Brasília (Prensa Latina) O atentado a tiros perpetrado contra a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou o que não poucos previram ocorreria depois do golpe parlamentar-judicial de 2016: o alarmante avanço do Brasil pela tortuosa trilha do fascismo.
Por Moisés Pérez Mok *
Três impactos de bala sobre dois ônibus da caravana Lula pelo Brasil, cuja marcha tentaram também frear espalhando sobre a estrada pregos torcidos (conhecidos aqui como 'miguelitos') para perfurar os pneus, ficaram como a mais recente evidência da premonição.
O perigoso incidente, por sorte sem vítimas, produziu-se entre as localidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, no estado do Paraná, e sua suposta autoria foi apontada a milícias fascistas ligadas ao pré-candidato presidencial de extrema direita Jair Bolsonaro (Partido Social Liberal), que agiram com a conivência da polícia local.
'O atentado à caravana de Lula é o mais grave episódio desse gênero desde o ainda inexplicado acidente automobilístico que provocou a morte do presidente (Juscelino) Kubitschek, na Via Dutra, em 1976', avaliou em um artigo publicado no Brasil de Fato o jornalista João Paulo Cunha.
Não há como amenizar a gravidade do fato, pois foram tiros, não palavras ou mensagens covardes postadas na internet, ressaltou João Paulo, e recordou que em dias prévios ao atentado, a caravana e seus seguidores sofreram várias ações violentas, entre elas o ataque no Rio Grande do Sul contra quatro mulheres que terminaram hospitalizadas.
Vale também recordar que inclusive antes da quarta etapa do projeto Lula pelo Brasil ser colocada em marcha, no dia 19 de março, no município gaúcho de Bagé, a Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) advertiu em uma declaração sobre a escalada de violência e autoritarismo no país.
A cada violação dos direitos individuais e coletivos vai impondo-se um Estado de exceção no país, encoberto pelo discurso do ódio e da intolerância, assinalou o texto, e sublinhou que é nesse ambiente opressivo que o governo golpista de Michel Temer vai implantando sua agenda de retrocessos.
GRAVE AGRESSÃO EM UM MOMENTO DIFÍCIL
Para a deposta presidenta constitucional do Brasil, Dilma Rousseff, o ataque com armas de fogo lançado contra a caravana de Lula 'é grave e ocorre em um momento difícil' para o país.
Já não estamos nos anos 50 do século passado, ou na ditadura militar, quando a eliminação física de adversários políticos era uma constante no Brasil e na América Latina. Essa prática não pode ser tolerada, sublinhou a ex-chefa de Estado em uma mensagem difundida através das redes sociais.
Dilma ratificou também que tais agressões 'não vão intimidar os democratas e militantes políticos', e advertiu que 'o fascismo é intolerável e será denunciado por todos nós que acreditamos na justiça social e na política como instrumento de transformação da realidade'.
De fato, em uma coletiva de imprensa oferecida dias após os acontecimentos no Rio de Janeiro, junto ao ex-chanceler Celso Amorim, denunciou que os agressores integram 'verdadeiras milícias', facções armadas da extrema direita, e disse que estes são resultado do recrudescimento do golpe que a retirou da Presidência em 2016.
Segundo sua avaliação, são precisamente esses grupos radicais os que estão dando o tom à política no campo conservador, disseminando o ódio.
O monstro no Brasil saiu da caixa e é a extrema direita, que não tinha voz e hoje tem, e também representação; ela e esses movimentos ultradireitistas como o MBL (Movimento Brasil Livre) são representados por Bolsonaro, afirmou, e alertou que 'é a intolerância contra tudo e contra todos'. Para Dilma, essa tendência autoritária se vê agravada no Brasil porque se combina com um histórico passado escravista.
O exemplo mais claro dessa conjugação entre as tendências fascistas de hoje e o passado escravista é a utilização do chicote por parte desses grupos e milícias, que o empregam para açoitar os que se posicionam diferente politicamente, ilustrou.
Por sua vez, e em um comentário publicado no diário digital Brasil 247, o analista Paulo Moreira Leite afirmou que os tiros que atingiram a caravana de Lula em seu percurso pelos estados do Sul devem inspirar uma profunda reflexão sobre o novo nível alcançado pela violência política no país.
Nessa escalada inscreve-se também a cruel execução no Rio de Janeiro, apenas duas semanas antes, da defensora dos direitos humanos e vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) Marielle Franco, considerado como o primeiro assassinato político ocorrido durante o atual governo.
'Sabemos que a resistência democrática entrou em uma nova fase, marcada pelo desafio da violência aberta', sustentou Moreira Leite, e advertiu que 'os riscos de um atentado contra a vida de Lula não podem ser minimizados nem por um minuto'.
Esclareceu, no entanto, que os cuidados que se tomem daqui pra frente com a segurança do fundador do PT não podem, em momento algum, levar a uma fragilização dos vínculos de Lula com o povo.
As caravanas representam desde sua primeira etapa 'um esforço de mobilização da população para retornar à democracia e reforçar a única candidatura capaz de vencer o consórcio jurídico-midiático responsável pela descomposição de uma democracia duramente conquistada após 21 anos de ditadura militar', sublinhou.
Durante a recém finalizada quarta etapa do projeto Lula pelo Brasil, o ex-presidente denunciou que a caravana foi 'perseguida por fascistas e grandes proprietários de terra' e acusou a Rede Globo de ser 'o estimulador do ódio' no país.
Manifestou também não ter nada contra a operação anticorrupção Lava Jato, mas contra as mentiras das quais é vítima todos os dias e que o levaram a ser injustamente condenado; ratificou que ele já provou sua inocência ante a justiça, e reiterou seu desejo de competir nas urnas em outubro próximo.
Nunca como agora estou tão entusiasmado com a ideia de voltar a ser Presidente da República, para poder recuperar a autoestima e a soberania do país; para voltar a investir na educação, gerar empregos, reanimar a economia, e para que o povo 'volte a sonhar, ter esperança e acreditar no futuro', assegurou.
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