Peter Kuznick sobre Vitória de Trump e Relações EUA-Rússia

Diversos especialistas e inclusive abalizados órgãos internacionais apontam que o cenário global hoje é mais preocupante que em qualquer momento da Guerra Fria do século XX. É o que pensa também o renomado historiador norte-americano, Peter Kuznick, quem ainda garante que atuais riscos de confronto nuclear são os mais sérios das últimas décadas

Peter Kuznick sobre Vitória de Trump e Relações EUA-Rússia, sob Risco de Confronto Nuclear

Diversos especialistas e inclusive abalizados órgãos internacionais apontam que o cenário global hoje é mais preocupante que em qualquer momento da Guerra Fria do século XX. É o que pensa também o renomado historiador norte-americano, Peter Kuznick, quem ainda garante que atuais riscos de confronto nuclear são os mais sérios das últimas décadas, comparável aos altamente tensos anos de 1953 e de 1949, quando parecia que a própria humanidade chegava ao fim.

Por Edu Montesanti

Versão portuguesa Pravda.Ru

O mundo vive hoje diante da incerteza do que acompanhará o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump em sua chegada à Casa Branca, especialmente no que diz respeito às relações dos Estados Unidos com a Rússia, com quem o novo presidente republicano prometeu trabalhar em conjunto, especialmente no combate ao terror global. Porém, seus ditos e feitos são repletos de contradições, fato agravado pela equipe de governo escalada por Trump para tomar posse em 20 de janeiro em Washington.

O professor doutor Peter Kuznick fala sobre a escalada de tensões entre Washington e Moscou, e o que pode ser esperado do presidente eleito Trump. O diretor do Instituto de Estudos Nucleares da Universidade Americana em Washington aponta fatores positivos na eleição de Trump para as relações de seu país com a Rússia, mas adverte: "Algumas das pessoas que aconselharam e irão aconselhar Trump, são russófobos". 

Para o professor Kuznick, a grande incógnita que representa Trump ao mesmo tempo que aponta profunda contradição na alegada intenção de normalizar as relações com o Kremlin, é evidenciada em seu lema de campanha presidencial: Os Estados Unidos primeiro.

O historiador refuta a ideia generalizada no Ocidente, de que o presidente russo Vladimir Putin quer recriar o império russo. "Os meios de comunicação dos Estados Unidos e os líderes políticos demonizam Putin". 

Nesta entrevista, ele também comenta a política externa dos Estados Unidos em todo o mundo de acordo com a lei internacional: "Os Estados Unidos fizeram uma zombaria do direito internacional durante a Guerra Fria e continuam a fazê-lo hoje".

 


Edu Montesanti: Como o senhor avalia a política do regime de Barack Obama em relação à Rússia, tanto sobre as fronteiras russas como, sobretudo, em relação ao que pode ser considerado o epicentro do que se tem denominado de uma nova Guerra Fria, isto é, a Síria?

Peter Kuznick: A política externa de Obama tem sido, em grande medida, uma mala mista. Ele resistiu aos falcões em várias áreas e fez algumas coisas positivas, como o acordo nuclear do Irã. 

Mas sua política em relação à Rússia tem sido limitada e equivocada. Ele e outros políticos pensam que podem tratar a Rússia da maneira como Bush pai e Bill Clinton fizeram na década de 1990. Levou algum tempo até perceber que Vladimir Putin não é Boris Yeltsin. 

Yeltsin se dispos a consentir em quase tudo o que os Estados Unidos desejavam fazer, incluindo a perigosa expansão da OTAN, mesmo que altos funcionários dos Estados Unidos tivessem prometido a Gorbachev que não expandiriam a OTAN um centímetro sequer rumo ao Leste europeu. A OTAN agora se expandiu para mais 12 nações, as duas últimas sob a administração de Obama. 

A seu ver, o mundo está vivendo uma nova Guerra Fria dos Estados Unidos e aliados contra a Rússia, através de "guerras de procuração"? Annie Machon, ex-oficial de inteligência britânica MI5, observou há dois anos: "Infelizmente, tenho de concordar com Gorbachev - estamos de fato diante de uma nova Guerra Fria, e desta vez é produzida pelos Estados Unidos. E acrescenta: "Ela está sendo fabricada pelos Estados Unidos porque esse país sempre precisa de uma figura de Emmanuel Goldstein para justificar seu complexo militar-industrial (...) A primeira linha de frente nesta nova Guerra Fria é a internet".

Sua visão sobre este assunto, por favor, Professor Kuznick.

Há, sim, uma nova Guerra Fria em curso, e a situação é muito perigosa. Ela tem sido impulsionada, em grande parte, por Obama, Clinton, Gates e Kerry. De certa forma, é mais perigosa do que a velha Guerra Fria. Pelo menos naquela época, os dois lados se respeitavam e se entendiam. Sabiam que havia algumas linhas vermelhas, as quais evitavam cruzar. Desta vez, os dois lados são desdenhosos um com o outro, e as regras não têm validade. 

Estamos em uma nova Guerra Fria há anos que, talvez, tenha começado em 2003 com a invasão dos Estados Unidos ao Iraque. Ou talvez tenha começado em 2008, com o anúncio de Bush de que desejava expandir a OTAN para a Geórgia e a Ucrânia. A Líbia foi um grande golpe.

Piorou em 2014 com o golpe em Kiev, seguido pela anexação da Criméia e a guerra civil em Donbass. Então, os Estados Unidos e os europeus impuseram sanções e começaram a planejar um acúmulo de tropas nos países bálticos. Além disso, os Estados Unidos implantaram seu sistema de defesa antimísseis na Polônia e na Romênia.

Os russos responderam com seu sistema Iksander. Além disso, o bombardeio russo na Síria em 2015 pegou o Ocidente desprevenido. A Rússia tem modernizado seus militares, e melhorado drasticamente suas capacidades. Não é a mesma força que parecia tão inepta em 2008. Portanto, o perigo não é apenas de uma nova Guerra Fria, mas de uma nova guerra quente. 

Existem três grandes frentes [nesta nova Guerra Fria] - e qualquer uma delas poderia explodir a qualquer momento. A situação da Ucrânia/Crimeia parece um conflito congelado. Kiev se recusa a implementar o acordo de Minsk. Sakashvilli renunciou recentemente como o regulador de Odessa, citando a corrupção desenfreada na administração de Porshenko. Outros estão igualmente frustrados com a profunda corrupção. E não há nenhum movimento no sentido de descentralizar o poder e conceder mais autonomia à região de Donbass, como exigido pelo acordo de Minsk. Mas esse conflito é mais congelado que volátil.

Os outros dois são mais perigosos. Primeiro vem a Síria, onde Hillary Clinton e outros têm reivindicado uma zona de exclusão aérea. Obama limitou o envolvimento direto dos Estados Unidos com os militares, mas os Estados Unidos têm estado intensamente envolvidos de maneira indireta fornecendo armas e assistência a grupos que se recusam a se separar da Al-Qaeda, ligada à Frente Nusra. 

Muitas dessas armas acabam nas mãos da Al Qaeda ou do Estado Islamita. A Rússia renovou seu ataque a Aleppo. Líderes norte-americanos como Samantha Power acusam-nos de "barbarismo". Isso soa hipócrita enquanto os Estados Unidos estão tomando ações semelhantes em Mosul. 

O general Dunford, presidente do Estado-Maior Conjunto, disse que uma zona de exclusão aérea significaria guerra contra a Rússia e contra a Síria. Tanto os Estados Unidos quanto a Rússia estão voando sobre a Síria, e realizando campanhas de bombardeio. Isso coloca o risco de um confronto militar. 

A situação parecia mais promissora por um tempo quando Kerry e Lavrov apresentaram planos para uma campanha conjunta de bombardeio em 9 de setembro de 2016 - um acordo que muitos nos Estados Unidos se opuseram, incluindo o secretário de Defesa Ashton Carter. 

Tudo explodiu quando forças dos Estados Unidos "acidentalmente" bombardearam e mataram dezenas de tropas do exército sírio. Um cessar-fogo russo acalmou a situação por um breve tempo, mas agora ela se esquenta novamente.

A outra [frente] está nos países bálticos e na Polônia, onde a OTAN tem estabelecido tropas, tanques e outros equipamentos militares na fronteira com a Rússia. A Rússia respondeu colocando seu sistema anti-mísseis S-400 e seu sistema de mísseis nucleares de Iksander em Kaliningrado, um pequeno enclave entre a Polônia e a Lituânia.

 

 

Como o senhor avalia a vitória de Trump em relação ao terrorismo especificamente na Síria, e no que diz respeito à normalização das relações entre Estados Unidos e Rússia?

Trump é um curinga. Ninguém sabe o que ele vai fazer - provavelmente incluindo ele mesmo. Ele não está muito bem informado quando se trata de assuntos mundiais. 

Ele disse algumas coisas sábias sobre a Rússia e a OTAN. Ele indica que procurará relações mais amistosas com a Rússia, o que seria uma um fator positivo. Qualquer coisa agora que possa reduzir o aumento da guerra entre nossos países, é extremamente bem-vinda. 

Algumas das pessoas que o aconselharam e que ainda irão aconselhar Trump, são russófobos. Eles ainda vêem a Rússia como inimiga e estão tentando convencer Trump a mudar sua visão sobre a Rússia. Quase todos os arquitetos de política externa, republicanos e democratas, pensam assim. Os senadores Lindsey Graham e John McCain estão liderando a acusação. Hillary Clinton não está muito atrás. Será que a Trump permanecerá firme diante de tanta pressão? Ninguém sabe. 

O General Michael Flynn, seu conselheiro de segurança nacional, tem sido mais razoável. Trump, deve-se lembrar, é cheio de idéias e de impulsos contraditórios. Ele quer trabalhar com a Rússia contra o terrorismo. Algo bom. Mas ele também chamou o acordo nuclear do Irã de terrível, o qual ele quer modificar. A Rússia foi fundamental para levar isso em prática. Putin também sabe o quanto o Irã tem sido importante na Síria. Então, Trump terá que mudar de posição em relação ao Irã ou enfrentar um confronto com a Rússia. Infelizmente, o círculo íntimo de Trump e seus nomeados estão unidos em um ponto - todos querem uma política mais dura em relação ao Irã. Isso é muito preocupante. 

Putin também entende a importância de lidar com o aquecimento global. Trump nega a ameaça climática, o que o torna um ignorante da ciência. Mas as consequências dessa posição também podem ser desastrosas. Portanto, a situação é complicada.

Devemos trabalhar juntos na Síria. Sem a colaboração dos Estados Unidos e da Rússia, não há esperança de um acordo. Isso envolverá a manutenção de Assad no poder por enquanto, mas acho que, no final, ele vai cair. Ele se comportou de forma brutal e repressiva, e não será capaz de trazer a oposição de volta para o processo político. Acho que Putin entende isso. Mas esta não é outra alternativa para Putin no curto prazo. Trump e Putin dizem que podem trabalhar em conjunto. Vamos dar um voto de confiança. 

Durante a campanha, a maioria dos meus colegas russos apoiaram Trump. Fiz vários discursos em universidades e dei inúmeras entrevistas coletivas em Moscou e em outros locais, em que apoiei Hillary Clinton contra Donald Trump. Esta não era uma visão popular na Rússia, embora a maioria dos alunos do MGIMO [Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou] que pretendem ser futuros diplomatas, concordaram comigo. Esse não era o caso entre estudantes e professores da Universidade Estadual de Moscou. Mas os adverti que era melhor ficar com o diabo que você conhecia, do que arriscar no diabo que você não conhece, especialmente quando aquele diabo era tão precipitado e imprevisível quanto Donald Trump. 

Trump pode soar melhor nas relações dos EUA com a Rússia, mas ele é pior em outras coisas incluindo a política nuclear, que é assustadora. Clinton era má; Trump é potencialmente desastroso. Estou apreensivo. Algumas das pessoas que ele nomeou para a equipe de governo e para consultoria, são extremamente belicistas.

Qual sua opinião, professor Peter Kuznick, sobre a posição do Kremlin em relação a Washington?

Os meios de comunicação dos Estados Unidos e os líderes políticos demonizaram Putin. Isso é contraproducente, não nos leva a lugar nenhum. Estão alimentando temores de uma invasão russa dos Bálticos. Não há nenhuma evidência para apoiar isto. Putin não quer recriar o império russo. Durante o período soviético, a Rússia manteve governos amigáveis ​​como uma zona tampão entre si e o Ocidente, particularmente na Alemanha pela qual havia certo receio temiam após a Rússia de ter sido invadida duas vezes pelos alemães, em um período de 25 anos. Mas a Europa Oriental não era um trunfo para a Rússia. Na verdade, foi um fardo para a economia russa. Na verdade, foi mais um inchaço no orçamento militar que causou o colapso da União Soviética. Putin não precisa nem quer um novo império. Ele só quer que a Rússia seja levada a sério como grande potência e consultada sobre decisões que afetam seu destino. 

Durante os anos de Yeltsin, os Estados Unidos e os europeus ocidentais se acostumaram a cavalgar sobre a Rússia. Yeltsin cedeu quase tudo o que queria impondo uma terapia de choque à economia russa, o que permitiu que o Ocidente e os novos gangsters capitalistas russos basicamente a saqueassem a fim de expandir a OTAN, que finalmente chegou à fronteira com a Rússia. 

Quando a OTAN e a União Europeia ultrapassaram os limites, Putin disse chega. O Ocidente precisa começar a reconhecer que existem limites em relação ao quanto podem avançar no sentido de impor seus pontos de vista sobre o mundo. Rússia e China estão deixando isso claro. Trump parece entender melhor do que Bush e Obama, mas temos que esperar para ver se suas ações são verdadeiras para suas palavras. 

 De acordo com as leis internacionais, como o senhor vê a política externa dos Estados Unidos que impõe os interesses econômicos norte-americanos, colocando--os sempre mesmo que para isso se utilizem da força militar e, muitas vezes, do termo "intervenções humanitárias" para tentar legitimar a defesa velada desses interesses?

Os Estados Unidos escarneceram do direito internacional durante a Guerra Fria, e continuam fazendo isso hoje. É quase cômico ouvir funcionários do governo norte-americano queixarem-se da interferência russa nas eleições nos Estados Unidos, quando exatamente os Estados Unidos têm interferido em eleições em todo o mundo há 70 anos. 

É quase cômico ouvir os Estados Unidos se queixarem de que a Rússia raqueou correios eletrônicos e praticou roubo cibernético, quando Edward Snowden expôs a extensão das operações cibernéticas dos Estados Unidos, que atingiram todos os países do planeta. 

É quase cômico ouvir os Estados Unidos se encherem de ódio pela incorporação russa da Criméia ou pela intervenção na Ucrânia, quando os Estados Unidos invadiram país por país com suas Forças Especiais, operando em cerca de 135 nações. 

Trump disse algumas coisas muito preocupantes sobre estes pontos. Ele defendeu o uso da tortura. Manifestou o desejo de manter a prisão em Guantánamo. Ameaçou não apenas matar terroristas, mas também os membros de suas famílias. Todas estas coisas, são violações do direito internacional.

Como o senhor avalia a posição de Washington, que considera a Rússia inimigo número 1, ameaça crescente à segurança nacional dos Estados Unidos? O New York Times publicou em 17 de novembro de 2016: "(...) A nova administração [Trump] deve enfrentar ameaças de rápida evolução envolvendo o Irã, a Coréia do Norte, a Síria e a Rússia, entre outros, e definir como gerenciar as relações com os aliados na Europa e na Ásia ".

Trump diz que quer manter boas relações com a Rússia, e acha que pode. O New York Times, o Washington Post e as elites de política externa, neoconservadoras e neoliberais, estão pressionando para o confronto.

Mitt Romney disse há quatro anos que a Rússia era o inimigo número um dos Estados Unidos. E ele é, justamente, um dos políticos mais sóbrios.

O senhor acha que o presidente eleito Trump não vai ceder à intensa pressão em torno dele, para enfrentar a Rússia? Lembremo-nos que o presidente eleito Trump disse durante sua campanha: "Nós fomos desrespeitados, ridicularizados e roubados por muitos, muitos anos por pessoas mais inteligentes, mais astutas e mais duras". Trump também criticou o presidente Obama por logo retirar tropas do Iraque. Seu discurso não evidencia uma profunda contradição?

A questão principal é que Trump é envolto em contradições óbvias para todos, a não ser para si mesmo. Ninguém tem ideia de qual Donald Trump realmente prevalecerá. Ele está tentando conciliar sua base que não quer parte na guerra e a continuação de políticas imperialistas, e a imagem do establishment que exige que os Estados Unidos continuem sendo a única superpotência e hegemonia do mundo.

Há um forte potencial para uma aliança da esquerda progressista com a direita libertária, os partidários de Bernie Sanders e os partidários de Ron Paul a fim de derrotar as políticas hegemônicas do establishment, destinadas a manter o império norte-americano.

Trump e Putin têm criticado a ideia do excepcionalismo norte-americano, mas então Trump contradiz-se com o absurdo de tornar os Estados Unidos grandes novamente. Quem sabe o que isso significa?

O senhor acha que o mundo, ou pelo menos o Ocidente realmente precisa da OTAN e do exército da União Europeia?

Concordo com Trump que a OTAN tem sobrevivido para muito além de sua utilidade. De fato, o mundo teria sido melhor se Truman nunca a tivesse criado. Khrushchev e Kennedy estavam caminhando para terminar com a Guerra Fria e desmantelar as alianças militares em 1963, quando Kennedy foi assassinado.

Gorbachev novamente propôs tais medidas em 1989. Infelizmente, George H. W. Bush desperdiçou essa oportunidade enquanto Reagan desperdiçou a chance de eliminar as armas nucleares em 1986.

No mínimo, a OTAN precisa reverter sua recente expansão militar e abandonar os planos de enviar milhares de soldados da OTAN para os países bálticos.

Quais os riscos de confronto nuclear, se é que existem em sua visão?

O risco de uma guerra nuclear é muito grave. O Bulletin of the Atomic Scientists [Boletim dos Cientistas Atômicos] definiu seu Doomsday Clock [Relógio do Dia do Julgamento] em três minutos para a meia-noite [referência usada para indicar a iminência de ataque nuclear]. O mais perigoso foi dois minutos para a meia-noite [em 1953]. A realidade é que as tensões entre os Estados Unidos e a Rússia são as piores em 54 anos. 

O que Kennedy e Khrushchev aprenderam durante a Crise de Mísseis de Cuba é que, uma vez que uma crise se desenvolve, ela rapidamente sai do controle. Apesar do fato de que ambos estavam tentando desesperadamente evitar uma guerra nuclear em 1962, eles perceberam que tinham perdido o controle. Não foi um estado de espírito brilhante que nos salvou, mas sim uma pura e estúpida sorte. Eles se reciclaram depois disso a fim de eliminar qualquer conflito que pudesse causar outra crise. Essa foi a iniciativa de Khrushchev, e Kennedy finalmente respondeu. 

Existem agora várias situações que poderiam sair do controle. Se isso acontecer, elas podem atingir grande escalada sem que ninguém queira. Quem retrocede? Quem aceita a derrota? Putin? Trump? Precisamos desarmar todas as crises antes de chegarem a esse ponto.

 Temos também uma situação muito perigosa entre a Índia e o Paquistão. Estudos científicos recentes dos professores Robock, Toon, Stenchikov e outros mostram que mesmo uma guerra nuclear limitada entre a Índia e o Paquistão, em que 100 armas nucleares pequenas do tamanho de Hiroshima fosse usada, poderia causar um inverno nuclear parcial, resultando na morte de até dois bilhões de pessoas. 

Atualmente, existem 15.300 armas nucleares no mundo. 95% ou mais, controlados pelos Estados Unidos e pela Rússia. A maioria é de oito a 80 vezes mais poderosa que a bomba de Hiroshima. O que aconteceria se houvesse um revide nuclear relativamente pequeno? Sabemos que, se as cidades fossem queimadas, produziriam tanta fumaça que os raios solares seriam bloqueados, e as temperaturas cairiam abaixo de zero por vários anos. Humanos e grandes animais morreriam, já que a agricultura seria devastada. Toda a vida no planeta estaria ameaçada. 

A teoria do inverno nuclear que os cientistas desenvolveram nos anos 80 recebeu fortes ataques, e foi amplamente ridicularizada. Mas os últimos estudos mostram que os cientistas estavam apenas errados enquanto subestimavam a extensão dos danos que seriam causados. É muito pior do que pensávamos na década de 1980. O limiar para acabar com a vida em nosso planeta é menor. 

Embora haja muito menos armas nucleares agora do que as 70 mil que já existiram, há muito mais que o suficiente para causar o inverno nuclear. Esse é o desafio para a nossa espécie. Devemos evitar conflitos e guerras que possam levar à guerra nuclear. Trump entende isso? Espero que sim, e gostaria de apostar todas as minhas fichas nisso.

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey