Pensatas do inverno de 2018

Pensatas do inverno de 2018

 

"Silas porque firo"

- "Dalai Brahma" Silas e suas "siladas"

 

"Houve um tempo em que as vidas não estavam escritas" - A Cidade Transparente

Ana Alonso Javier Pelegrin Pere Ginard

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01-Muitas vezes tentei escrever sobre o que não sabia nada, sobre determinado assunto delicado ou difícil, e que para mim era totalmente desconhecido. Quando consegui, depois de angustiosa busca, e tendo que lidar com isso, fiz a diferença. Era aquilo que eu queria dizer, expressar, deixar meu cérebro de pensar e sentir, vazar em palavras no dizível e no nominável. Afinal, estou sempre tentando o impossível, e a ideia era escrever sobre coisas que ninguém pensava que alguém poderia escrever. É isso que nutre e baseia o meu, digamos, instinto criacional.

02)-Levei quase a vida inteira para, treinando feito um louco, estudando feito um cego, pesquisando feito um escavador, a determinadamente ler e reler feito um desmiolado, para assim tentar escrever bem, não necessariamente bonito, claro, mas até mesmo assustável, que o seja. Passado de décadas em tentativas erradas, certas ou mesmo próximas do perigo, do limite do humanamente aceitável e até de tentativas de abismos, sinto que pelo menos agora estou a meio caminho da metade do aprendizado e das lições e loucas cicatrizes e sequelas dessa busca alucinada.

03-A única diferença entre um louco, um pensador e por assim dizer um sentidor que cria como se com um surto circuito inevitável, é que o louco customizado transforma não água em vinho, mas angústia, solidão e subterrâneos em artes terrivelmente humanas, mesmo que, às vezes, não sejam compreendidas no senso comum do entendimento emergente simples, comum, raso e trivial.

04-Há sempre um tenebroso momento na estrada de tijolos amarelos da vida, em que quase ao alvar do fim da jornada, que descobrimos que na verdade e na realidade não sabemos nada de nada, que tudo é efêmero, e que a própria difícil sobrevivência possível não faz sentido.

05-Hoje eu mal e porcamente vivo como se já tivesse pago grande parte da dura pena à qual fui condenado a viver esse terrível existencialização no plano terrestre. Será que conseguirei fugir - pelo menos na arte que seja (a arte como libertação) - a outra parte da minha cota do inferno de tudo o que me resta dessa dolorosa sentença?

06-Por bom e profundo conhecedor de estética e de graciosos atributos da beleza algo mágica e ao mesmo tempo também algo numinoso que há na mulher e mesmo nos atributos de um ser humano sábio e iluminado, é que ainda não me matei. E não foi falta de motivos ou coragem. Sempre fui feio, e tendo perene consciência disso, destetaria ser um mutilado cadáver feio...

07-Toda deplorável guerra é suja, inútil e infame. Mas gera altos lucros, mesmo produzindo monstros oficiais de totens insanos. Infelizmente e historicamente é próprio da raça humana a volúpia torpe do lucro, do poder, da máquina multinacional da corrupção, com a violência generalizada, mesmo que ao mesmo tempo seja um escárnio contra a vida e contra a vilipendiada civilização propriamente dita.

08-Quando leio alguns certos poemas datados meus, tenho medo, muito medo, um certo medo estranho e silente como se contemplando um espelho retrovisor de um acuado lobo ferido, o que redunda até em uma certa vergonha de ter conseguido sobreviver depois de escrevivê-los...

09-Catedrais, bancos, palácios, estações espaciais bélicas, essa acabou sendo a contemporânea filosofia miserável da civilização negando-se à si mesma, negando à vida pura, negando o amor e a própria ética plural-comunitária de todos por todos...

10-Às vezes me sinto um pobre estrangeiro em campo minado de tantas areias movediças. É nessas horas que escrevo feito um louco as artérias imprudentes de minha arguta sensibilidade ferida.

11.A única grande ambição de minha vida de uma espécie assim de camelo errante, era me tornar melhor como ser e como humano, como cidadão até, antes de deixar essa gaiola da vida. Não sei se consegui, não somei e nem contabilizei ainda. Mas as vezes sinto que nem mesmo deve ter valido a pena o que eu inocente e puro pensava ser como humano e até de vencer com as mãos limpas num mundo de impropriedades legais, lucros impunes, riquezas injustas, propriedades roubos.

12.Quando paro para pensar, é quando tenho medo, muito medo, um quase instintal medo-rabo, do que essa civilização se tornou como um escárnio generalizado num sistema de aparências e estrumes com falsas grifes de humanos...

13-As lágrimas de sangue secam e morrem ao longo da longa estrada de tijolos amarelos... As poucas lágrimas secretas que ainda conseguimos sustentar e que produziram mudanças radicais nas nossas nebulosas trilhas e veredas, já não fazem muito sentido porque em meio ao caminho impuros e duvidosos perdemos a verdadeira essência do verbo viver.

14.Para ser lírio livre, é preciso se imolar nos moinhos da arte. E um peixe num liquidificador ainda é sangue berrando contra a opressão de uma sociedade infestada de morcegos, marionetes e zumbis...

15. Quando mais ignoro tudo e me revolto como resultante, mais escrevo, escrevo. Aberrações e mediocridades podem ser ditas com poemas desvairados, com ironias destrambelhadas, ou mesmo em rampas de vazadouros enlivrados em artes como chorumes de escuridões intimas.

16.Hoje eu sou tudo o que eu não tenho. E o que desesperadamente consegui foram remorsos, imprudências, sequelas, escárnios dantescos e marcas profundas e incuráveis de tentar desesperadamente e forçando muito, me parecer humano, o que parece que nada valeu a pena dentro do próprio sacrifício existencial...

17.Eu, a bem dizer, ou a mal dizer, particularmente, mentalmente e intimamente me considerei morto, no terrível momento em que descobri que a maldita morte existia e fazia parte do completo kit básico da vida humana, da espécie humana. E eu era muito pequeno, inocente e puro para o momento que aturdido e muito menino de tudo em assombro, descobri. Desde esse dia vegetei a procurar sobras de instintos afetivos para ter razão de como e porque prosseguir... Depois também fui morrendo em farpas, negras sedas espúrias, e aos poucos, a cada morte, cada arrebentação, como um abatimento, a prestação em dezelo íntimo a ser acurado... A morte de meu Pai me tirou o pouco do eixo já torto. A morte de minha mãe me rasgou a pele fermentada do espírito atribulado. A morte do meu filho me desintegrou de mim.  Restos de restos é o que me cobre, me envolve, como um manto fúnebre de folhas secas de antigas eras... O que sou ou o que não sou, já não faz sentido, e assim, como uma lasca, um graveto, um farrapo, um lesmo com aparência sustentável no vazio, eu ainda rastejo pela vida também me achando um morto em muita coisa que não cabe em mim, não cabe em si, e por isso, perdoem, se vcs me enxergam, deve ser um espectro do que já fui, já foi, ou, pior, nunca foi, nunca chegou a ser inteiro, completo e exato a ser isso ou aquilo, o que quer que seja, sequer alguma coisa...

18.Se existir, requer poder pelo poder, a qualquer preço, a qualquer custo, peça a um homem. Se quiser qualidade humana, depositem seus sonhos e lágrimas nas mãos de uma mulher. Com digo num microconto: "Deus disse, Haja LUZ! E então nasceu a mulher".

19.A pior ilusão do ser humano, é achar que será salvo, o que quer que isso signifique, quando EXISTIR não tem perdão e nem saída.

20-Eu não sou poeta. As vezes sou só mesmo uma cápsula de TNT estragado, vencido. Só sustento sentido no que escrevo quando vazo o que já não cabe em mim. Quando desesperadamente crio, movo dínamos e direções contrárias a mim mesmo e ao entendimento possível de mim...

21-Cada vida é uma visão do mundo. Caso não gostem do envelope lacrado que me tornei, posso tentar virar pássaro de papel, e com tantas histórias de diferentes versões, erratas, razões ou entendimentos, enviar mensagens para alertar o futuro informando que não há no futuro.

22-A civilização que poderia ser um templo, na verdade é um cemitério de atrozes marcas, enormes calvários, bobas lendas, como sempre com mitos em vernizes de retalhos...

23-A chamada classe média brasileira é um estorvo das curvas da história, sendo a mais medíocre do Planeta, um depósito de errações ancestrais, até essa verdadeira aberração numa evolução que se esperava, não houve e certamente nem nunca haverá...

24-Triste exilio é aquele em que confiscamos nossa liberdade assistida para fazer parte da espúria banda dos contentes, que está condenada a ser usada como bucha de canhão nas relações de trocas entre hordas, antros e covis de salteadores.

25-Só uma hecatombe mundial sem precedentes, e quase terminal, para renascer a esperança frágil de um outro novo mundo possível. E então os chamados seres humanos não mais existirão.

26-A paz não dá lucro. Nunca haverá paz inteira e completa. O câncer dá lucro. Nunca descobrirão a cura; o mercado de ações agradece. A fome, a diarreia e a miséria só destroem os humildes, então nunca buscarão solução para esse problema...

27-Os refugiados são o atestado de que a raça humana não vale a pena.

28-A única saída é que não há saída. Fora isso, estamos todos no mesmo buraco, e o inferno ainda treina seus monstros que um dia virão no desjejum de uma última manhã tomar cicuta conosco.

29-O mundo atual está dividido entre os que sabem, os que não sabem, e os que acham que sabem. Só muitos estudos, muitos cursos, variadas releituras e grandes pesquisas, dá a ideia de cada um segundo o seu verdadeiro estatuto de profundo conhecimento mesmo. E, pior, muito pior, os que acham que sabem e não sabem, é que estão no comando, arrotando grandezas para manadas...

30-Quando você acorda, e fica muito triste, por não ter morrido enquanto dormia, dá uma estranha sensação de inutilidade da vida e de isolamento do real, pois parece que vc já morreu e esqueceram de enterrar com o devido atestado de irracional.

31-O vazio que sentimos quando pensamos a espécie humana, nada mais é do que um íntimo sopro instintal de nosso mecanismo de defesa na área de ignorância total abrangente, dizendo que o sentido da vida acabou, e que apenas mal-e-mal se sustenta na tese emergencial de sacarmos o que na verdade historicamente nunca conseguimos ser...

32-A vida não é bela e nem perfeita na sociedade, não nos iludamos. Nós é que somos treinados desde que nascemos na urbe para só nos movermos segundo os ciclos e regras uniformes, controladas, e quando, aqui e ali, sacamos algo, é porque não estamos tomando a nossa dose certa de ração para aceitarmos pacificamente uma realidade substituta que nos sustém e nos controla.

33-Como a Terceira Guerra Mundial já começou, e apenas não foi declarada, talvez nos reste ainda algum tempo aceitável para estocarmos sangue, lágrimas e cérebros de macacos bonobos para uma futura sobrevivência possível num outro novo elo de modo primitivo para uma nova tentativa de sistemizada evolução com qualidade.

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Da Série "FILOSOSILAS", E SUAS "SILADAS" SISTÊMICAS. O Livro de Silas. Choro e ranger de dentros...

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Silas Corrêa Leite

Ciberpoeta, Blogueiro e Escritor premiado, membro da UBE-União Brasileira de Escritores.

Jornalista Comunitário e Conselheiro Diplomado em Direitos Humanos.

E-mail: poesilas@terra.com.br

AUTOR DE TIBETE, De quando você não quiser mais ser gente, Romance, 2017, Editora Jaguatirica, RJ

Foto: https://en.wikipedia.org/wiki/File:CathedralofLearningLawinWinter.jpg

 


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Pravda.Ru Jornal