O Brasil e a Argentina se atrevem a fazer da América Latina uma região soberana

O presidente brasileiro Lula da Silva e seu homólogo argentino rompem o continente latino-americano com o dólar americano e o fornecimento de armas russas à Ucrânia.

Brasil e Argentina se afastam do projeto globalista do Ocidente

O presidente argentino Alberto Fernandez e seu homólogo brasileiro Luis Inácio Lula da Silva (que cumpriu seus dois primeiros mandatos de 2003 a 2010), confirmaram neste domingo em Buenos Aires que estavam avançando com a idéia da moeda comum sul-americana como parte da aliança bilateral entre os dois países.

Brasil e Argentina se livram da paridade do dólar em suas economias

Em uma declaração conjunta publicada no jornal Perfil, os líderes das duas maiores economias da América Latina decidiram "avançar as discussões sobre a moeda sul-americana conjunta que poderia ser utilizada tanto para os fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo assim os custos de transação e as vulnerabilidades externas".

A nova moeda que é provisoriamente chamada de 'sur' (que significa 'sul' em espanhol) evitará o uso do dólar americano nas trocas comerciais.

Na primeira etapa, a nova moeda servirá apenas para fins de comércio exterior (à semelhança do rublo transferível soviético para os países do antigo Pacto de Varsóvia), e ainda não substituirá as notas locais (como era o caso do euro).

Outros países do continente serão convidados a aderir ao projeto. A idéia será discutida na Cúpula da CELAC (Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe sem os EUA e o Canadá) nos dias 24 e 25 de janeiro em Buenos Aires. O Brasil e a Argentina representam 4% do PIB global, o que é muito, dado que a zona do euro contribui com 14%.

Sur para dar estabilidade ao sistema financeiro da região

"O mecanismo é garantir negócios de exportação e importação em moedas alternativas ao dólar, como as moedas digitais comuns aos bancos centrais", disse o economista equatoriano Pedro Paez Pérez à publicação Pagina 12.

Paez Pérez acredita que o sistema já provou sua eficiência não apenas no caso do sucre entre os países da ALBA (Aliança Bolivariana da América), mas também no comércio entre a Rússia e "vários países eurasiáticos" ou entre a China e uma parte significativa de seus parceiros regionais, inclusive, a Arábia Saudita. A Argentina também está presente na lista.

O projeto não é novo. Ele encontrou apoio em 2007 entre os então líderes da Argentina, Brasil, Equador, Venezuela, Uruguai e Paraguai.

Os depósitos para o novo Banco Central Latino-Americano serão feitos na moeda nacional. Isto aliviará a pressão sobre o peso e o real que perdem seu valor se a cotação do dólar americano subir. Além disso, os países sofrem perdas nas diferenças cambiais nas operações comerciais, dependendo das condições prevalecentes no mercado.

O Banco Latino-Americano de Investimentos também será criado. O banco atuaria como uma alavanca para o desenvolvimento "ao invés do mecanismo para acelerar o crescimento da dívida" que todas as organizações do sistema financeiro mundial trabalham para hoje, pois emprestam em dólares americanos. A Argentina foi particularmente afetada por isto.

Enorme significado político da decisão

Os presidentes do Brasil e da Argentina disseram que não queriam mais depender de fornecedores externos para ter acesso a materiais e bens básicos para aumentar o bem-estar da população. Estas palavras contêm uma mensagem muito importante sobre as prioridades de interesses, bem como uma dica da inferioridade da política de sanções e uma possibilidade de contorná-las.

Fernandez e Lula pretendem restaurar o papel do Mercosul como uma plataforma para a integração efetiva com o mundo através de negociações conjuntas sobre acordos comerciais equilibrados que atendam às metas estratégicas de desenvolvimento. A Venezuela, que foi expulsa do bloco em agosto de 2017 por "reprimir a democracia", deverá retornar.

"O mundo mais justo e benevolente pelo qual lutamos só será viável se tivermos a coragem de construirmos juntos nosso futuro". Esta é a importância estratégica da integração bilateral", concluíram os presidentes em sua declaração.

Nem uma palavra sobre a "guerra na Ucrânia" e a condenação do "agressor".

Portanto:

Muitos Estados latino-americanos, incluindo Brasil e Argentina, possuem armas soviéticas e russas, mas não vão enviar esses sistemas para a Ucrânia.
Os países colocam sua prioridade no desenvolvimento regional. Recusam as idéias de globalismo e lançam as bases para minar o domínio do dólar norte-americano.
Ao contrário do ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro, Lula não é apenas um antiglobalista - ele é capaz de unir as forças de esquerda da América Latina. Ele se refere aos "regimes" desleais dos EUA em Cuba, Venezuela, Bolívia, Peru, Nicarágua, México, Colômbia, El Salvador.

Parece que a Federação Russa pode encontrar um sólido apoio na América Latina, inclusive dentro dos BRICS, na tentativa de construir o novo mundo multipolar.


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Petr Ermilin