O papel de Roosevelt
Qual foi o papel do presidente americano Franklin Delano Roosevelt na Segunda Grande Guerra?
Para a maioria dos historiados ocidentais,ele foi um democrata, defensor da paz e que ajudou a destruir o perigo nazista.
No seu livro A Formação do Império o Americano, o professor Luiz Alberto Moniz Bandeira traça um retrato bem diferente de Roosevelt, dizendo que, por interesses econômicos, ele fez tudo para levar os Estados Unidos a participar da Segunda Guerra, contrariando a opinião pública americana que queria o país distante do conflito.
Texto e ilustração Marino Boeira
Em 1941, uma pesquisa Gallup mostrou que 88% do povo americano era contra a participação dos Estados Unidos na guerra da Europa.
Logo após o rompimento do conflito na Europa, fruto principalmente do choque de interesses econômicos entre a Alemanha e a Inglaterra, principalmente no que diz respeito ao domínio das colônias na África e na Ásia, os Estados Unidos se mantiveram oficialmente neutros.
Apesar dessa neutralidade formal, por ordens de Roosevelt, os Estados Unidos passaram a abastecer com todo o tipo de armas os ingleses, que depois disso nunca mais se livraram da dependência econômica americana.
Nos primeiros dias de agosto de 1941, Roosevelt foi ao encontro de Churchill a bordo do couraçado H.M.S Prince of Wales, em Placentia Bay, quando lhe prometeu dar todo o suporte militar na guerra com a Alemanha, embora se recusasse a ajudar a Inglaterra a superar seus problemas financeiros.
Para Moniz Bandeira, isso já fazia parte da nova estratégia americana de enfraquecer a Inglaterra economicamente para depois da guerra se tornar o país dominador na Ásia e África.
No final da reunião foi emitido um pronunciamento conjunto, denominado a Carta do Atlântico, na qual se prometia "a destruição final da tirania nazista e o aparecimento de nações soberanas dentro de suas fronteiras"
Em suas memórias, Churchill comentou que achou espantoso que o s Estados Unidos, um país tecnicamente neutro, e alinhasse a uma nação beligerante ( a Inglaterra) em uma declaração equivalente a um ato de guerra.
Segundo Moniz Bandeira, a estratégia de Roosevelt para chegar a pretendida liderança mundial passava pela derrota total dos países do Eixo - Alemanha, Japão e Itália - pelo enfraquecimento econômico da Inglaterra e França, que se apoiava na exploração das colônias na Ásia e na África e pela divisão política da Europa de pós guerra em pequenos países economicamente fracos.
O primeiro passo nesse sentido seria forçar o Japão a declarar guerra aos Estados Unidos, o que levaria a Alemanha também ao conflito.
Para isso, recusou todas as tentativas dos japoneses de negociar algum tipo de acordo sobre os conflitos de interesse comum na Ásia, deixando para eles a única alternativa da guerra.
Ainda de acordo com Moniz Bandeira, os americanos haviam quebrado códigos secretos de guerra dos japoneses e sabiam que um provável ataque ocorreria em Pearl Harbor.
Só não sabiam que ele ocorreria com a força destruidora que teve. De qualquer maneira ele foi o motivo para o início da guerra contra o Japão e logo em seguida contra a Alemanha.
Até o final da guerra na Europa, Roosevelt jamais aceitou negociar algum tipo de acordo com os generais dissidentes alemães para eliminar Hitler e formalizar uma proposta de paz.
Em vez disso, ordenou bombardeios brutais contra cidades alemãs que não tinham qualquer objetivo militar. Colônia, Dresden e outras cidades foram severamente atingidas. O bombardeio de Pforzheim, em fevereiro de 45, matou um em cada três habitantes, proporcionalmente mais do que a bomba atômica que seria jogada em Nagazaki, em agosto, onde a taxa foi de um morto a cada sete habitantes
Ao mesmo tempo em que fazia a guerra,Roosevelt tratou de assegurar as bases materiais para a administração do mundo quando o conflito terminasse. Em junho de 44, a Conferência Monetária e Financeira de Bretton Woods, transformou o dólar,no lugar do ouro, no instrumento universal de trocas.
Roosevelt não chegou a ver a vitória de sua obra. Ele morreu 12 de abril de 1945, cabendo ao seu sucessor, Harry Trumann, completar seu trabalho de destruição do inimigos, autorizando a explosão das primeiras bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagazaki, cidades sem qualquer importância militar para o Japão.
Só uma coisa não deu certo nos planos de dominação mundial dos Estados Unidos, idealizados por Roosevelt: a vitória da União Soviética sobre os nazistas, fazendo surgir uma grande potência militar em oposição aos Estados Unidos.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS