Histórias do Recife: O antigo Posto 2
Clóvis Campêlo
Diferentemente dos demais antigos postos salva-vidas remanescentes, que ficam no calçadão, o antigo posto 2 foi construído nas areias da praia da Boa Viagem, em frente ao Edifício Califórnia e ao Segundo Jardim.
Nele, a temática utilizada para a sua ornamentação focou a situação da mulher negra na sociedade recifense. A grafitagem é de autoria do artista plástico Adelson Boris.
Coincidentemente, ao seu lado, um homem negro que sobrevive no mercado informal da beira da praia vendendo queijo assado, prepara a sua mercadoria para a batalha da sobrevivência diária.
Aliás, diga-se de passagem, nos finais de semana, as beiras das praias recifenses transformam-se num verdadeiro mercado persa onde se compra quase tudo, desde comidas e roupas até objetos ornamentais diversos. Aliás, os excluídos do mercado formal de trabalho servem aos cidadãos da classe média melhores situados na pirâmide social. Afinal, o sol nasceu para todos.
O Recife, aliás, sempre foi reconhecido como a cidade dos mascates. Aliás, sobre o tema, transcrevemos abaixo parte da monografia feita por Maria de Lourdes Carneiro da Cunha Nóbrega, sobre o assunto, visando não só entender o seu aspecto histórico, como também transportá-lo para os dias e as situações de hoje: "A cidade do Recife, entreposto comercial quando colônia, devido a sua geografia portuária, tem uma relação estreita com as atividades de comércio e serviços e as dinâmicas pertinentes a estas atividades como transformadoras do espaço urbano desde a sua formação. Com um comércio inicialmente mercantilista, no século XVI, devido à exploração de madeira e cana-de-açúcar, mas que, com o seu crescimento, muito rapidamente, tornou-se palco de um intenso comércio varejista, (imigrantes portugueses, holandeses, ingleses e franceses muito contribuíram para tal) a cidade dos mascates ainda guarda, no seu núcleo central de colonização, os bairros do Recife, Santo Antônio e São José, aspectos polarizadores de um forte e crescente comércio e serviços varejistas".
Hoje, diante da crise econômica e social, são os excluídos que, na busca fremente pela sobrevivência, desempenham o papel de mascates modernos. E embora não seja mais o vigor da economia local que os impulsiona, e sim o seu inverso, tornam legítimas essas atividades, muito embora nem sempre sejam atividades reconhecidas pelo poder público oficial.
Viver e sobreviver é um direito inerente à condição humana. O trabalho digno e honesto é o principal instrumento para que aconteça essa realização, seja nas áreas da cidade abandonadas pela edilidade, seja nas áreas mais nobres onde a classe média exercita o seu lazer.
Na praia da Boa Viagem, não poderia ser diferente.
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