"Não somos a Líbia nem o Iraque", diz Coreia do Norte

"Não somos a Líbia nem o Iraque", diz Coreia do Norte

Quarta-feira, 16 de Maio, Kim Kye Gwan, primeiro vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular Democrática da Coreia tornou público um comunicado de imprensa que endereçava a actual atitude dos Estados Unidos da América em relação à desnuclearização da península da Coreia e à abertura diplomática histórica entre ambas as nações, nomeadamente à atitude provocatória de John Bolton.

Flávio Gonçalves, Pravda.ru

No comunicado enviado à imprensa europeia pela Embaixada da República Popular Democrática da Coreia sedeada em Roma, Itália, e responsável pelas relações diplomáticas com Portugal, Kim Kye Gwan reforça "a decisão estratégica levada a cabo por Kim Jong Un de encerrar o desagradável histórico das relações entre a RPDC e os EUA" recordando que a Coreia popular "já reuniu em duas ocasiões com Pompeo, secretário de Estado dos EUA, aquando das suas visitas ao nosso país e efectuou passos importantes com mentalidade de abertura quanto à paz e à estabilidade na península da Coreia e no mundo."

O comunicado recorda que "em reacção às nobres intenções de Kim Jong Un, o presidente Trump também tenha afirmado ser a favor de melhorar as relações entre a RPDC e os EUA e dar por encerrada uma hostilidade tão profunda quanto histórica. Encarei esse posicionamento com optimismo e expectativa ciente de que a cimeira entre a RPDC e os EUA seria um passo gigantesco para catalisar uma détente na península coreana e construir um futuro grandioso."

Contudo, desabafa Kye Gwan, "nas vésperas da cimeira RPDC-EUA" os Estados Unidos "proferiram afirmações imprudentes, desapontando-me por completo dado o teor deste comportamento extremamente injusto. Representantes de topo da Casa Branca e do Departamento de Estado, entre eles Bolton, o conselheiro da Casa Branca para a Segurança Nacional, tornaram públicas afirmações acerca do suposto abandono nuclear ao estilo da Líbia, 'uma desnuclearização total, verificável e irreversível', 'uma total desmobilização das armas nucleares, misseis, armas biológicas e químicas', etc., mencionando a fórmula de 'abandonarem primeiro as armas nucleares, sendo posteriormente compensados'. "

Gwan alerta que "tal não expressa a intenção de abordar a questão através do diálogo. É essencialmente a demonstração de uma jogada sinistra para impor ao nosso digno Estado o mesmo destino da Líbia e do Iraque, que colapsaram por terem subjugado os seus países por completo às grandes potências.

Não consigo suprimir a minha indignação perante estas jogadas por parte dos EUA e questionar a sinceridade dos EUA quanto à normalização das relações entre a RPDC e os EUA por intermédio de negociações e de um são diálogo.

O mundo está perfeitamente ciente de que não somos a Líbia nem o Iraque, que tiveram um destino miserável. 

É completamente absurdo atreverem-se a comparar a RPDC, um Estado detentor de armas nucleares, à Líbia que estava no estágio inicial do desenvolvimento nuclear."

Kye Gwan recorda que "já no passado destacamos as parcas qualidades de Bolton e não omitimos os nossos sentimentos de repugnância para com a sua pessoa" e alerta que "se a administração Trump não consegue aprender com as lições passadas quando as conversações RPDC-EUA foram sujeitas a percalços e distorções devido a pessoas como Bolton e der ouvidos a pseudo 'patriotas' que insistem num modelo semelhante à Líbia ou algo do género, as perspectivas de sucesso da cimeira RPDC-EUA e as relações RPDC-EUA como um todo são claras como água."

"Já tornamos pública a nossa intenção para a desnuclearização da península da Coreia", recorda, "e deixamos bem claro em várias ocasiões que uma das condições prévias à desnuclearização é dar por encerrada a política de hostilidade anti-RPDC, as ameaças nucleares e chantagens por parte dos Estados Unidos."

O diplomata alerta que "agora, os EUA estão a avaliar mal a magnanimidade e as iniciativas de abertura por parte da RPDC como indícios de fraqueza e a tentar embeleza-los e propagandeá-los como sendo fruto das suas sanções e das suas pressões.

Os EUA comportam-se como se nos fossem oferecer uma compensação económica e outros benefícios caso abandonemos o programa nuclear. Mas nunca tivemos quaisquer expectativas de apoio por parte dos EUA para levar a cabo o nosso desenvolvimento económico e nem nos interessa levar a cabo um acordo destes no futuro.

É uma comédia ridícula verificar que a administração Trump, que afirma optar por uma via diferente das anteriores administrações, ainda se agarra a uma política obsoleta no que diz respeito à RPDC - uma política levada a cabo pelas anteriores administrações quando a RPDC ainda se encontrava no estágio do desenvolvimento nuclear", alerta.

"Caso o presidente Trump siga os passos dos seus antecessores, será recordado como sendo um presidente ainda mais trágico e falhado que os seus predecessores, bem longe da sua ambição inicial de obter um sucesso sem quaisquer precedentes.

Se a administração Trump optar uma abordagem sincera na cimeira RPDC-EUA para melhorar as relações RPDC-EUA, obterá uma digna resposta da nossa parte. Contudo, se os EUA estão a tentar encurralar-nos para nos forçar a um abandono nuclear unilateral, já não teremos qualquer interesse em dialogar e teremos que reconsiderar como iremos proceder na cimeira RPDC-EUA."

Flávio Gonçalves, Pravda.ru

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Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey