Trump: quando é impossível fugir de si mesmo
Iraci del Nero da Costa *
As ações de determinados políticos nos obrigam a tomar em conta não apenas suas perspectivas político-ideológicas mas, também, suas personalidades, as quais, por suas características distintas dos moldes predominantes na grande maioria dos políticos, distinguem-se a ponto de comporem, ao lado das ditas condições político-ideológicas, um conjunto que aparta os aludidos políticos dos demais.
Destarte, tidos como não identificáveis com seus pares, tais políticos, aos quais faltam elementos pessoais capazes de os diferenciarem da referida maioria vigorante em todas as nações, marcar-se-ão por posturas pessoais positivas ou negativas; vale dizer, considerados os interesses sociais em termos genéricos, alguns adotarão atitudes evidentemente maléficas e perniciosas enquanto outros, de modo positivo, perseguirão objetivos saudáveis.
Os exemplos dessas personalidades diferenciadas são muitos; neste breve texto consideraremos, tão somente, dois casos, enfatizando o comportamento que admitimos como negativo.
Do lado benigno postaremos Charles de Gaulle o qual, embora contemplado por muitos como irascível e inflexível, sensibilizou a maioria dos analistas por seu perfil firme, arrojado e íntegro. Os serviços que prestou a seus compatriotas e à população mundial em geral foram muitos e tornaram-se inesquecíveis tanto no espírito dos franceses como por sua consagração perene pelos historiadores que deles se ocuparam.
Já no lado oposto não poderia faltar, nos dias correntes, a figura grotesca de Donald Trump cujos rompantes o desqualificam como político e como ser humano.
As suas medidas econômicas representam uma negação daquelas prevalecentes em escala mundial; no plano social afasta-se do consenso das nações mais avançadas e que guardam uma indiscutível superioridade em termos democráticos e respeitosos com relação ao trato humano; no âmbito político não só afasta-se das práticas consagradas por muitas décadas mas, indo além disso, no que tange ao repúdio devotado ao Irã gera uma situação desnecessariamente artificial e absolutamente dispensável, já no respeitante ao acordo buscado com a Coreia do Norte apenas procura forjar, de maneira circense, um cenário internacional no qual aparece, artificial e mentirosamente, como o mais completo e secularmente insuperável senhor da diplomacia. Quanto aos imigrantes ilegais o tratamento grosseiro representado pelo afastamento das crianças de seus pais ofende o espírito humanitário chegando ao mais reles e desprezível comportamento que se possa imaginar. Tal decisão, que continua a ser defendida por Trump, foi parcialmente suspensa dada a repulsa generalizada apoiada, inclusive, pela própria esposa do presidente.
Eis pois, delineado o perfil de um político ao qual não é dada a separação entre sua personalidade viciada e sua formação ideológica de direita. Assim, seus atos não são informados apenas por uma postura política de direita mas veem-se, também, invadidos pelas mazelas próprias de um mundo mental dominado pela contínua busca de falsidades e corrompido pela perversidade.
* Professor Universitário aposentado.