Évora é «cidade-lanterna» em matéria ambiental
O laboratório vivo para a descarbonização, um plano municipal de adaptação às alterações climáticas e a requalificação do Aqueduto da Água de Prata são alguns dos projectos em curso no Município eborense.
Mensagens deixadas nas várias manifestações realizadas hoje, a propósito da chamada Greve Climática Global, levam a acreditar que nada se está (ou tem vindo) a fazer a favor do ambiente e contra as alterações climáticas. Mas uma incursão pelo Município de Évora (CDU) prova que não é bem assim.
Entre Janeiro de 2015 e Dezembro de 2016, a autarquia integrou o grupo de 26 municípios-piloto que responderam ao concurso lançado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), no âmbito do projecto ClimAdaPT.Local, com vista à elaboração da Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas.
Os projectos implementados são muitos, variados e entrecruzam-se. Um dos últimos, apresentado no passado dia 20 de Setembro, chama-se POCITYF (Positive Energy CITY Transformation Framework) e tem como objectivo tornar a cidade mais auto-sustentável e amiga do ambiente.
Ao AbrilAbril, o vereador Alexandre Varela explica que o POCITYF visa criar um conjunto de Positive Energy Blocks - áreas geograficamente delimitadas com uma produção local renovável superior ao consumo, em termos de média anual - nas cidades-piloto de Évora e Alkmaar (Holanda), bem como nas respectivas cidades-seguidoras de Granada (Espanha), Bari (Ιtália), Celje (Eslovénia), Ujpest (Hungria), Ioannina (Grécia) e Hvidovre (Dinamarca).
Com a implementação dos referidos Positive Energy Blocks, acrescenta, o POCITYF pretende transformar o tecido urbano dessas cidades, com enfoque nas áreas cultural e historicamente protegidas, em locais mais sustentáveis, saudáveis, acessíveis e fiáveis para os seus cidadãos. Porque não se pode falar de ambiente sem ter em conta as pessoas.
O projecto é desenvolvido em quatro linhas de transição energética de actuação. A par de soluções inovadoras para tornar o saldo energético positivo nos edifícios e nas áreas urbanas, e de um sistema de gestão que permita garantir o armazenamento de energia para posterior utilização no reequilíbrio da rede, visa implementar soluções que melhorem a integração da mobilidade eléctrica na rede de distribuição eléctrica da cidade, tal como a co-criação de soluções que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos e a eficiência energética da cidade.
O POCITYF terá uma duração de 60 meses e um investimento total de 22,5 milhões de euros, destinado na sua maioria «às cidades-lanterna». A portuguesa irá beneficiar de um investimento de 9,8 milhões de euros para o total dos parceiros que trabalharão para Évora, sendo que a maior fatia (8,1 milhões de euros) será financiamento entregue pela Comissão Europeia. Concretamente, a autarquia receberá uma verba de 1,15 milhões de euros destinada à subcontratação para a instalação de equipamentos a fornecer pelos parceiros (488 mil euros), para custos directos com pessoal (414 mil euros) e para outros, directos e indirectos (251 mil de euros).
Um «laboratório vivo» para reduzir CO2
No POCITYF integram-se e entrecruzam-se outros projectos ambientais como o Laboratório Vivo para a Descarbonização em Évora. A ideia é transformar o Centro Histórico de Évora num «laboratório» onde se testem soluções tecnológicas com vista à redução das emissões de gases com efeitos de estufa.
Segundo a autarquia, estes testes serão desenvolvidos essencialmente na área dos transportes e mobilidade sustentável e da eficiência energética do espaço colectivo. Em termos concretos, o trabalho passa, por exemplo, por encontrar formas mais equilibradas ambientalmente de efectuar a distribuição logística no Centro Histórico, disponibilizar informação em tempo real sobre percursos ou estacionamento, de forma a evitar engarrafamentos, ou gerir a iluminação da cidade, regulando a intensidade da iluminação consoante as necessidades do momento.
Destaca-se ainda a utilização, ao nível do transporte público e de mercadorias, de veículos eléctricos que irão ser equipados com dispositivos de recolha de dados úteis para a revisão dos planos de urbanização e de mobilidade de Évora.
As soluções que se mostrarem viáveis poderão ser implementadas no concelho e servirem de exemplo para outras cidades nacionais e estrangeiras.
Reabilitação do Aqueduto da Água da Prata
Um exemplo é, desde já, o aproveitamento da água proveniente do Aqueduto da Água da Prata, enquanto forma de mitigar o impacto das alterações climáticas. O projecto de recuperação do aqueduto, subsidiado em 60% pelo programa LIFE da Comissão Europeia, terá a duração de quatro anos e meio.
Tendo em conta que não se prevê a sua utilização para consumo humano, o objectivo é, por um lado, reduzir os gastos municipais relativamente ao consumo de água da rede pública para rega dos espaços verdes e, por outro, diminuir a dependência que a rega de espaços verdes tem na rede pública de água tratada.
A reabilitação dos poços e nascentes do aqueduto, que há 480 anos começou a levar água à Praça do Giraldo, no centro da cidade de Évora, permitirá ainda uma adaptação das áreas verdes urbanas a soluções eficientes no uso da água e da energia.
A par das questões ambientais, há aspectos de poupança que merecem ser tidos em conta. Segundo cálculos da autarquia, o projecto permitirá, entre outras vantagens ambientais, poupar cerca de 120 mil metros cúbicos de água tratada e reduzir o consumo de energia através do fornecimento gravítico de água a 50% das áreas verdes urbanas, estimando-se uma redução de emissão de CO2 na ordem das 2,16 toneladas anuais.
Atento à redução das emissões de CO2 e à promoção da eficiência energética, o Município de Évora aderiu ao «Pacto de Autarcas», compromisso europeu com vista a atingir uma redução de 20% dos consumos energéticos e das emissões carbónicas já no próximo ano.
TÓPICO
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89vora#/media/Ficheiro:Evora-RomanTemple.jpg
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