A importância da articulação política da comunidade
por Floriano Pesaro, sociólogo
Em todo o mundo, com mais foco na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, chocados continuamos a assistir ataques antissemitas que pensávamos estar no passado, o último deles deu-se em meio ao Yom Kippur em Halle, na Alemanha, deixando dois mortos chocando autoridades alemãs e a comunidade europeia. Contudo, este tipo de ataque, embora cause choque e pânico, não vem antes que atos menos violentos, mas ainda carregados de antissemitismo o acompanhe, como na França que teve aumento de 74% no registro de casos de antissemitismo em apenas um ano, ou nos EUA com uma explosão de vandalismo em cemitérios judaicos depois do ataque de Pittsburgh. As razões do recrudescimento do antissemitismo são várias e complexas, mas uma delas quero me ater neste espaço: o poder do discurso das autoridades locais em inflamar esse tipo de atrocidade.
Na Alemanha, Bjoern Hoecke, o líder do partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) declarou recentemente que o memorial ao holocausto em Berlim era um “monumento de vergonha” e que as escolas deveriam dar destaque ao sofrimento dos alemães na Segunda Guerra. Enquanto isso nos Estados Unidos, vemos o Partido Democrata, tradicional lar de políticos judeus, ser tomado por um rompante antissemita ao ter alguns de seus quadros, inclusive dos mais conhecidos, como Bernie Sanders, empenhados na não aprovação da Lei Anti BDS (Boicote, desinvestimento e sanções” – uma campanha antissemita que preconiza a prática de boicote econômico, acadêmico, cultural e político ao estado de Israel). Ainda nos Estados Unidos, o apoio a uma suposta legitimidade do BDS vem imbuída de falas dissimuladas que tentam ligar o boicote antissemita à liberdade de investimento, ou desinvestimento, do empresariado norteamericano, quando, na verdade, ignora que estes mesmos preceitos liberais pressupõem a proteção das liberdades religiosas e, sendo Israel um estado judeu, é falsa a tentativa de descolar o judaísmo da existência de Israel.
O BDS é, de uma vez por todas, o boicote ao Estado Judeu e não a um determinado governo, de modo que, é sim, não só antissionista como absolutamente antissemita ao tentar punir toda uma Nação Democrática, a única de sua região, de modo cruel ao atingir até áreas como Educação, Saúde, Desenvolvimento e Tecnologia.
Enquanto nos Estados Unidos e na Europa, a comunidade judaica e suas lideranças parecem perder a bussola da relação com os líderes políticos ao, nos EUA deparar-se com o antissemitismo no próprio quintal, e na Europa serem alvo de grupos de extrema direita e rifados pelos grupos de esquerda por uma lógica eleitoral que busca arregimentar os novos refugiados, no Brasil nossas lideranças continuam, e ampliam magnificamente, suas relações com os chefes do Executivo, Legislativo e Judiciário. Não que isso signifique que nas terras tupiniquins o antissemitismo não encontra pascigo, mas que, por aqui, as lideranças da nossa comunidade têm voz firme, que é ouvida pelos mais altos escalões de governo, o que nos possibilita respostas rápidas e definitivas até aquele sinal mais recôndito de ataque a nossa existência e a nossa liberdade.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib), a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), o Clube Hebraica de São Paulo, a Ordem Independente B’nai B’rith do Brasil, nossas sinagogas e rabinos, empresários, políticos, intelectuais, e outras tantas instituições judaicas em solo brasileiro, somos todos, exitosos em nossa missão de, seja quem estiver no poder, nunca tergiversar do nosso objetivo e missão que é a defesa do nosso direito de existir, crer, estudar, trabalhar e cooperar, assim como sempre fizemos, com o desenvolvimento socioeconômico e intelectual do Brasil, essa grande terra que nos acolheu com tanto carinho.
Floriano Pesaro
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