sendo possível identificar eventuais problemas na escola que tenham relação com sua vida social e em família.
É claro que temos que considerar as características históricas, geográficas e culturais que distanciam as realidades brasileiras e israelenses, mas o que se propõe neste artigo não é pontuar as razões pelas quais nossos sistemas educacionais são tão diferentes, mas, sim, chamar atenção para soluções inovadoras desenvolvidas em Israel – com quem já enxergou há muito tempo a necessidade do olhar intersetorial dentro da escola e com quem temos importantes laços de amizade e cooperação – que possam também ser aplicadas no Brasil.
Floriano Pesaro
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