O erro não está em Rodrigo Janot, e sim no dizer do cartaz (Movimento Limpa Brasil/AFP)
De como a casa-grande e os sábios do jornalismo nativo apontam as soluções erradas para sair da crise
por Mino Carta — Carta Capital
De Rodrigo Janot cabe acentuar o correto desempenho, de sábia prudência, segundo Wálter Fanganiello Maierovitch. Na foto ao lado, o procurador-geral da República sorri com bonomia, como se dissesse “não exagerem”. Reparo merece o dizer do cartaz que Janot exibe para os fotógrafos. No caso, a esperança é malposta.
Se indiciar um mero grupo de cidadãos brasileiros acusados de corrupção, e até condená-los ao cabo do processo que se seguirá, resolvesse o problema central e imediato do Brasil, a esperança teria sentido. Não é assim, porém. A corrupção é mal antigo e crônico. O cartaz em questão resulta da maciça campanha midiática urdida para desestabilizar o governo, alimentada pelo ódio de classe antipetista e pela leviandade e má-fé dos sábios do jornalismo nativo.
Este lamentável e forçado equívoco tem raízes. Por trás está a parvoíce de um país que emburrece progressivamente. Não chamemos em causa o povo, primeira vítima da corrupção e da prepotência da casa-grande, e sim aqueles que encaram o mundo a partir do seu umbigo. E aqui CartaCapital não esmorece na denúncia das responsabilidades do PT, a se mostrar incapaz de agir com independência e criatividade em relação aos andamentos tradicionais.
Todos caem na armadilha que eles próprios montaram, encarada paradoxalmente como única forma de exercício do poder. E é nesta moldura que se agita a crença no impeachment como antídoto à crise, bem como na corrupção de alguns enfim punida, a confirmar a cretinização em marcha, sem intenção de metáfora. Ideia que ecoa o passado para propor o golpe em um país muito diferente daquele dos começos da década de 60 do século passado. Os marchadores do próximo dia 15 talvez apresentem algum parentesco com aqueles de 51 anos atrás, mas o cenário é outro.
Punir a corrupção seria justo e salutar, e emprego o condicional porque ainda aguardo o desfecho desse enredo. O qual está longe de abarcar a corrupção em peso, os humores malignos que percorrem o Brasil do Oiapoque ao Chuí, os maus hábitos mais ou menos generalizados, macunaímicos. De todo modo, o problema central e imediato é a recessão que nos aflige, em meio a uma situação mundial sombria ao extremo.
Há sinais de resistência à austeridade imposta pelos apóstolos do neoliberalismo, nada, porém, indica mudanças profundas a curto prazo, em um mundo que oferece acolhida bem menos generosa à soja e ao minério de ferro do Brasil, eterno exportador de commodities. Sobram uma indústria abandonada, o desemprego, a inflação, a penúria. O índice negativo do PIB.
Igual à comparação precipitada entre a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade e a manifestação do próximo dia 15, outra, francamente inadequada, se dá entre a Operação Mãos Limpas, que mudou os rumos da política italiana, e a Lava Jato. A Itália de 1990 era a quinta economia do mundo, sua indústria gozava de boa saúde, a Justiça provava a sua eficácia e não havia um único, escasso comunista envolvido no episódio, bem ao contrário dos petistas, que, aliás, comunistas nunca foram.
Quando diz que a Mãos Limpas gerou Berlusconi, Lula não erra. Sempre que o campo da política é devastado, na terra arrasada costumam surgir os piores oportunistas. A Itália de então não precisava, porém, de um New Deal, como sustenta CartaCapital, para sair da crise que no Brasil obscurece irremediavelmente os efeitos positivos do governo Lula. E que se origina dos males de sempre, repetidos ad infinitum, em uma sequência tão dolorosa quanto avassaladora.
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