Desafiando os limites

Com todas as obras previstas, tanto no setor rodoviário como no ferroviário, já que o hidroviário ainda não passa de uma possibilidade perdida no futuro, sabe-se que o Porto de Santos chegará, um dia, a um estágio em que não poderá se expandir mais. Afinal, há limites físicos para tudo e o complexo portuário santista não foge à regra.                                           
                                                                                                  Mauro Lourenço Dias (*)
 
Segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), o Porto tem hoje capacidade para receber por dia até 4 mil caminhões e 700 vagões, movimentando um total de 300 mil toneladas de cargas diariamente. Se não houver planejamento, com maior volume de carga, novos sinais de esgotamento haverão de aparecer nas estradas de acesso ao Porto.


            É verdade que alguns gestores públicos não concordam quando se diz que não houve planejamento, argumentando que os planos foram traçados, mas não cumpridos ou apenas cumpridos pela metade. É o caso da Rodovia dos Imigrantes que, construída a partir da década de 1970, teve muitos de seus traçados auxiliares ou vicinais abandonados pelo governo do Estado a pretexto de economizar recursos. Sem contar que a excessiva inclinação com que foi construída torna hoje temerária a descida de caminhões carregados e ônibus lotados por suas pistas. Erro de engenharia?

Teria sido possível outra opção para vencer a Serra do Mar? São perguntas para as quais ninguém ainda deu respostas convincentes.
           

Outro exemplo de falta de planejamento foi a maneira como o governo do Estado foi facilitando o acesso de caminhões do Interior rumo ao Litoral sem se preocupar com a melhoria nos acessos rodoviários ao cais santista. Com o Rodoanel, a ampliação de acessos a Cubatão, que facilitou o trânsito até os pátios reguladores, e a construção da terceira faixa da Via Anchieta, ficou mais fácil aos caminhões descer para a Baixada Santista.


O problema agora é chegar aos terminais marítimos, como mostram as filas de mais de 20 quilômetros que se formam nas vias de acesso ao complexo portuário. Mesmo que o governo do Estado tente resolver essa defasagem que há entre o sistema rodoviário e os acessos portuários, sabe-se que essa será uma solução temporária. Afinal, chegará um dia que os limites tornar-se-ão intransponíveis.


            De fato, o Porto de Santos não pode se tornar praticamente a única porta de entrada e saída de mercadorias do Brasil. É preciso construir outros portos igualmente capacitados, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, para atrair as cargas do Centro-Oeste. Para isso, é preciso abrir rodovias modernas porque as estradas que existem não oferecem segurança aos exportadores, são esburacadas e apresentam muitos trechos sem asfalto, sem placas de sinalização e sem infraestrutura do apoio ao caminhoneiro. Não se pode também deixar de investir no modal ferroviário. Enfim, é preciso descentralizar a rota de escoamento de cargas no País.


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(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
 


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