Vejamos dois exemplos recentíssimos, partindo de legendas partidárias absolutamente diversas: um do Partido Socialista Brasileiro (PSB); e outro do Partido Verde (PV). O primeiro está na crista da onda das denúncias, acusado de lotear e promover tráfico de influência no Ministério da Integração Nacional, que foi dado pela presidente petista Dilma Rousseff, de porteira fechada, ao político socialista pernambucano Fernando Bezerra.
Dentre as muitas acusações, o ministro está envolvido em suspeitas de favorecimento ilícito ao seu estado; de nepotismo e tráfico de influência para beneficiar seu filho, o deputado Fernando Coelho (também do PSB/PE), que foi o único a ter todas as emendas orçamentárias destinadas à pasta liberadas; e agora surge a denúncia da Folha de São Paulo de que o ministro teria beneficiado a empresa de um amigo e aliado político em uma licitação de R$ 4,2 milhões na Codevasf, órgão administrado pelo seu ministério. Esse "socialismo fraternal" é algo extraordinário! E se chamar de ladrão, imediatamente vem a trupe do patrulhamento ideológico a bradar a ofensa ao tal "politicamente correto dos trópicos".
O outro triste exemplo foi protagonizado por uma vereadora do PV na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Durante todo primeiro semestre de 2011, o escritor e jornalista Waldir Leite atuou como assessor de imprensa de Sônia Rabello, parlamentar verde que outrora ocupara a Procuradoria-Geral do Município, na gestão do ex-prefeito democrata César Maia. Segundo relato exclusivo do próprio Waldir Leite, ele foi imediata e sumariamente exonerado das funções tão logo foi anunciado o lançamento de seu livro "Amei Um Pitboy" (Editora Faces, 2011) em uma nota à coluna "Abalo" do jornal O Globo, assinada por Christovam Chevalier.
Questionada pelo jornalista sobre os motivos de sua demissão sumária, a resposta da assessoria veio sem pestanejar: a publicação de seu livro com contos gays "era uma sacanagem com a vereadora Sônia Rabello". Em suma, banhada pela imunidade parlamentar que as urnas lhe concederam, a vereadora carioca praticou um ato criminoso. Preconceito é crime! Ainda segundo Waldir Leite, as palavras finais de Rabello ao chancelar sua demissão foram: "não estou interessada em ficar lidando com temas polêmicos". E dá-lhe o apequenado "politicamente correto" a servir de argumento condenável para humilhar, desrespeitar, censurar e macular o profissionalismo de um escritor, em pleno domínio de seus meios. Tudo isso cingido pela sigla do PV, legenda que gosta de anunciar aos quatro ventos ser a porta-voz do que há de mais moderno e sem medo de colocar em debate o que há de mais polêmico no Brasil. Pura falácia partidária é o que se conclui.
Esses são apenas dois exemplos recentes do maquiavélico "politicamente correto" praticado pelas autoridades brasileiras. No país onde a impunidade é a regra imperativa, você pode praticar qualquer tipo de crime, pois a punição raramente lhe alcançará. O massacre só acomete aqueles que, em nome da felicidade e para serem honestos e íntegros consigo e com os demais, praticam qualquer ato que venha ferir a suposta "retidão" dessa turma de aloprados pendurados nas mamatas e bravateiros do que há de mais retrógrado em termos de sociedade do século XXI. No Brasil do "politicamente correto", roubar pode; amar não!
*Helder Caldeira é escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro "A 1ª PRESIDENTA", primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff e que já está entre os livros mais vendidos do país em 2011.
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