O Tea Party, Trump e Cruz

Tea Party, agrupamento de extrema-direita do Partido Republicano dos Estados Unidos que apoia seres como Donald Trump e Ted Cruz, tem dado espetáculo diário, comédia trágica no que diz respeito à peculiar arte de espalhar ódio e medo entre a sociedade norte-americana.


Newsletter traz a cada dia afirmações, cheias de exclamações, do tipo: "Obama quer transformar os EUA em país socialista, defende ideia que o país cresceu baseado no colonialismo e quer transformar nossa querida nação em um país do Terceiro Mundo"; "Obama trai a pátria: deseja manter imigrantes ilegais no país!"; "Obama não é cristão: é islamita!!"; ""Olhem, Obama é o anti-Cristo... muçulmano radical... amigo e protetor de terroristas"; "Obama está se negando a defender a América dos terroristas"; "Obama planeja declarar guerra aos cidadãos norte-americanos". 

Toda essa histeria (nenhuma novidade entre a sociedade em questão, produtora de grupos terroristas como Ku Klux Klan que se baseia em ódio esquizofrênico semelhante) começou já na campanha presidencial dos idos de 2008. O tempo passou e, como o agrupamento de péssimo gosto intelectual e moral não pode dar o braço a torcer, segue tentando (no último ano do mandato de Obama) passar ridícula ideia de que o ocupante da Casa Branca pretende fazer dos Estados Unidos um país socialista. Seria mais ridículo ainda gastar tempo aqui, a fim de contradizer tanta estupidez (para nem mencionar o ódio étnico e religioso mais explícito).

O espetáculo verborrágico-esquizofrênico não poderia faltar neste 1º de maio: Newsletter do Tea Party traz isto aos seus simpatizantes "revolucionários" (como se autodenominam): 'Make America Mexico Again': The Radical Left's Attempt to Strike Down the United States, ou seja, Fazer dos Estados Unidos, De Novo, um México: Tentativa da Esquerda Radical [Obama incluído] de derrubar os Estados Unidos.

O ódio deste setor republicano que satisfaz seus mórbidos apetites psíquicos caçando fantasmas, é mais uma vez desferido contra os vizinhos:

"As ações de Obama são absolutamente vergonhosas - a partir de suas ações para legalizar os ilegais, à sua disposição de importar uma doença mortal [os mexicanos] sem caráter e sem paixão pelas mulheres, crianças e famílias da América.

"(...) Ondas de choque que poderiam sufocar os Estados Unidos, e transformar nossa grande pátria em uma nação do Terceiro Mundo no calar da noite.

(...) Criamos uma mensagem tão poderosa, que vai sacudir os socialistas de Obama - detê-los, mortos em suas trilhas. Vamos enviar um poderoso AVISO ao Congresso, que vai fazer seu sangue ferver e seu estômago revirar. Você ao meu lado? [pergunta aterrorizado ao mesmo tempo com tom de intimidação o diretor da agremiação, Steve Eichler, aos seus simpatizantes]. 

"Por favor diga sim. Isso é uma GUERRA. Nossa estratégia poderia deter Obama", continua o comunicado dizendo ainda que devem se precaver do fato de que Obama "vai se vingar do povo norte-americano".

Assim como o tal de Tea Party, atualização imbecilizada da caça às bruxas comunistas, religiosas, raciais e de classe macarthista, nunca se indigna minimamente diante dos comprovados crimes de guerra perpetrados pelos Estados Unidos,  nem pelas crianças traficadas da América Latina por agentes estatais, escravizadas, estupradas e encarceradas em campos de concentração, e nem  diante do terror diário por parte das forças do Estado e da elite branca e protestante de seu decadente país.

No caso específico da Newsletter do dia 1º, tampouco é mencionado o fato que o povo mexicano sim, teve 50% de seu território covarde e violentamente anexado pelo Império mais terrorista da história, e que portanto deveria a cada ano fazer a mesma pergunta inicial doTea Party em um tribunal internacional, com Tio Sam no banco dos reus: Fazer dos Estados Unidos, De Novo, um México?. Vale apenas lembrar aos caçadores de comunistas de turno que quem fez dos Estados Unidos um México não foi a "esquerda radical", pelo contrário: deu-se por obra e graça dessa mesma elite branca, protestante, discriminadora e esquizofrênica.

O pior de tudo é que a influência "cultural" norte-americana é exercida nos mais remotos rincões do planeta, exportando discriminação e terror psicológico através da mídia (inclusive a indústria cinematográfica pautada, comprovadamente, pela CIA), encontrando eco especialmente entre nações cujo sistema democrático é mais frágil, entre povo menos politizado e menos voltado á educação.


Tal histeria, tão raivosa quanto seletiva, soa familiar a uma certa elite tupiniquim?

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey