O povo brasileiro vem amargando aos poucos, mas com ataques constantes, sua tranquilidade e o direito de ser livre.
A inflação, afastada depois de longos anos como sendo uma constante nacional, volta a colocar as garras de fora. Amontoam-se golpes contra o tesouro estadual e federal, com o superfaturamento de obras caríssimas, onde a simples reforma de um estádio de futebol chega a 1,5 bilhão de reais.
O governo federal acaba de colocar em funcionamento um computador capaz de monitorar todas as contas da população, e fazer depois um cruzamento com o imposto de renda. Até aí, tudo certo, é preciso cuidado mesmo. Mas o dinheiro arrecadado com impostos é engolido nas falcatruas, especialmente de obras públicas. O saneamento básico não existe, a saúde é caso de polícia, na educação aluno ameaça o professor e os bandidos estão cada vez mais poderosos.
Ora, ninguém suporta isso por muito tempo. O atual enfrentamento com os poderes que não cumprem seu dever mostra a insatisfação geral de todo um povo que vem suportando calado a tirania disfarçada dos governos e seus representantes. Passeatas sucessivas vêm ocorrendo em todo território nacional. Todas pacíficas e compostas, na maioria, por jovens. São reprimidas com excesso de violência pela polícia militar, como nos tempos da ditadura. Interessante que os atuais dirigentes do executivo estadual e federal foram eleitos, mas agem como se fossem ditadores, sem distinção de partidos polà ticos. Agem assim a esquerda, o centro e a direita, e o povo que se dane!
Ora, tudo tem o seu limite de tolerância. O povo está dizendo um sonoro não ao furto da coisa pública, a desordem que atinge os serviços essenciais, ao desrespeito aos seus direitos fundamentais.
O resultado? Não se vê em nenhum rosto de dirigente brasileiro expressão tranquila. Estão todos apavorados.
Jorge Cortás Sader Filho é escritor