Não olhem agora, mas Washington acaba de piscar. Como documentamos exaustivamente ao longo da semana passada, a pressão crescia sem parar na direção de forçar os EUA a ter modos e falar em tom mais conciliatório com a China, sobre o Novo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura controlado pela China, instituição pensada para fazer concorrência ao Asian Development Bank (ADB) controlado por EUA e Japão. A decisão de Grã-Bretanha, de unir-se à China nesse negócio estimulou vários países ocidentais a se apresentarem como aspirantes a sócios, antes de encerrado o prazo para essa apresentação, dia 31 de março próximo.
Porque o Novo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura [orig. Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)] realmente representa o começo do fim da hegemonia dos EUA, a Casa Branca centrou seu fogo, desde o início, em pôr em dúvida a capacidade de nações não-G7 para criar instituição confiável, segundo "padrões" supostos adequados. Agora, quando já 35 nações apresentaram-se para serem considerados membros-fundadores, parece que Washington talvez esteja começando a reconhecer a derrota. Mais, das páginas do Wall Street Journal:
O governo Obama, ante o aberto desafio que recebeu de aliados que já se apresentaram em apoio ao novo fundo chinês para desenvolvimento de infraestrutura, está agora propondo que o banco trabalhe em parceria com instituições que Washington apoia, como o Banco Mundial.
A abordagem colaboracional visa a desviar o novo banco para os objetivos econômicos das principais economias do mundo, afastando-o, ao mesmo tempo da possibilidade de vir a ser instrumento da política exterior de Pequim. O potencial do banco, para promover novas alianças e contornar instituições existentes que foram uma das principais preocupações do governo Obama, agora que aliados chaves, entre os quais Reino Unido, Alemanha e França já se apresentaram para ser membros fundadores do Novo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura [orig. Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)].
O governo Obama quer usar bancos de desenvolvimento já existentes para cofinanciar projetos com a nova organização de Pequim. Apoio indireto ajudará os EUA a promover outro objetivo importante: garantir que os padrões da nova instituição sejam desenhados de modo a impedir super endividamentos doentios, abusos de direitos humanos e riscos ambientais. O apoio dos EUA também pode pavimentar o caminho para que empresas norte-americanas participem de concorrências para obter financiamentos do novo banco.
"Os EUA consideram bem-vindas instituições multilaterais que fortaleçam a arquitetura financeira internacional" - disse Nathan Sheets, subsecretário do Tesouro dos EUA para Assuntos Internacionais. - "Cofinanciar projetos com instituições já existentes, como o Bando Mundial ou o Asian Development Bank será garantia de que serão mantidos padrões de alta qualidade, já testados no tempo."
Em outras palavra, é a clássica estratégia de "se não pode vencê-los, junte-se a eles" , disfarçada em tentativa para pôr o AIIB na linha das instituições multinacionais nas quais os EUA mandam.
Mas que ninguém se engane: aí está, no melhor dos casos, um exemplo de Washington tentando controlar perdas; no pior dos casos, é total rendição. Afinal, é óbvio que ninguém supõe que o novo banco chinês, que começa com $50 bilhões de capital, continuará subserviente ao Banco de Desenvolvimento Asiático, japonês, o qual, depois de 50 anos de operação, mal chega a três vezes o que tem o banco chinês na inauguração:
As necessidades de infraestrutura pelo mundo são gigantescas. Países emergentes precisam de novos portos, estradas, pontes, aeroportos e estradas que deem suporte ao crescimento acelerado. Economias desenvolvidas, ao mesmo tempo, têm de substituir a infraestrutura envelhecida. O Novo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura estima que, só nessa região, há demanda de financiamento, por ano, de $800 bilhões. A empresa de consultoria McKinsey & Company estima a demanda mundial de investimentos em infraestrutura até 2030, em $57 trilhões.
Em comparação, o Banco de Desenvolvimento Asiático tem apenas $160 bilhões de capital, e o Banco Mundial, que cofinanciou com outras instituições regionais durante anos - tem em torno de $500 bilhões. O banco liderado pela China planeja começar com um fundo de $50 bilhões.
E, com isso, mais um salto na direção da des-dolarização já apareceu nas cartas.
22/3/2015, Tyler Durden, Zero Hedge
http://www.zerohedge.com/news/2015-03-22/washington-blinks-will-seek-partnership-china-led-development-bank