Abuelas de Plaza de Mayo Recebeu os Documentos Desclassificados pelos Estados Unidos
O governo argentino entregou a organizações de direitos humanos e a jornalistas mais de 1081 folhas de documentos entregues pelo país do norte.
Os documentos desclassificados por "14 agências e departamentos do governo dos EUA", que abrangem o período que se estende de 1977 a 1982, entregues hoje às organizações de direitos humanos, confirmam o plano sistemático de repressão executado pela ditadura cívico-militar argentina e o papel de Washington no chamado Plano Condor na região.
Durante uma entrevista coletiva conjunta realizada na Casa Rosada, o vice-chanceler Carlos Foradori, o secretário de Direitos Humanos e Pluralismo Cultural, Claudio Avruj, e o Representante Especial para os Direitos Humanos do Ministério das Relações Exteriores, Leandro Despouy, concordaram que a documentação desclassificada inclui casos de sequestros e torturas emblemáticos como os de Alberto Samuel Falicoff; Alfredo Bravo; Jacobo Timerman, a família de Alejandro Deutsch; o relatório escrito por Patricia Derian sobre a situação dos direitos humanos no país, relatórios de inteligência sobre como se deu o golpe de Estado de 1976, as "negociações" entre os Estados Unidos e as Forças Armadas por questões "geopolíticas", e as cartas enviadas pelo então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, a Jorge Videla.
O responsável por receber as pastas e o CD com 1081 folhas de documentos desclassificados foi o secretário das Abuelas de Plaza de Mayo, Abel Madariaga, quem esteve acompanhado pelo representantes do CELS, Familiares de Presos Desaparecidos por Razões Políticas, a APDH, e a Equipe Argentina de Antropologia Forense.
De acordo com Avruj, os documentos "foram entregues a Abuelas porque foi uma das organizações que formalmente solicitou a desclassificação, mas estarão disponíveis ao público no Museu da Memória". Ele também afirmou que o governo nacional assinou acordos com Uruguai, Chile, Brasil e Paraguai para expandir a desclassificação a esses países.
Entre os documentos - na maioria escritos em inglês - incluem relatórios de inteligência sobre as negociações entre o governo dos Estados Unidos e Jorge Videla para a cooperação da ditadura Argentina com a Rússia e Cuba no contexto da Guerra Fria, a pressão para a assinatura de tratados de não-proliferação nuclear, assim como as negociações entre Carter e Videla para que este último autorizasse a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), além de pedidos de libertação de presos desaparecidos.
Despouy, por sua vez, anunciou que vai pedir à Casa Branca que abra arquivos anteriores ao golpe de Estado de 24 de março de 1976, dos anos de 73 e de 74, que abranjam as ações da Triple A, documentos que se somarão aos mais de 4000 já desclassificados e entregues pela UNESCO, que serviram para provar os crimes contra a humanidade no Julgamento das Juntas Militares".
Fonte: Jornal Página 12 (Argentina) / Tradução de Edu Montesanti