HELDER CALDEIRA*
A forte reação da velha cúpula do Partido dos Trabalhadores às condenações de seus diletos "companheiros" pelo Supremo Tribunal Federal revela muito mais que a simples e justa defesa pública de correligionários. A nota oficial divulgada pela Executiva Nacional do PT é uma ode ao autoritarismo, prática que a agremiação partidária sempre mascarou em discursos vestais, na maquiavélica fórmula para disfarçar interesses pessoais e financeiros de seus caciques em anteparos de ética, de honestidade e, sobretudo, de responsabilidade na administração pública.
Quando o ex-presidente Lula da Silva passou a negar com veemência a existência do mensalão e praticamente atestar a legitimidade do caixa dois nos partidos políticos, os brasileiros assistiram o transfigurar dos antigos discursos - tudo em nome da manutenção do poder - passando a respaldar esse "novo estatuto" com ações populistas pedestres. Lula e o PT começaram a justificar e perdoar a corrupção quando praticada em nome de uma "causa", ainda que quase ninguém tenha noção de qual seja ela e a quem possa servir.
Hoje, quando o Ministério Público e os ministros da Suprema Corte utilizam expressões contundentes para classificar os quadrilheiros petistas e a horda de bandidos que participaram do mensalão e dos fartos desvios de recursos públicos, restou ao partido a tentativa de promover alguma comoção na ala fanática - quiçá lunática! - de sua militância, esperando que esta faça uso de atos e movimentos públicos em prol dos futuros "companheiros" presidiários. Querem até criar uma "caixinha" - o "caixa três"! - onde os filiados possam depositar dinheiro para ajudar a pagar as multas milionárias estipuladas pelo STF, as quais o partido legalmente não pode arcar.
O mensalão existiu sim! Desnudou o verdadeiro PT e as práticas mazelares desse partido onde colocou a mão para governar. Fisiológicos, permissivos com a corrupção, ineficientes na execução de projetos básicos e discursistas extremados. São extraordinários palanquistas e especialistas em comemorações de "pedras fundamentais". O lulismo, em tempos de campanha, inaugurou mais de três centenas delas sem que, até hoje, tenham sequer saído do papel. Enquanto tentam comprar a massa com esmolas assistencialistas, abastecem os cofres partidários para sedimentar palanques futuros.
Nada mais difere o PT dos tradicionais partidos políticos e suas práticas criminosas. Aliás, há agora uma distinção: políticos de alta cúpula condenados à cadeia por corrupção. Uma exclusividade temporária, diga-se de passagem. Porque o PSDB, em breve, embarcará no banco dos réus por conta do mensalão mineiro, que antecede o crime petista e onde surge, de fato, o carequinha Marcos Valério; e o DEM pode acabar sumindo do mapa quando o STF julgar o mensalão no Distrito Federal. Isso sem falar no poço sem fundo que se tornou o PMDB, nobiliárquico "partidão" onde tudo cabe, e seu vasto e duvidoso domínio regional em boa parte do território nacional. O Partido dos Trabalhadores é só o primeiro dessa fila. Pelo menos, é o que se espera.
O que temos, enfim, é uma osteoporose política que abala de forma tétrica o ambiente democrático brasileiro. Despreparados para a era digital e toda explosão horizontal da informação, não apenas o PT, mas a maioria dos partidos trafegou por caminhos anacrônicos e, provavelmente, sem volta. Desconsideraram o poder da formação de opinião através dos meios virtuais. Por equívoco óbvio, ainda tentam lidar com a mídia como a classe política fazia nos idos tempos do magnata Assis Chateaubriand e permitiram que seus velhos caciques de uma ex-esquerda brasileira protagonizassem, em nome do partido, das "causas" e das "lutas", as mais bizarras e bárbaras práticas da politicagem que corrói as estruturas democráticas do país. Osteoporose política, em suma.
Fique claro: nada justifica a corrupção. Nem "causas", nem "lutas", muito menos sociologias tergiversas e discursos vazios. As condenações que brotam do STF são legítimas e não há gritaria oficial do PT que possa desconstruir as merecidas punições aos saqueadores da República. Como bem argumentou o colunista Merval Pereira, em O Globo: "Na verdade, o PT tenta desqualificar as instituições que ainda não conseguiu aparelhar". Nem conseguirá.
Escritor, Jornalista a Apresentador de TV
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*Autor do best-seller "A 1ª PRESIDENTA" (Editora Faces, 2011, 240 páginas) e Jornalista e Comentarista Político da REDE RECORD, onde apresenta o "iPOLÍTICA". Acaba de lançar seu primeiro romance de ficção: "ÁGUAS TURVAS" (Editora Faces, 2012, 278 páginas).