Sentença de Assange, 'Duro Golpe contra a Liberdade de Imprensa': Chomsky
Embora o fundador de WikiLeaks não venha a ser extraditado a solo americano, a guerra liderada pelos EUA contra a imprensa continua. Em entrevista exclusiva ao jornalista brasileiro Edu Montesanti, Chomsky opõe-se veementemente à acusação do regime de Washington, de que o jornalista australiano representa ameaça à segurança americana: "A perseguição a Assange tem motivação política"
A juíza britânica Vanessa Baraitser impediu a extradição de Julian Assange do Reino Unido aos EUA, no último dia 4 de janeiro. Ela concluiu que, como as condições das prisões nos EUA são altamente degradantes, seria injusto e opressor extraditar o fundador de WikiLeaks. A defesa do jornalista australiano afirma que as condições da prisão nos EUA, incluindo confinamento solitário, Medidas Administrativas Especiais e restrições extremas na prisão de ADX Florence, levariam Assange ao suicídio.
Assange, que permanece detido na prisão Her Majesty's Belmarsh no sudeste de Londres, enfrenta até 175 anos de prisão por publicar, em 2010, documentos do governo dos EUA que expuseram crimes de guerra e abusos dos direitos humanos.
Por meio de cerca de 251.287 telegramas diplomáticos, mais de 400.000 relatórios confidenciais do exército dos EUA envolvendo a Guerra do Iraque e 90.000 sobre a Guerra no Afeganistão - com trechos publicados em primeiramão por The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde e El País, WikiLeaks revelou incontáveis baixas de civis além de corrupção desenfreada nos EUA em todo o mundo espionando, boicotando governos democráticos, e políticas sujas dentro de vários países (veja lista das revelações mais importantes de WikiLeaks, no final desta reportagem).
O advogado de defesa Ed Fitzgerald disse que as "consequências naturais" da decisão da juíza, que ordenou a dispensa de Assange, "devem ser o retorno do jornalista australiano à liberdade, pelo menos condicionalmente".
O advogado de Assange argumentou ainda que, desde outubro de 2019, o fundador de WikiLeaks encontra-se detido apenas com base no pedido de extradição dos EUA. "Agora que o juiz decidiu contra a extradição, não há mais motivos para mantê-lo na prisão", ressaltou o advogado.
Dois dias depois de ter impedido a extradição do jornalista australiano, a juíza londrinense negou o pedido de fiança de Assange, mantendo-o sob custódia no HMP Belmarsh.
De acordo com Noam Chomsky, em entrevista exclusiva concedida a este autor, a decisão do tribunal foi uma vergonha e, por causa dos precedentes, torna-se perigosa.
"A decisão torna possível considerar Assange doente mental, de maneira que o que ele divulgou ao público pode ser descartado como produção de uma mente doentia", analisa o lendário dissidente, ativista pelos direitos humanos, linguista, filósofo, sociólogo, cientista político e autor de mais de cem livros, "sem dúvida o intelectual mais importante vivo hoje" segundo The New York Times.
"Raio de Luz para Julian"
"Vitória pessoal de Julian, o que é excelente. Outro duro golpe contra a liberdade de imprensa, pela natureza do veredito", acrescenta Chomsky para esta reportagem, copresidente do Comitê de Defesa de Assange (Assange Defense).
Condenando WikiLeaks de Assange, coloca-se todos os outros jornalistas em todo o mundo, em risco também, estabelecendo um precedente muito perigoso que permite ao governo dos EUA decidir o que é publicado e quem deve ser processado em um tribunal dos americano, apenas por praticar jornalismo.
O que, aliás, já acontece em certa medida: por exemplo, diversas publicações no YouTube de jornalistas alternativos têm sido censuradas, sumariamente excluídas quando contrariam o discurso do regime de Washington.
Exatamente como sucedeu recentemente com este próprio autor atraves de videos eliminados sem nenhuma justificativa, de manifestações populares no centro de Caracas no qual cidadãos pacíficos exigiam, frente à câmera deste jornalista com a Constituição venezuelana nas mãos, recuo da ingerência dos EUA.
Para nem se dizer o que tem ocorrido em redes como Facebook e Twitter, caça às bruxas indiscriminada contra a mais básica liberdade de expressão e de se publicar, tão somente, informação - na primeira rede mencionada, este autor igualmente sofreu censura, ao publicar voz de palestinos contra o terror sionista.
Como observou certa vez o jornalista irlandês Patrick Cockburn, está em jogo um "controle monopolista de informações confidenciais do Estado".
"Houve um raio de luz: Assange não será enviado para apodrecer pelo resto da vida em uma prisão dos EUA", comemora Chomsky apesar de tudo.
Jornalismo como Crime
A juíza britânica resumiu, também, sua longa opinião e os argumentos de WikiLeaks, condenando veementemente o trabalho de Assange. "O resto da decisão de Baraitser foi uma capitulação completa aos EUA. Cada acusação do governo americano é aceita sem comentários, por mais absurda que seja. As refutações detalhadas no depoimento de defesa são totalmente ignoradas", lameta Chomsky com esta reportagem de sua residência em Tucson, Arizona, onde mora com a esposa brasileira Valeria.
Minando proteções a uma imprensa livre garantidas pela própria Primeira Emenda constitucional dos EUA, a juíza Baraitser expôs sua opinião sobre o trabalho de WikiLeaks da seguinte forma, considerada altamente perigosa por especialistas como o próprio Chomsky além de vários juristas dentro dos Estados Unidos, e em todo o mundo. A seguir, alguns pontos da calamitosa decisão de Baraitser:
● A conduta de Assange "foi além da de um jornalista", ao concordar em ajudar Chelsea Manning a quebrar uma senha e dizer a ela que "olhos curiosos nunca secam", encorajando-a a vazar mais arquivos;
● A liberação de cabogramas não editados foi "indiscriminada";● Os argumentos da defesa sobre as opiniões políticas de Assange eram "estranhos";
● Não havia evidências suficientes de que as acusações foram "pressionadas" pela administração Trump e, em vez disso, mostraram um debate interno saudável;● Embora a comunidade de inteligência tenha criticado duramente WikiLeaks, isso não fala pela administração;
● Não cabe ao tribunal do Reino Unido comentar o caso da espionagem de UC Global contra Assange na Embaixada do Equador, uma vez que não tem acesso aos documentos judiciais no caso contra a UC Global na Espanha;
● Sobre se seria opressor extraditar: aceitei a opinião do professor Kopelman de que o senhor Assange sofre de um transtorno depressivo recorrente, que Assange tem ideação suicida e seria "obstinado" em uma tentativa de acabar com sua vida;
● Condições potenciais em uma prisão nos Estados Unidos: a CIA vê Assange como hostil, ainda um risco à segurança; ● Assange provavelmente seria enviado para ADX Florença, seria mantido em sério isolamento;● O objetivo das Medidas Administrativas Especiais é minimizar as comunicações, e os prisioneiros têm limitações extremas. Essas condições foram consideradas por todos os especialistas como geradora de impacto degradante sobre a saúde mental de Assange; ● Assange tem intelecto e determinação para continuar com ideias suicidas; ● Portanto, considero que seria injusto extraditar o senhor Assange. Os EUA têm o direito de recorrer.
Noam Chomsky confessa que não ficaria surpreso se, algum dia, soubéssemos que a Corte de Londres tomou a decisão de não extraditar Assange como favor ao presidente Biden, que será poupado do constrangimento de um escândalo internacional sobre a prisão perpétua do jornalista australiano.
"Podemos, talvez, atribuir esses procedimentos judiciais à 'relação especial, o eufemismo para o declínio da Grã-Bretanha de líder mundial, transformada em vassalo de seu sucessor [os Estados Unidos] neste horrível papel", aponta o professor da Universidade do Arizona à reportagem, afirmando ainda que "o crime de Assange é ter realizado o trabalho de um jornalista sério: fornecer ao público informações críticas que o governo dos Estados Unidos não quer que os cidadãos tenham."
De acordo com Cockburn, "WikiLeaks fez o que todos os jornalistas deveriam fazer, disponibilizar informações importantes ao público permitindo-lhes formar julgamentos baseados em evidências sobre o mundo ao seu redor, seus governos e crimes de Estado".
Ex-agente da C.I.A. e denunciante John Kiriakou disse, em entrevista a este jornalista em dezembro de 2018: "Julian não roubou informação. Simplesmente recebeu informação, e então a tornou pública".
Washington disse, contudo, imediatamente apos o termino da audiencia de Londres no dia 4, que o regime americano apelaria da decisão de Beraitser: o Departamento de Justiça dos EUA alegou estar "extremamente decepcionado" com a decisão da juíza britânica, e acrescentou: "Continuaremos tentando a extradição de Assange."
"Meu palpite é que, secretamente, o Departamento de Justiça ficou bastante satisfeito com a decisão, e pode encontrar algum tipo de pretexto para deixá-lo descansar - talvez concordando com o julgamento de que Assange sofre de problemas psiquiátricos", observa Noam Chomsky.
"Julian Assange é jornalista. Ele nunca deveria ter sido acusado de nenhum crime", disse Kiriakou, também membro da Assange Defense, em entrevista a este autor.
"Ao demonizar o mensageiro, os governos procuram envenenar a mensagem", escreveu Chomsky recentemente, ao jornal britânico The Independent.
Inimigo do Estado
O então secretário de Estado Mike Pompeo, criticou WikiLeaks colocando-o "serviço de inteligência hostil não estatal", acrescentando que "não podemos mais permitir que Assange e seus colegas usem os valores da liberdade de expressão contra nós".
O então procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, disse em abril de 2017 que processar Assange era "prioridade" para ele.
A ex-candidata à presidência dos EUA Hillary Clinton e o então vice-presidente Joe Biden, chamaram Assange de "terrorista".
Apesar de ter se recusado a processar Assange, o governo Obama foi o que mais perseguiu denunciantes na história dos EUA.
Lei de Espionagem: Guerra Americana contra o Jornalismo
Promotores na Virgínia do Norte acusaram Julian Assange segundo a Lei de Espionagem de 1917, de conspirar para cometer intrusão ilegal de computadores com base em seu suposto acordo, para tentar ajudar a ex-militar Chelsea (Bradley) Manning a quebrar uma parte codificada da senha que teria permitido que ela se conectasse a uma rede militar classificada, sob a identidade de outro usuário.
Manning assumiu total responsabilidade por suas ações, e disse que Assange não a pressionou a fim de obtê-las. "Ninguém ligado à W.L.O. [a organização WikiLeaks] me pressionou a enviar mais informações ", disse ela na época. "Assumo total responsabilidade", disseram os ex-militares dos EUA em um tribunal em 2013.
O caso Assange é a primeira vez que a Lei de Espionagem acaba sendo utilizada contra um jornalista não apenas por publicar informações classificadas, representando uma séria ameaça à segurança dos EUA mas também, de acordo com a acusação, por colocar em risco as fontes de WikiLeaks.
"O histórico de Obama a esse respeito foi vergonhoso. A Lei de Espionagem foi promulgada durante a Primeira Guerra Mundial para punir espiões. Não foi utilizada em nenhum tribunal, e poderia muito bem ser considerada inconstitucional se tivesse sido", aponta Chomsky a esta reportagem.
De acordo com o advogado e defensor das liberdades civis Ben Wizner, da American Civil Liberties Union (ACLU), qualquer processo contra o Assange, pelas publicações de WikiLeaks, seria algo sem precedentes e inconstitucional. "Abriria as portas para investigações criminais contra outras organizações de notícias", teme Wizner.
"Obama inovou ao usá-la mais que todos os governos anteriores combinados, não contra espiões mas contra 'vazadores' que liberavam material classificado para o público", relembra Chomsky.
O advogado de direitos humanos dos Estados Unidos, Carey Shenkman, disse em depoimento em setembro passado, no Tribunal de Londres:
"O que agora é certo, para jornalistas e editores em geral, é que qualquer jornalista em qualquer país do mundo - na verdade, qualquer pessoa - que transmita segredos que não estejam de acordo com as posições políticas da administração dos Estados Unidos, pode ser julgada sob a Lei de Espionagem de 1917."
O Estado contra o Cidadão
A principal alegação dos EUA é que WikiLeaks representa uma ameaça à sua segurança nacional. Tese refutada por Chomsky em entrevista a este jornalista:
"Em teoria, o material é classificado por 'motivos de segurança'. Mas a inspeção do rico registro de material desclassificado mostra que a 'segurança' em questão é muito comumente a segurança do poder do Estado de seu inimigo doméstico, a população doméstica."
O intelectual americano completa concisamente sua ideia, segundo uma possivel visao do regime de Washington: "Essas criaturas irritantes [os cidadãos] devem ser mantidas na escuridão sobre o que está sendo feito em nome delas, embora não seja do interesse delas."
A exposição de Chomsky acima nos faz lembrar o porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell, que ao invés de comentar as torturas de militares americanos na detenção de Guantánamo Bay então reveladas por WikiLeaks, culpou a associação liderada por Assange pelas revelações.
"É uma pena que várias organizações de notícias tenham tomado a decisão de publicar vários documentos obtidos ilegalmente por WikiLeaks, sobre o centro de detenção de Guantánamo", disse Morrell.
De acordo com o analista mais renomado do mundo, Noam Chomsky, os fatos básicos não escaparam aos estudos.
"Quarenta anos atrás", ele aponta de sua residência em Tucson, "o distinto cientista político e conselheiro do governo Samuel Huntington, Professor de Ciência do Governo em Harvard, escreveu que 'Os arquitetos do poder nos Estados Unidos devem criar uma força que pode ser sentido, mas não visto. O poder permanece forte quando permanece no escuro; exposto à luz do sol, começa a evaporar."
Para Chomsky, esta claro que Obama entendeu bem esse princípio. "Talvez, tenha aprendido isso em seus tempos de estudante em Harvard", lamenta o professor americano de Linguística.
A mesma segurança nacional dos EUA que Julian Assange é acusado de ter ameaçado e "minado" seus chamados processos democráticos, é o próprio sistema que o próprio fundador do WikiLeaks, em uma ironia amarga, provou ser uma mentira total.
A segurança nacional dos Estados Unidos que Julian Assange é acusado de ter ameaçado, "minando" seus chamados processos democráticos, é o próprio sistema que o próprio fundador de WikiLeaks, amarga ironia, provou ser uma mentira total.
A Mídia contra o Jornalismo
A mídia em todo o mundo incluindo a auto-proclamada alternativa em ampla medida, de quem se deveria esperar a mais forte voz de aopio a Julian Assange, tem se esquecido supreendentemente em suas reportagens e editoriais as crueis verdades trazidas corajosa e brilhantemente por WikiLeaks, e mantido silêncio covardemente conivente diante das ameaças e torturas psicológicas que o jornalista australiano tem sofrido, por praticar o jornalismo investigativo em seu mais elevado grau.
"A mídia americana", lembra Chomsky, "como a de outros países ficou feliz em usar materiais fornecidos por WikiLeaks, mas deu as costas a Assange e se juntou - e muitas vezes liderou - aos ataques com o fim de desacreditá-lo".
Segundo o líder do movimento Assange Defense, a mídia britânica, em geral, tem sido ainda mais covarde e às vezes baixa à mera vulgaridade neste ponto. "Isso inclui a tolerância da mídia com a tortura de Assange ao longo dos anos, a qual não preciso recordar aqui. A perseguição brutal contra ele, é um escândalo internacional".
"Não menos vergonhoso é o fato de que muitos daqueles que usam avidamente suas revelações, não estão se levantando para defender Julian Assange," indigna-se Chomsky, observando ainda que a integridade básica de uma imprensa livre e independente está sob ataque neste desempenho vergonhoso da midia internacional.
O Rei Está Nu
Curiosamente, a mídia predominante internacional tem não apenas virado as costas a Assange, como tem também perpetuado a velha, bem-conhecida linha que vai na contramão de suas proprias publicacoes, em favor do establishment nos mais diversos casos.
No caso da mídia dita alternativa, bastante seletiva ao reverberar WikiLeaks enquanto, desde o início, regozijava-se com as infindáveis revelações sobre os podres do Império americano e da direita política global, jamais considerou as traquinagens de seus políticos de estimação, os tão alardeados progressistas nos mais diversos países - incluindo o Brasil sob o governo do Partido dos Trabalhadores, considerado o supra-sumo da esquerda latino-americana - nos porões de suas políticas, nacionais e internacionais (lista ao final da reportagem).
Assange desnudou, sem nenhuma distincão político-partidária, os bastidores da política global. O Rei, de repente, foi exposto nu nos mais diversos rincões do planeta. Pois a mídia em geral, evidenciando sua verdadeira face a quem ainda tinha alguma dúvida de seu (mau) caráter, preferiu despir-se completamente junto dos donos do poder locais, e, desfilando pelada, desavergonhadamente, pela mais cínica passarela da vergonha, abraçar seus velhos reis ao invés de, em nome da verdade dos fatos e dos princípios jornalísticos elementares, coroar a boa prática do jornalismo independente e combativo de Assange que virou o mundo de cabeça para baixo, vindo a revolucionar nossa geração.
Enquanto a mídia em geral faz como que os telegramas confidenciais, secretos e ultrassecretos revelados por WikiLeaks, simplesmente inexistissem.
"Na melhor das hipóteses, o debate público sobre as questões reais será prejudicado; na pior, a opinião pública será manipulada em favor do estabelecimento", escreveu Chomsky em The Independent em setembro de 2020.
A mídia mundial tem, certamente, cooperado para o pior cenário considerado por Noam Chomsky nesta entrevista.
Papéis Invertidos
Detenção de criminosos dos EUA devido a seus crimes de guerra, crimes contra a humanidade e conspirações para derrubar governos legítimos em todo o mundo. A inversão de papéis dos EUA mais do que nunca, impossível de ser negada desde que Assange entrou em ação.
"O dever primordial da imprensa", escreveu Robert Lowe no diário britânico The Times em 1852 (citado por Cockburn), 'é obter a inteligência mais antiga e correta dos acontecimentos de seu tempo e instantaneamente, divulgando-os, tornando-os propriedade comum da nação."
Envolvendo a politicagem imperialista e global incluindo a propalada progressista, demagógica especialmente latino-americana, nada poderia ser mais atual que as observações de Lowe há quase dois séculos - e o mundo inteiro sabe disso graças a Julian do WikiLeaks -, que completou sua ideia da seguinte forma:
"O estadista coleta suas informações secretamente, e por meios secretos; ele mantém guardada até a atual inteligência do dia, com precauções ridículas."
Imprensa Livre Significa Assange Livre
"Julian Assange não deveria ser motivo de audiência de um grande júri: ele deveria receber uma medalha. Ele está contribuindo com a democracia", disse Chomsky certa vez.
Questionado por esta reportagem sobre o quanto realmente vê o caso de Assange como politicamente motivado pelo regime de Washington, Chomsky, mais que um brilhante analista - ser humano de rara beleza interior, indivizivelmente humanitário no mais profundo sentido do termo em um mundo repleto de oportunistas -, aponta que a única questão de segurança nacional que surge é a proteção do poder estatal da exposição aos cidadãos.
"A perseguição de Assange por esta tal 'violação de segurança' é politicamente motivada, virtualmente por definição", diz o especialista mais respeitado do mundo.
A editora-chefe de WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, reagiu imediatamente aos comentários da juíza Beraitser antes que o depoimento começasse, no dia 4 de janeiro, perguntando à defesa o quanto o resultado da eleição presidencial dos EUA poderia afetar o caso de Assange, apontando ainda que ela esperava emitir uma decisão antes do dia das eleições.
"Baraitser reconheceu o que estava claro, desde antes mesmo de a primeira acusação contra Assange ser aberta: esta é uma acusação politicamente motivada."
"Se as guerras podem ser iniciadas com mentiras, a paz pode ser iniciada com a verdade", costuma dizer Assange, apontado em 4 de janeiro a receber o Prêmio Nobel da Paz de 2021.
Julian Assange, que certa vez denominou WikiLeaks como "a CIA do povo", deve ser libertado e publicar novamente a fim de lançar a luz da verdade sobre a falsa democracia dos Estados Unidos, seus crimes de guerra e boicotes mundo afora além de expor o grande picadeiro político global, os imundos bastidores dos usurpadores do poder em todos os espectros, em todos os lugares.
Jornalismo não é crime. Assange livre, imprensa livre em favor da verdade e da democracia.
Cabos Destacados Liberados por WikiLeaks
Crimes de guerra dos EUA. Assassinato Colateral: vídeo militar classificado dos EUA, retratando o assassinato indiscriminado de mais de doze pessoas no subúrbio iraquiano de Nova Bagdá - incluindo dois funcionários da Reuters;
Diário da Guerra de Bagdá (Registros da Guerra do Iraque). Os relatórios detalham 109.032 mortes no Iraque, compostas por 66.081 'civis'; 23.984 'inimigos' (aqueles rotulados como insurgentes); 15.196 'nação anfitriã' (forças do governo iraquiano) e 3.771 'amigas' (forças da coalizão). A maioria das mortes (66.000, mais de 60%) são mortes de civis, o que significa 31 civis mortos cada dia durante um período de seis anos que se estendeu dejaneiro de 2004 a dezembro de 2010;
Diário da Guerra Afegã: Relatórios escritos por soldados e oficiais de inteligência, descrevendo, principalmente, ações militares letais envolvendo os militares dos Estados Unidos; incluindo, igualmente, informações de inteligência, relatórios de reuniões com figuras políticas e outros detalhes relacionados ao tema.
Espionagem dos EUA. Vault 7: Ferramentas de hackeamento da CIA reveladas; 8.761 documentos e arquivos de uma rede isolada de alta segurança situada dentro do Centro de Inteligência Cibernética da CIA em Langley, Virgínia. "Year Zero" apresenta o escopo e a direção do programa de hackeamento secreto global da CIA, seu arsenal de malware e dezenas de exploits armados de "zero-day" contra uma ampla gama de produtos de empresas americanas e europeias, incluindo iPhone da Apple, Android do Google e da Microsoft Windows, até mesmo TVs Samsung, transformadas em microfones ocultos.
Tortura militar dos EUA na Prisão de Guantánamo.
Invasão secreta dos EUA à Síria nos anos anteriores à chamada "Primavera Síria". O regime de Washington financiou oponentes políticos do presidente Bashar al-Assad, setores da mídia local e atividades culturais: De 2005 a 2010, foram 12 bilhões de dólares. Cabo secreto, aqui.
Os EUA apoiaram secretamente os líderes rebeldes por trás do levante de 2011 no Egito.
Interferência dos EUA no Haiti. Washington trabalhou secretamente contra o aumento do salário mínimo do Haiti para cinco dólares em 2008/2009, devido ao interesse dos EUA nas zonas francas haitianas para têxteis; cabos secretos removidos misteriosamente.
Interferência dos EUA na política brasileira. O juiz Sergio Moro, seus colegas/subordinados do Ministerio Público que perseguiram e prenderam o ex-presidente Lula, e outros integrantes da corrupta Justiça brasileira, treinados pelo regime de Washington, em território norte-americano;
O então vice-presidente Michel Temer, que sucedeu a presidente do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff em 2016, era informante da CIA às vésperas do golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff;
Aliada à oposição brasileira, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília buscou informações sobre membros do governo do Partido dos Trabalhadores do Brasil, e atuava em afinidade com opositores ao PT governante, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui;
A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília supervisionou o maior movimento social brasileiro pela reforma agrária, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, aqui e aqui.
Interferência dos EUA na grande mídia brasileira. "O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja podem se dedicar a informar sobre os riscos que podem advir de se punir quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país. Esta Embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados. Visitas ao Brasil, de altos funcionários do governo dos EUA seriam uma excelente oportunidade para pautar a questão para a imprensa brasileira."
"Espionagem em massa pelos governos". Revelação de um sistema mundial de espionagem em massa realizada por governos de diferentes países em telefones celulares, computadores e também nos perfis de mídia social de seus cidadãos. A prática, diz o documento liberado por WkiLeaks, "é adotada por pelo menos 25 nações [inclusive o Brasil sob governo de Lula] por meio de 160 empresas de inteligência".
Governos latino-americanos "progressistas" mendigando as bênçãos dos EUA. O Brasil do Partido dos Trabalhadores, especialmente o "homem forte" do então presidente Lula, o então ministro José Dirceu, prestando contas secretamente aos "diplomatas" americanos (contradizendo, em alguns casos, o que ele e o então presidente Lula costumavam dizer publicamente): cabogramas secretos aqui, aqui e aqui. O seguinte telegrama secreto é um caso particular, já que José Dirceu apoiou por trás das cortinas da politica brasileira, a criação do Alca, algo que o PT publicamente sempre se opôs, veementemente: "Dirceu aproveitou para manifestar seu desejo de que as negociações da Alca avançassem, declarando reiteradamente que o Brasil deveria exportar pelo menos quatro vezes mais para os EUA do que atualmente. (...) Dirceu disse que no próximo mês, tanto ele quanto Palocci buscarão conversar com o presidente Lula sobre isso";
O então presidente Lula, secretamente elogiando e protegendo a sangrenta ditadura militar no Brasil (1964-1985) de ser investigada pelos crimes contra civis e opositores políticos. "Comentários do então candidato Lula da Silva em 2002, que creditou ao mesmo governo militar que o prendeu, a respeito de um bom planejamento estratégico que beneficiou o país" (aqui); "O presidente Lula, ciente da necessidade de um relacionamento harmonioso com os militares e da importância de avançar com sua agenda política, não tem pressa em abrir os arquivos da ditadura" (aqui); "O presidente Lula apoiou a visão de Jobim [então ministro da Defesa, ex-militar que defendia a não investigação da ditadura militar] e declarou que o assunto [investigação da dicatrosia militar] estava" encerrado" (aqui);
A então presidente da Argentina, Cristina Kirchner, trabalhou secretamente com os Estados Unidos para moderar o então presidente boliviano, Evo Morales em sua oposição a Washington
Propalados governos progressistas latino-americanos estancados em corrupção. Lula recebeu propina para comprar o caça francês Rafale e suspeitou de ter recebido propina para comprar submarinos franceses também. Em telegrama secreto, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil comentou: "O Brasil é um país incrivelmente corrupto. (...) Não podemos fazer nenhum negócio substancial por causa disso, em um lugar corrupto como o Brasil. (...) É nossa avaliação que se trata puramente de suborno, e os franceses usam estratégias que aplicaram no passado aqui no Brasil. (...) Quer dizer, é uma coincidência que eles estejam comprando tanta coisa francesa? Os franceses sabem subornar";
"Corrupção generalizada em Cuba." Aqui e aqui;
O atual Papa Francisco (o então cardeal Jorge Bergoglio) apoiou secretamente os opositores dos Kirchner na Argentina, e foi parceiro próximo da sangrenta ditadura militar (1976-1983) de Rafael Videla: vários cabos secretos liberados por WikiLeaks sobre isso, misteriosamente removidos.