Dia 16/8 aconteceu mais uma tentativa de incendiar as ruas nas grandes cidades brasileiras, a qual, como hoje se sabe, deu em nada. Dani Rodrik comenta o quadro geral no Brasil, em Project Syndicate, em 13/8/2015, em "De volta aos Fundamentos nos Mercados Emergentes" (ing.).
Rodrik[1] com certeza acerta em pelo menos uma das razões pelas quais os panacas golpistas de ontem (literalmente), são os panacas sem golpe e sem futuro, de hoje (idem):
"Comparem o Brasil com outros mercados emergentes. Dentre esses países, pode-se dizer que o Brasil é o país que foi atingido pelo ataque mais violento. O escândalo a propósito da corrupção na principal empresa nacional brasileira, a Petrobras, produziu crise econômica, com a moeda despencando e o crescimento suspenso.
Pois essa mesma crise comprova a maturidade democrática do país e é, pode-se dizer, sinal de força e de estabilidade, não de fragilidade e instabilidade. Os procuradores investigaram o quanto quiseram, quem bem entenderam, até as faixas mais privilegiadas da sociedade brasileira e também do governo - absolutamente sem qualquer interferência política. E sem que o processo tenha-se convertido em caça às bruxas. Aí está exercício democrático da justiça que bem poderia ser tomado como lição por muitos países supostos avançados.
O contraste entre isso e, por exemplo, a Turquia, não pode ser mais impressionante. Na Turquia, corrupção de magnitude muito superior, que implica diretamente o presidente Recep Tayyip Erdoğan e sua família, lá permanece, hoje como antes, inabalável. A única tentativa para investigar Erdogan, em 2013, nada teve de exercício democrático e tinha clara motivação política (comandada por inimigos de Erdoğan no movimento de Fethullah Gülen, pregador islâmico autoexilado). A motivação política deu a Erdogan a chance de que precisava para desqualificar a investigação" (Dani Rodrik, 13/8/2015, Back to Fundamentals in Emerging Markets").
Introdução acrescentada pelos tradutores.
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PASSOS DE CIA, FBI, NSA & todos os homens do rei, decifrados
(...) Gene Sharp, em "From Dictatorship to Democracy" (1994) [Da ditadura à democracia] lista 198 ações não violentas tradicionalmente mobilizadas em todo o mundo contra governos legítimos, e que podem ser formuladas, resumidamente, do seguinte modo:
Passo 1: Intoxicar a opinião pública com desvantagens, reais ou imaginadas, usando a mídia-empresa, enfatizando dificuldades que há em todo o mundo capitalista, como se fossem 'exclusividade' de cada país atacado. A mídia-empresa trabalha para promover o descontentamento, enfatizando dificuldades como déficit, crimes, sistema monetário instável, governos 'sem capacidade para governar' e, claro, uma corrupção que só existiria, "em tal nível", em cada um dos países que esteja sendo atacado. [No Brasil, a coisa já tem até nome - "Complexo de Vira-lata". Quer dizer: aqui já fomos completamente convencidos de que somos nós, os brasileiros pobres, os culpados pelas desgraças que nos afligem (NTs)].
Passo 2: Demonizar autoridades eleitas, mediante a manipulação de preconceitos, dizendo, por exemplo que todos os brasileiros (russos, chineses; mas nunca, nunca, todos os norte-americanos; ou demonizando todos os pobres; mas nunca, nunca, todos os ricos); mediante 'atos públicos' para defender (i) a liberdade de expressão (que as elites sempre consideram que estaria ameaçadíssima em governos legitimamente democráticos); (ii) direitos humanos e liberdades civis; (iii) contra a 'ditadura' de governo popular democraticamente eleito (que as elites sempre consideram 'autoritário'); e, em geral, reescrevendo a história a favor das forças que anseiam por voltar ao poder.
Passo 3: Trabalho nas ruas. Canalizar conflitos, promovendo a mobilização de qualquer oposição; desenvolver plataformas de combate que englobem todas as demandas políticas e sociais, 'unificar' todos os tipos de protestos, jogar habilmente com erros e dificuldades do estado/governo; organizar manifestações que impeçam a ação das instituições do estado; capturar as instituições do estado, para forçar a radicalização dos confrontos.
Passo 4: Combinar diferentes formas de luta: organizar piquetes e capturar simbolicamente as instituições do estado; guerra psicológica conduzida pela mídia-empresa, com promoção de confrontos com a polícia, para criar a impressão de que o governo nada controla, desmoralizar o governo legítimo e suas agências de serviços policiais.
Passo 5: Encenar um golpe institucional, movido a protestos de rua, sempre 'exigindo' a renúncia do(a) presidente(a).
Em que estágio está a revolução colorida em andamento no Brasil hoje? Cabe ao leitor decidir.
A situação vai sendo agravada artificialmente bem diante de nossos olhos, e parece que as autoridades do governo do Brasil estão dedicadas a fingir que não veem as atividades da inteligência dos EUA, aí, bem no nariz de Brasília. No Brasil, a CIA, a Agência de Combate ao Tráfico de Drogas, DEA-EUA, e o FBI operam legalmente, sob o disfarce da luta contra o tráfico de drogas. E há ONGs e fundações que existem para patrocinar revoluções coloridas que também estão operantes no país.
O jornalista venezuelano Jose Vicente Rangel noticiou que cerca de 500 funcionários de agências de inteligência dos EUA chegaram às embaixadas dos EUA na Venezuela, Bolívia, Argentina, Brasil, Equador e Cuba, para trabalharem em rede e desestabilizar regimes democráticos nesses países. O que acontecerá depois? Não é preciso adivinhar: basta ver o que foi feito da Ucrânia. *****
Dani Rodrik é professor de Economia Política Internacional na Escola de Governo John F. Kennedy da Harvard University. É autor de One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth e, mais recentemente, The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy[O paradoxo da globalização: Democracia e futuro da economia mundial [NTs].
PASSOS DE CIA, FBI, NSA & todos os homens do rei, decifrados
13/3/2015, Lyuba Lulko, Pravda, Moscou (em russo e em inglês) (excertos)