Eleição Presidencial da Bolívia: Violência e Terror por Todo o País

Eleição Presidencial da Bolívia: Violência e Terror por Todo o País

Pessoas atacadas e sangrando, instituições públicas em chamas. Um funcionário do governo pendurado na janela para não morrer queimado, caiu do terceiro andar do Tribunal Eleitoral. Carlos Mesa, oponente do presidente Evo Morales, incita violência. Imagens chocantes por toda a Bolívia após a reeleição de Morales, pela quarta vez. A oposição em todo o país promete muito mais. O ódio crescente e assustador tomou conta do país sul-americano nos últimos meses, alimentado pela grande mídia e poderes obscuros. Para onde vai a Bolívia?

Edu Montesanti

Na Bolívia, a verdade não importa muito, não vem em primeiro lugar especialmente para a oposição ao presidente Evo Morales, a direita apoiada pelo regime de Washington. Emoção vem em primeiro lugar. 

O ódio profundo, em muitos casos, é um sentimento aberto daqueles que condenam em outros, na maioria das vezes sem provas, exatamente o que seus líderes fizeram uma vez no poder, e até fazem como líderes da oposição atualmente.

Discriminação, manipulação e corrupção: sua marca no país sul-americano. Assim como as elites em todos os lugares da região, agora efervescente.

Pesadelo Brasileiro na Bolívia

Atualmente na cidade de Santa Cruz de la Sierra, esta repórtagem de Pravda sente-se como se estivesse no Brasil profundamente odioso de vésperas do golpe contra a então presidente Dilma Rousseff em 2016, e durante os anos negros de Michel Temer (2016-2018) que abriram o caminho ao fascista Jair Bolsonaro. O diálogo tem sido impossível na Bolívia, atado a uma altamente raivosa divisão social.

Mentiras são ouvidas em todos os lugares da Bolívia. Intensivamente. Não se pode confiar em ninguém aqui, quando política é o assunto, com muito pior desempenho, neste sentido da oposição. Mas, em geral, os dois lados mentem. Via de regra.

Processo de Mudança

A Bolívia, 14 anos após a primeira eleição de Morales, está longe de ser o país modernizado anunciado por parte da mídia alternativa, o que será abordado mais adiante, em outra reportagem. 

Não há revolução como trompeteado amplamente. Pode ser argumentado um Processo de Mudança como costuma ser mais denominado por apoiantes locais do governo Morales. A nação tem agora esperança, ainda que muitos nao reconheçam este fato.

A Bolívia, país mais respeitado em todo o mundo como jamais antes devido a Morales, tem hoje economia e política relativamente estáveis. O atual presidente tirou milhões da pobreza e da pobreza extrema. Tudo isso, como a nação nunca viveu antes. 

O governo Morales defende a integração latino-americana, concede mais direitos a minorias e povos indígenas (historicamente esquecidos e massacrados), e opõe-se fortemente ao imperialismo dos EUA. Se há esperança para a Bolívia, isso significa ter Evo Morales na Presidência.

Estados Unidos e Fantoches Locais Palrando 'Democracia'

O historiador e jornalista Carlos Mesa, da Comunidade Cidadã e principal oponente de Morales, foi vice-presidente durante os anos sombrios de Gonzalo Sanchez de Lozada: presidente pró-FMI de 2002 a 2004 que massacrou mais de 70 camponeses em outubro de 2003, simplesmente pagou Mesa para ser seu vice. Após a fuga de Lozada, Mesa assumiu o poder até renunciar seis meses depois. Eis a ala made in USA que hoje advoga por democracia entre os bolivianos.

Desta maneira, o historiador e jornalista boliviano, agora perdendo a eleição presidencial para Morales no primeiro turno, significa retrocesso para o país outrora mais pobre da região, antes do mandatário reeleito pela quarta vez agora 

Processo Eleitoral

O processo eleitoral foi pacífico no último domingo. Mas no dia seguinte, um previsto (por esta reportagem há muito tempo) terror começou. Independentemente dos resultados das eleições, a reportagem previa este quadro. Mesa incitou mobilizações nas ruas, levando à violência nas estações de contagem de votos: manifestantes da oposição queimaram cédulas, prédios onde a contagem ocorreram, e Tribunais Eleitorais por todo o país.

Enquanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o regime de Washington questionam a legitimidade do resultado que elege Evo Morales, vários observadores internacionais elogiaram a legitimidade e a transparência do processo eleitoral boliviano.

Terror: Rumo a uma Guerra Civil?

Logo após Evo Morales ser reeleito com 46,86% dos votos contra 36,73% para Carlos de Mesa, considerado 95,03% dos votos contados na Bolívia e em todo o mundo, a violência está se espalhando por todo o país desde a noite de segunda-feira: pessoas atacadas e sangrando, instituições públicas em chamas, um funcionário do governo pendurado na janela para não morrer queimado caiu do terceiro andar do prédio do Tribunal Eleitoral de Potosi.

Policiais potosinos, com bandeiras brancas declarando que nao atacariam ao povo, recomendaram que todos, tarde da noite entre tanto fogo, fossem à s suas casas descansar. Em vão.

A oposição promete muito mais: desde a meia-noite de quarta-feira os eleitores de Mesa, que supostamente defendem a democracia, proíbem todos os cidadãos de sair de casa com seus carros, e o comércio de abrir portas sob a ameaça de agressão e destruição, por tempo indeterminado em toda a Bolívia.

Simplesmente os sindicats dos operarios da Bolivia (Central Obrera Departamental) e nada menos que o Banco Nacional fecham suas portas nestes dias assim como todas as outras instituicoes governamentais, aderindo obedientemente aos violentos oposicionistas comandados por Mesa. Um retrato da fragilidade da sociedade, do governo e da propria democracia boliviana.

Este repórter falou com os dois lados na última terça-feira. Um líder da oposição, à tarde, na praça central de Santa Cruz de la Sierra chamada 24 de Setembro, disse: "Certamente haverá pessoas mortas [no toque de recolher], mas não vamos ceder, esta é a única maneira de garantir [segundo turno presidencial]". Segundo o ativista uma guerra civil inicia-se, declarada por seu setor.

Na parte traseira da praça, um grupo de jovens observava atentamente o local, apontaram ao mesmo sentido: violência. Garotos simpáticos e gentis, quando o interlocutor mostra-se propenso a ouvi-los, exigem que o Presidente Evo Morales aceite segundo turno, ou renuncie. "Houve fraude!", afirmam convictos, refletindo o senso espalhado por grande parte da sociedade local.

Menos de duas horas depois, naquela mesma tarde de terça-feira, conversando com um eleitor de Morales dono de uma loja no centro de Santa Cruz de la Sierra, ele respondeu quando perguntado sobre como a atual situação de impasse poderia terminar: "Somente através de um conflito". Não porque o apoiante de Morales deseje isso, mas o conflito realmente parece o único caminho na Bolívia agora. Outra nação sul-americana sem saída?

Campanha de Mentira e Raiva

Como mencionado mais acima, uma campanha de mentira e ódio por parte da direita existe no país muito antes do processo eleitoral. 

Essa campanha conta com muitos líderes religiosos, lembrando os golpes militares na América Latina que se baseavam na religião dominante e dominadora que manipula, como poucas outras instituições, o imaginário coletivo. 

Lembrando o prprio Brasil entre o final do governo Dilma e este início de Jair Bolsonaro, com os setores religiosos, especialmente gospel, apresentando mais um de seus bem conhecidos espet á culos da politicagem mais baixa recheada de persuasao, manipulacao e muita mentira - o que de melhor este segmento sabe fazer, e do que sobrevivem, é claro.

Este autor tem conversado com liderancas religiosas bolivianas, tendo estado inclusive na residencia de algumas delas: chega a assustar o nivel ilimitado da manipulacao mais descarada. Conta-se e espalha-se, com muita facilidade, enormes mentiras sem o menor sentido, sem nenhum indicio de ser algo minimamente verdadeiro por aqui.

Junto disso, a raiva e os diversos tipos de preconceitos que este segmento dominante, dono de consciencias adormecidas espalha, é brutal.

Presente Previsivel, Futuro Incerto

Assim, o que acontece agora era previsível meses atrás quando este repórter, como voz no deserto, anunciou exatamente o que está em curso nestes assustadores dias. Há um ano, a Bolívia cheira fortemente a violência. Cheira a um golpe na Bolívia.

O que conta a favor de Morales, entre outras coisas a serem abordadas em outra reportagem, é que ao contrário do Brasil, ele não tem aqui um personagem bandido como "Sergio Moro" em seu caminho, usurpador do sistema judicial. Nem a Bolívia possui um Ministério Público como o brasileiro, capaz de orquestrar uma guerra juridica (lawfare) e um golpe contra o primeiro presidente indígena da história boliviana: o Movimento ao Socialismo (partido oficial) cooptou o sistema de Justiça boliviano, ao contrário do ex-presidente brasileiro Lula que proporcionou ao Judiciário brasileiro mais independência. 

Contra Morales, o mesmo no caso brasileiro que nos ensina uma amarga lição: o atual governo boliviano não politizou o povo. No setor educacional tem se repetido a mesma tragédia historica boliviana. So poderia dar no que esta dando. E tomara que tenha retorno, com as tarefas de casa sendo devidamente feitas.

Tão certo quanto ha uma mão invisível trabalhando na (e contra) a fragilissima democracia da Bolívia, o futuro próximo é completamente incerto aqui, altamente temerario em mais este castelo de areia sul-americano: o governo de esquerda boliviano.


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey