A fome na África, endêmica e mortal
Addis Abeba, (Prensa Latina) Endêmica e mortal são alguns dos qualificativos que os especialistas usam hoje para definir um dos maiores desafios da África: a fome.
Os analistas apontam que principalmente se vê afetada por este problema a região subsaariana, onde cerca de 220 milhões de pessoas estão sempre subalimentadas.
E o terrível deste drama não são tanto as cifras, mas o fato de que apesar de serem conhecidas as causas do mesmo, ninguém parece querer realmente acabar com ele, alertaram os observadores.
O pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos, Alemayehu Kassa, comentou à Prensa Latina que as causas desse enorme déficit são mais que conhecidas: a ignorância geral, a pobreza do campesinato e a negligência governamental.
O motivo principal dessa miséria agrária africana é o desconhecimento; a imensa maioria dos camponeses subsaarianos ignoram quase tudo a respeito de fertilizantes, pesticidas, seleção de sementes e uso de maquinaria agrícola, detalhou Kassa.
Tanto economistas como especialistas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura concordam que esta ignorância técnica é a primeira causa de que as explorações de cereais atinjam colheitas de uma a duas toneladas por hectare, enquanto no resto do mundo se produzem quatro ou mais.
A isso haveria que acrescentar o mau uso - quando chegam a usar - de pesticidas e fertilizatnes, que se usam em quantidades excessivas, produzindo um esgotamento dos terrenos ou a poluição dos aquíferos, explicou por sua vez o agrônomo Teodros Gebresembet.
Tudo isto em uma região cuja terra é de enorme fragilidade e propensa à erosão, acrescentou.
Outro dos fatores determinantes neste tema é, segundo os estudiosos, a pobreza.
Inclusive os poucos agricultores subsaarianos que têm conhecimentos para desenvolver uma agricultura moderna também não podem levá-la a cabo.
Suas propriedades são pequenas demais para mecanização do trabalho; 80% dos camponeses desta região não têm maquinaria e só poucos dispõem de um bovídeo para ajudar no cultivo de seus campos de cereais, mandioca, milhete, arroz, entre outros, manifestou Gebresembet.
Em sua opinião, inclusive se tivessem capital para comprar ou alugar maquinaria, as terras são tão diminutas que a mecanização não seria rentável.
No plano político, agregou, a corrupção geral e uma negligência de séculos por parte dos governos impedem que as poucas ajudas recebidas cheguem aos setores mais amplos da sociedade.
Nem sequer iniciativas individuais que surgem aqui e acolá (como em Burkina Faso, onde um empresário jovem montou uma planta que transforma o lixo urbano em fertilizantes orgânicos; ou como no Quênia, onde uma rede de altruístas informa telefonicamente os camponeses sobre as evoluções futuras dos mercados para que os agricultores saibam o que plantar e quando) recebem o menor apoio estatal, usou como exemplo o comentarista Bilal Derso.
Para Derso, isso coloca em dúvida certos compromissos continentais, pois todos os países membros da União Africana se comprometeram a investir anualmente 10% de seus orçamentos no setor agrário.
Essa negligência é tanto mais dolorosa quando percebemos que em várias nações que tradicionalmente passavam fomes - como a Etiópia ou Malawi, que obtinha colheitas decepcionantes desde a expulsão dos colonos brancos - estão obtendo nos últimos tempos rendas enormes, argumentou.
Não obstante, ditos avanços, concluíram os especialistas, não foram em sua maioria pela intervenção ou promoção estatal, mas porque grandes investidores estrangeiros compraram enormes latifúndios e os exploram com toda a maquinaria existente e os métodos científicos mais modernos.
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