Alerta da OMS sobre o risco de câncer chocou os fãs de carne processada, sobretudo os alemães, amantes da "Wurst". Assunto ganhou espaço nas redes sociais, sendo muitas vezes alvo de piada.
Nas pirâmides alimentares publicadas pelos órgãos de saúde estatais, há décadas a carne ocupa um cantinho bem tímido, abaixo dos doces. Já deveria ser conhecido, portanto, o fato de que grandes quantidades de presunto, toucinho ou linguiça não contribuem para uma alimentação saudável.
Ainda assim, o recém divulgado relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o risco do câncer relacionado às carnes processadas desencadeou reações veementes entre os carnívoros de todo o mundo, sobretudo na Alemanha.
Entre a Wurst (embutidos em geral), o Speck (bacon) e o Schnitzel (bife empanado), um alemão consome, em média, mais de 160 gramas de derivados de carne por dia. Isso significa toda uma nação sob ameaça de câncer? No futuro só se deve então consumir fatias fininhas - ou até renunciar de vez?
"NÃO!", exclamou em caixa-alta Alex van Vught, na página da DW no Facebook. "Somos alemães, e nossa alimentação é composta por carne processada." Marco Turzi, da Itália, acode em seu apoio: "Deixem-nos ficar com o bacon e, em vez disso, acabem com a OMS."
A alemã Heidi Hensges comentou no Twitter: "Uma vida sem leberwurst [patê de fígado] é possível, mas sem sentido."
A Organização Mundial da Saúde tampouco vai alterar os hábitos de Amira Scipione: "Pão da Francônia com leberwurst, presunto de Parma, presunto defumado da Floresta Negra...", a seguidora da DW vai enumerando sem censuras as suas preferências gastronômicas.
O porco nosso de cada dia
Um indicador seguro do interesse pela nova polêmica é o aparecimento na rede de neologismos e hashtags como #wurstgate ou #wurstcasescenario. Mas, pelo menos nas redes sociais, até agora os negadores da carne parecem estar em minoria. Também entre os seguidores da DW, não são muitos os que se mostraram grandemente impressionados com as advertências da OMS.
Uma das exceções é Kaks Emmanuelz, de Uganda, em cuja opinião é "mais do que hora" de a humanidade passar consumir menos carne e mais produtos vegetais. E numa enquete não representativa proposta pela DW , cerca da metade dos participantes manifestou a intenção futura de passar a comer menos carne.
As motivações para uma eventual mudança de hábitos são as mais variadas: medo do câncer intestinal; preocupação em relação ao alto consumo de recursos envolvido na produção de carne; compaixão pelos sofrimentos que as formas modernas de criação em massa causam aos animais.
Há também os que receiam a condenação social, pois em algum momento pode ser que quem saboreia despreocupadamente o seu hambúrguer em público passe a ser olhado de lado por seus semelhantes - quase como um fumante num playground infantil.
Problema de luxo?
Em meio a tantas piadas, o clima ainda não parece apropriado para uma discussão séria na rede sobre o consumo excessivo de carne em certas partes do planeta. Afinal, argumenta Leonard Sikanyika, da Zâmbia, na página da DW no Facebook, até o momento esse é um problema de luxo para poucos.
"Para nós aqui, esse é um estilo de vida que só uma elite pode se permitir", enquanto outros milhões nem conseguem lembrar qual foi a última vez que comeram um presunto. "Isso é para os países industriais, e não para a gente do Terceiro Mundo", critica o zambiano.
Andrew Sturman se move entre a resignação e a revolta: "O que não é cancerígeno?", pergunta, retoricamente. Rosemarie Hughey dá uma resposta imediata e fácil: "Continuar comendo. A vida é perigosa, mesmo."
De um outro usuário do Twitter parte uma sugestão ainda mais radical de como lidar com as alarmantes constatações científicas: ignorar solenemente. Então, "quando alguém tenta me dizer que bacon causa câncer", Zach Edwards nem liga.
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