Recontando a História: Novas Descobertas do Massacre Racista de Tulsa nos EUA

Recontando a História: Novas Descobertas do Massacre Racista de Tulsa nos EUA
Em Oklahoma, o mais sangrento ataque supremacista branco da história estadunidense sofreu negacionismo por quase um século. Pelo qual nunca ninguém foi punido
 
No último dia 16 de agosto foram encontrados, após 25 dias de escavações, onze restos mortais de vítimas do massacre supremacista branco da cidade de Tulsa no estado norte-americano de Oklahoma ocorrido em 31 de maio e 1 de junho de 1921, o que "se acredita ter sido o pior incidente de violência racial na história norte-americana" (The Encyclopedia of Oklahoma History and Culture).

A municipalidade tulsana, condutora das investigações, anunciou que dois corpos continham ferimentos de balas de diferentes armas, enquanto outro apresentava sinais de possíveis queimaduras.

Todos os restos estão sendo analisados em laboratórios forenses da cidade que já atuam neste caso específico há alguns anos, desde que as buscas tiveram início para identificação.

Nos últimos cinco anos, cerca de 50 restos mortais relacionados ao massacre foram encontrados através de um projeto de escavação coordenado pela prefeitura de Tulsa, chamado 1921 Graves (Sepulturas de 1921).

Denominado mais comumente “tumultos raciais” ao longo do tempo, o massacre de Tulsa que envolveu também corrupção policial, tem sido historicamente um tabu entre a sociedade estadunidense: esteve ausente dos livros de história, raramente era mencionado em escolas, conversas particulares e nas abordagens midiáticas, a nível local e em todos os Estados Unidos. 

Até a Cruz Vermelha norte-americana recusou-se a fornecer estimativa do número de mortos naqueles tempos, alegando que tais dados eram "especulativos". Menos de três meses após o massacre de Tulsa, a Ku Klux Klan surgiu publicamente em Oklahoma, atingindo o auge no estado justamente na década de 1920.

“[O massacre] nunca foi ensinado na escola. Lembro-me de que no Ensino Médio, nos anos 80, constava no livro de História de Oklahoma algo como um ou dois parágrafos. Mas a história da [Ku Klux] Klan continuava capítulo, capítulo e mais capítulo”, disse o historiador afro-americano de Tulsa James Kavin Ross no aniversário de 100 anos do massacre, em maio de 2021. 

“Os brancos não queriam falar sobre isso, porque [o massacre] era uma mancha para uma cidade que estava tentando construir sua imagem", completou Ross.

“Distúrbios” oficialmente atribuídos a um grupo armado de cidadãos negros a fim de proteger um dos membros da comunidade de um potencial linchamento por brancos, os negros sempre relataram todo o ocorrido de maneira diferente, desde o início dos ataques.

“Negros e brancos cresceram até a meia-idade, sem saber o que havia acontecido”, relatou o jornal The New York Times em As Survivors Dwindle, Tulsa Confronts Past (Enquanto os Sobreviventes Diminuem, Tulsa Confronta o Passado), em 19 de junho de 2011.

Apenas uma comissão bipartidária local estabelecida em 1996, deu início oficialmente a investigações a fim de se recontar a história do hoje já chamado, amplamente, massacre de Tulsa. 

Tais estudos verificaram uma série de distorções sobre o episódio, corrupção policial, e inclusive o número de mortos tem sido revisto, sendo cerca de dez vezes superior ao tido como oficial anteriormente, fixado em 36. 

Um dos piores ataques terroristas brancos dos EUA hoje podem ser compreendidos graças aos esforços de longos anos de alguns poucos sobreviventes, e seus descendentes. Os quais não haviam perdido a esperança, em todos aquelas décadas de silêncio, de que as gerações futuras conseguiriam fazer com que a verdade, enfim, viessa à tona.

Mas muito ainda resta para ser esclarecido e sobretudo reparado pelo Estado, e os trabalhos investigativos na cidade prosseguem sem muita cobertura, contudo, da mídia norte-americana.

Massacre

Os ataques supremacistas brancos em Tulsa há quase um século, executados em terra e através de aviões particulares, destruíram o próspero bairro de Greenwood de cerca de 10 mil residentes negros à época deixando como saldo cerca de 300 mortos, a vasta maioria de cidadãos negros de acordo com pesquisas da comissão local estabelecida na década de 90.

Uma violenta multidão branca incendiou 1.250 casas, arrasando anos de prosperidade construída pelos negros na cidade ao centro-sul dos EUA onde residia um total de 72 mil pessoas, entre brancos e negros.

Greenwood era então denominado “Wall Street Negra” pela vigorante economia: seus quarteirões eram repletos de supermercados, hotéis, casas noturnas, salas de bilhar, teatros, consultórios médicos e igrejas do que era, até às vésperas do massacre, uma das comunidades negras mais ricas dos Estados Unidos.

Na noite de 31 de maio, cerca das 19h30 mais de mil cidadãos brancos juntaram-se às proximidades da prisão onde o engraxate negro Dick Rowland de 19 anos estava detido, a fim de atacá-lo. O jovem, sem nenhum antecedente penal e com boa reputação na cidade, era acusado sem nenhum indício de ter atacado a cidadã branca Sarah Page de 21 anos, um dia antes. 

A princípio Rolwand havia sido levado à prisão da cidade de Tulsa, até que o delegado James Adkison recebeu telefonema anônimo ameaçando de morte Rowland e ordenou que este fosse transferido a uma prisão mais segura, no último andar do Tribunal do Condado de Tulsa. 

Enquanto Rowland estava apavorado, o xerife William McCullough tomou diversas medidas protetivas ao jovem negro preso, como por exemplo colocar seis de seus homens, armados com fuzis e espingardas, a postos no telhado do Palácio da Justiça.

E tentou em vão convencer a multidão branca a ir para suas casas: McCullough acabou vaiado. Por volta de 20h20, três homens brancos entraram no tribunal exigindo a entrega de Rowland, pedido rejeitado pelo xerife.

Cerca de 21h30, um grupo estimado entre 50 e 60 homens negros armados chegou ao local, para proteger o jovem negro. Diante disto, os brancos foram buscar armas ao mesmo tempo que, por volta das 22h, mais 75 homens negros armados chegaram ao local. Logo, a multidão em frente ao tribunal multiplicou-se chegando a cerca de duas mil pessoas, a grande maioria deles brancos armados.

Os negros ofereceram apoio ao xerife a fim de acalmar a situação, mas o oficial negou a ajuda. Logo teve início troca de tiros entre ambos os grupos que durou alguns segundos, deixando como saldo dez brancos mortos e dois negros.

A partir de então a violência de uma multidão branca furiosa à qual se incluíam policiais e soldados, explodiu madrugada adentro, estendendo-se ao longo de todo o dia 1 de junho. Relatos de testemunhas afirmam que oficiais da polícia tulsana incentivaram os brancos a pegar armas para atacar negros.

O florescente bairro negro de Tulsa foi invadido, saqueado e incendiado. Houve também diversos ataques aéreos com bombas, desfazendo o mito histórico de que os ataques japoneses sobre a base naval de Pearl Harbor em Honolulu no Havaí em 7 de dezembro de 1941, foram a primeira vez na história que os EUA sofreram ataques aéreos em seu território: antes daquela data houve os auto-atentados terroristas estadunidenses ocultados nos livros de história, de brancos contra negros em Tulsa.

A fúria racial branca colocou mais de 35 quarteirões de Greenwood debaixo do fogo em 24 horas, varrendo-o do mapa tulsano. Homens, mulheres e crianças foram linchados, sequestrados, assassinados, e houve casos de estupro: tudo encoberto pelas autroridades, locais e estaduais. Um total de 10 mil negros ficaram desabrigados.

Mais de 800 pessoas foram internadas em hospitais, e cerca de 6 mil negros permaneceram presos por vários dias no que se tornou cenário de guerra. As centenas de negros assassinados foram enterrados em valas comuns, tanto quanto enterrados na história dos Estados Unidos por décadas.

Dos 10 mil negros que acabaram se tornando sem-teto pelos ataques, a maioria no final de 1922 teve casas reconstruídas mas a Municipalidade e as corretora de imóveis recusaram-se a indenizá-los pelas perdas resultantes do massacre.

Lei marcial decretada pela Guarda Nacional de Oklahoma no dia 1, finalizou o massacre pelo qual ninguém foi punido. “O gatilho para a raiva branca, inevitavelmente, é o avanço dos negros”, escreveu a acadêmica afro-americana Carol Anderson, no livro White Rage, The Unspoken Truth of Our Racial Divide (Ódio Branco, A Verdade Não Contada da Nossa Divisão Racial, de 2016).

Estopim

Cerca de 3h tarde de 30 de maio de 1921, o jornal Tulsa Tribune, um dos dois diários da cidade de propriedade de cidadãos brancos à época e bem-conhecido pelo sensacionalismo, publicou o boato que circulava por Tulsa de que Rowland havia atacado Sarah, operadora de elevador do edifício comercial Drexel no dia anterior.

Naquele prédio havia apenas um elevador, operado por Sarah, o qual Rowland tentou utilizar na manhã do dia 30 a fim de ir ao um banheiro restrito a negros, localizado no último andar do edifício.

É consenso desde aqueles tempos que ao menos de vista ambos se conheciam, já que Rowland costumava utilizar o elevador de Page indo e retornando do banheiro. Até hoje, contudo, trata-se de incógnita se ambos mantinham amizade ou algum tipo de relacionamento sentimental.

Um balconista branco da loja de roupas Renberg’s no próprio complexo, ouviu um grito feminino no elevador e, em seguida, um jovem negro foi visto correndo do edifício às ruas.

Este mesmo funcionário foi até o elevador, onde encontrou Sarah em estado de descontrole emocional, meio que histérica e ansiosa. Considerando que ela havia sido abusada sexualmente, o balconista chamou a polícia imediatamente.

No dia seguinte, em 31 de maio Rowland foi preso, elevando a tensão em Tulsa. Rowland era amplamente conhecido entre advogados e outros profissionais jurídicos da cidade, muitos dos quais o conheciam por engraxar os sapatos deles mesmos.

Algumas testemunhas afirmaram ter ouvido vários advogados defendendo Rowland em suas conversas entre si. Um deles teria dito, segundo as testemunhas: “Ora, eu conheço esse garoto, e o conheço há um bom tempo. Isso [do que é acusado] não é do feitio dele.”

Page não prestou queixa contra Rolwand: apesar de que nenhum relato escrito de sua declaração tenha sido jamais encontrado, a jovem branca aparentemente disse à polícia que Rowland agarrou seu braço, e nada além disso. O próprio funcionário da Renberg’s finalmente relatou o incidente à polícia como “tentativa de ataque”.

A polícia determinou que não houve agressão, e levaram adiante uma investigação discreta em vez de executar busca ao jovem negro pelo suposto ataque. A versão inicial do balconista que "socorreu" Sarah também seria totalmente contrariada pela comissão investigadora do massacre, cujos trabalhos foram concluídos em 2001.

Contudo, as publicações do Tulsa Tribune do dia anterior através de uma notícia intitulada “Negro Preso por Atacar uma Garota”, e de um editorial incitando cidadãos brancos à violência contra os negros com o polêmico título “Linchamento de Negro Nesta Noite”, reverberando rumores que se espalharam pela cidade de que o engraxate seria linchado por homens brancos, serviram como gasolina sobre o fogo na cidade que já vivia efervescente por questões raciais entre brancos e negros.

Contexto nacional

Os Estados Unidos viviam, às vésperas do massacre de Tulsa, ambiente de ódio racial que atingia níveis extremos, e o racismo era institucionalizado no país norte-americano. A organização terrorista supremacista branca Ku Klux Klan ressurgia com força no sul dos EUA. E Oklahoma era um caso assustadoramente particular neste contexto.

As leis de segregação racial denominadas Jim Crow (personagem teatral criado por Thomas D. Rice, 1808–1860, transformou-se rapidamente em termo pejorativo para referir-se aos afro-americanos), vigoraram de 1870 até 1965: impunham que instalações e serviços como habitação, saúde, educação, emprego e transporte fossem sistematicamente separados entre cidadãos brancos e negros.

Decisão judicial de 1847 denominada Caso de Dred Scott, determinou que os negros nunca poderiam ser considerados cidadãos norte-americanos: nem a Constituição nem os direitos civis eram válidos aos negros naquela época.

Dentro disto, inclusive casamento interracial era proibido nos Estados Unidos. Havia ainda distinção de funções nas instituições, públicas e privadas. Até nas Forcas Armadas (FFAA) havia separação entre batalhões de negros e brancos: até 1948, os brancos sempre ocupavam papeis de lideranca nas FFAA estadunidenses.

O Congresso dos EUA aprovou a Lei de Direitos Civis de 1875, que tentava reparar as violações de direitos contra os negros, barrada na Suprema Corte. 31 anos depois, entre 24 e 26 de setembro de 1906 em Atlanta no estado da Geórgia, também ao sul dos Estados Unidos, multidões brancas mataram dezenas de negros, feriram gravemente dezenas de outros e causaram sérios danos materiais no que ficou conhecido como Massacre Racial de Atlanta.

No filme de 1915 The Birth of a Nation (O Nascimento de uma Nação), primeiro sucesso de bilheteria de Hollywood, David Wark Griffith caracterizou a Ku Klux Klan como a salvadora do sul estadunidense, da reconstrução dos “oportunistas malignos” e dos negros fortemente estereotipados.

"Entre o final de 1918 e o final de 1919, os Estados Unidos registraram dez grandes distúrbios raciais, dezenas de conflitos menores de cunho racial, e quase 100 linchamentos enquanto os norte-americanos brancos tentavam impor a subjugação contínua dos norte-americanos negros na era do pós-guerra", escreveu David Krugler na introducao de seu livro 1919, The Year of Racial Violence (1919, O Ano da Violência Racial, de 2015).

Assim, os negros eram considerados abertamente seres inferiores, e até inimigos da nação em um ambiente de violência racial crescente, especialmente no sul estadunidense.

Oklahoma

Oklahoma foi declarado estado em 16 de novembro de 1907, e recebeu diversos colonos sulistas que haviam sido donos de escravos antes da Guerra Civil (1861-1865). No início do século XX os linchamentos raciais eram comuns em Oklahoma, na tentativa de cidadãos branco de afirmar e manter o domínio social.

Apesar de o estado já contar naqueles tempos com população diversificada, habitada por imigrantes de todas as partes do mundo além de cidadãos de outros estados norte-americanos, muitos moradores brancos especialmente nas partes do sul do estado, tinham fortes laços com a cultura sulista que havia produzido a Ku Klux Klan.

Moradores do Centro-Oeste estadunidense com sólidas crenças religiosas e forte consciência moral, também haviam migrado para Oklahoma. Neste ambiente, as crenças e ações da Ku Klux Klan encaixavam-se perfeitamente no espírito branco de Oklahoma, visando preservar a cultura rural branca e o cristianismo protestante e atacar ameaças ao status quo racial local.

O historiador estadunidense Charles Alexander estima que até o final de 1921, apenas Tulsa tinha cerca de 3.200 moradores da cidade pertencentes à Ku Klux Klan. “Não raramente, policiais locais eram membros da Klan, ou tinham fortes simpatias pela Klan”, reporta The Encyclopedia of Oklahoma History and Culture.

Tulsa

Particularmente Tulsa, cidade petrolífera em expansão, abrigava um grande número de moradores afro-americanos ricos, educados e profissionais além de diversos militares, que retornaram ao município após o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918.

E este também foi mais um forte fator de conflito racial. Uma crise econômica no nordeste de Oklahoma estava aumentando o nível de desemprego, ao passo que os veteranos de guerra buscavam retornar à força de trabalho. Os veteranos negros, particularmente, estavam pressionando o governo para adquirir direitos civis, alegando que tinham conquistado cidadania pelo serviço militar na Primeira Grande Guerra Mundial.

Assim, as tensões sociais e o sentimento de supremacia branca acirraram em Tulsa e em outras cidades do estado, onde a competição por empregos era feroz.

A reportagem do jornal The New York Times de 26 de maio de 2023, intitulada How Greenwood Grew a Thriving Black Economy (Como Greenwood Desenvolveu uma Economia Negra Próspera) descreveu como os negros destacavam-se na economia tulsana até que vieram os ataques supremacistas brancos.

Determinados trechos relatam o testemunho do sociólogo W.E.B. Dubois, primeiro afro-americano PH.D. da Universidade de Harvard, quem havia visitado Tulsa às vésperas dos massacre:

"W.E.B. Dubois visitou o distrito de Greenwood em Tulsa, Oklahoma, no início de 1921, e ficou impressionado com o que encontrou. 'Nota-se por todo o sul, com algumas exceções, a nova esperança e poder do povo de cor', ele escreveu em seu diário.

"Greenwood representava essa 'nova esperança e poder' melhor que quase qualquer outro lugar do país. A população negra de Oklahoma estava bem posicionada para prosperar. Alguns eram membros de comunidades originárias que também tinham ascendência africana, e receberam lotes de terra individuais das propriedades coletivas das tribos.

"Outros eram migrantes de classe média do Sul Extremo, que se aventuraram para o oeste com a promessa de um clima racial que nutriria seu sucesso, em vez de sufocá-los — fornecendo 'oportunidades iguais com o homem branco', como dizia um folheto promocional.

"Os líderes negros nacionais da época frequentemente tinham visões totalmente diferentes sobre o melhor caminho ao progresso negro, mas todos concordavam que o espírito independente gestado em Oklahoma fornecia um modelo a ser seguido.

"Em Greenwood, os moradores protegiam os negócios negros, em parte, evitando [consumir] os de propriedade de brancos. Poucos anos após a inauguração do [Teatro] Dreamland, o 'único teatro de cor da cidade', um empresário branco chamado Loula Williams Redfearn abriu um teatro concorrente chamado Dixie do outro lado da rua.

"Quando Dubois passeava pelas ruas de Greenwood na primavera de 1921, quase não havia concorrência. 'O teatro negro está sempre cheio. O teatro dos brancos é muito pouco frequentado', observou o sociólogo em seu diário de viagem."

Supremacia da verdade

Em 1996, a fim de se investigar os fatos do massacre e reivindicar justiça, teve início a Tulsa Race Massacre Commission (Comissão do Massacre Racial de Tulsa).

Versões bastante diferentes das difundidas por residentes brancos de Tulsa nos tempos do massacre, foram publicadas: por exemplo, confirmando conclusão da polícia de Tulsa naquela época, a comissão apontou em seu relatório final de 2001 que Rowland deveria ter tropeçado ao entrar no elevador e, ao tentar evitar a queda, agarrou o braço de Page ou pisou em seu pé; a jovem branca, então, gritou.

Ou que os jovens tiveram uma discussão de namorados. Foi completamente descatrada a possibilidade de estupro. Provavelmente, devido ao estado de histeria contra negros na cidade Rowland teve receio, e correu assustado até a casa de um familiar.

Referindo-se à omissão policial de Tulsa em evitar o massacre, disse em 2016 Chuck Jordan, então chefe de polícia de Tulsa: "O Departamento de Polícia não fez seu trabalho naquela época, de verdade não fizeram".

Dívida com a história

O massacre já é parte dos livros escolares de Oklahoma, embora ainda distante de ser aprofundado: passou a ser incluído no ensino estadual vagamente em 2002, sendo ainda nos dias de hoje motivo de disputa entre diversos setores do estado, políticos e educacionais, com alguns poucos avanços.

Também em 2016, Dubois afirmou que "as vítimas ainda esperam por justiça, 95 anos após o massacre de Greenwood".

A Comissão tem reivindicado o estabelecimento de uma zona empresarial de desenvolvimento econômico na área histórica de Greenwood, que nunca mais se recuperou economicamente do massacre. Além de reparação financeira diretamente a sobreviventes e descendentes das vítimas do massacre de mais de 103 anos atrás, como “obrigação moral” do Estado.

Contudo, apesar da aceitação da Assembleia Legislativa de Oklahoma do relatório final e da “responsabilidade moral em nome do Estado e de seus cidadãos”, o órgão dominado por democratas recusou-se a pagar qualquer tipo de reparação.

Neste ano, a Suprema Corte de Oklahoma rejeitou ação movida por reparação feito em 2020 pelas sobreviventes negras Viola Fletcher, hoje com 110 anos de idade, e Lessie Benningfield Randle, 109, com o cidadão negro Hughes Van Ellis que morreu em outubro do ano passado, aos 102 anos de idade. 

O Estado norte-americano em dívida com a história, e com a proteção e a dignidade de seus cidadãos negros. Disse anos atrás Lloyd Ware de 66 anos, descendente de vítimas de Tulsa, já questionando omissões do Estado diante do massacre: “se você ignora o problema, ele permanece; o que foi feito até agora?"

Carol Anderson escreveu no livro White Rage: "Não é a mera presença de pessoas negras o problema; pelo contrário, é a negritude com ambição, unidade, propósito, com aspirações e demandas por cidadania plena e igual”.


Author`s name
Edu Montesanti