logo

Breve história do Dia Internacional do Trabalhador

Breve história do Dia Internacional do Trabalhador

Vamos fazer uma viagem. Da celebração pagã de fertilidade, Beltane... passando pelo festival romano de Florália, para a luta para a jornada de 8 horas nos Estados Unidos da América, nos fins do século XIX onde nasceu o Dia Internacional do Trabalhador e sua internacionalização.

Beltane, Festival da luz

Beltane (ou Bealtaine ou Cetsamhain) é o nome do Festival da Luz dos Celtas britânicos, indicando a morte do Inverno e o início da Primavera, celebrado neste dia. É uma festividade de fertilidade, simbolizando a união das forças masculinas e femininas e foi celebrado pelo acto de acender uma fogueira nova – nova vida. O gado atravessava a fogueira ou o seu fumo e os jovens saltavam por cima das chamas para serem protegidos com nova vida.

Florália

O início de Maio também foi uma altura importante para os romanos. Eles celebravam o festival da Flora, Deusa das Flores (em português, deriva a palavra "folar", pão de Páscoa, desta origem). A celebração da Flora foi o Festival da Florália, que durava 5 dias desde 28 de Abril até 2 de Maio. Durante a Idade Média em toda a Europa, esta altura era celebrada com cantares e danças. As populações iam às florestas trazer uma árvore para o centro da aldeia/vila, tiravam os ramos e as folhas e o tronco era o centro das atenções – as pessoas dançavam à volta dele.

Celebrações de Maio no Novo Mundo

Estas formas europeias de celebrar o início do ano de plantações/fertilidade atravessaram o Oceano Atlântico e embora fossem reprimidas pelos Puritanos, sobreviveram entre os povos do Novo Mundo.

Como nasceu o Dia Internacional do Trabalhador?

E foi nos Estados Unidos da América que nasceu o movimento laboral que iria escolher este dia para celebrar as suas reivindicações. As associações e sindicatos de trabalhadores organizavam-se durante o século XIX e começaram a lutar contra deploráveis condições de trabalho – entre 10 a 18 horas por dia e em alguns casos, sem qualquer segurança. Em algumas indústrias, a esperança de vida entre os trabalhadores nem chegava aos 25 anos!

Os sindicatos/associações formavam a Federação de Ofícios e Sindicatos Laborais Organizados (FOTLU), mais tarde a Federação Americana de Labor, que na sua Convenção Nacional em Chicago em 1884, proclamou que a partir do dia 1 de Maio de 1886, a jornada seria de oito horas. FOTLU anunciou que iria iniciar uma série de manifestações e greves para aplicar pressão nas autoridades no sentido de forçá-las a implementar o novo regime de trabalho. Entretanto o movimento laboral foi brutalmente reprimido pelos agentes de segurança Pinkerton e as forças policiais.

Quando chegou o dia, 1 de Maio de 1886, cerca de 300.000 trabalhadores em 13.000 firmas entraram em greve. Chicago foi o epicentro do movimento laboral e nomes como Louis Lingg, Johann Most, Albert Parsons e August Spies estarão para sempre ligados a este dia. As greves e o ambiente revolucionário criado pelas várias facções ligadas ao movimento laboral continuaram durante os dias 2 e 3 de Maio, mas em clima de paz. Tudo iria mudar, porém, no dia seguinte.

Massacre de Haymarket

Devido à crescente brutalidade das autoridades contra o movimento pacífico laboral, os operários decidiram organizar uma conferência pública na Praça de Haymarket (Harmarket Square) em Chicago no dia 4. O orador principal, August Spies, falava à multidão de operários e suas famílias, incluindo muitas crianças, nos direitos de trabalho. Testemunhas oculares, incluindo o Prefeito de Chicago, declararam que nunca usou qualquer palavra inflamatória e nunca fez qualquer apelo à violência.

No entanto, as forças policiais começaram a carregar de forma violenta contra a multidão; alguém (não se sabe se foi um operário ou um agent provocateur próximo das autoridades) arremessou uma bomba artesanal contra os policiais e estes, por sua vez, abriram fogo contra os operários e suas famílias.

Oito líderes anarquistas foram presos e acusados de instigarem a violência e os jurados (escolhidos entre o tecido corporativo de Chicago) acharam-nos culpados. Quatro foram enforcados e um (Lingg) suicidou-se na sua cela na noite antes do seu enforcamento em Novembro de 1887. Os outros três foram perdoados seis anos depois devido à grande injustiça do processo extra-judicial.

Nunca foi adoptado nos Estados Unidos da América como feriado nacional, mas o movimento operário e suas reivindicações ecoaram pelo mundo fora, onde o dia 1 de Maio começou a ser foco de manifestações a favor dos direitos dos operários. A Internacional Socialista proclamou-o o Dia Internacional do Trabalhador em 1889.

Em 1890, manifestações no dia 1 de Maio eram já generalizadas, na Irlanda, na Rússia, no Brasil, no Chile, Peru, Cuba… O dia tornou-se feriado nacional no Brasil em 1925 (Decreto-Lei do Presidente Arthur Bernardes) e a legislação de Getúlio Vargas na década de 1930 introduziu a jornada de oito horas e o direito a férias. Em Portugal, os operários tinham de esperar até quase meio século mais tarde, pela Revolução do 25 de Abril de 1974...

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

tem trabalhado como correspondente, jornalista, editor-adjunto, editor, editor-chefe,  gerente de projeto, diretor, diretor executivo, sócio e proprietário de publicações diárias, semanais, mensais e anuais impressos e on-line, emissoras de TV e grupos de mídia impressos, difundidos e distribuídos em Angola, Brasil, Cabo Verde, Timor Leste, Guiné-Bissau, Portugal, Moçambique e São Tomé e Príncipe; tem contribuído para a publicação do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa, Dialog e tem escrito para o Ministério das Relações Exteriores de Cuba nas Publicações Oficiais.

Passou as últimas duas décadas em projectos humanitários, ligando comunidades, trabalhando para documentar e catalogar línguas, culturas, tradições em vias de desaparecimento, trabalhando para formar redes com as comunidades LGBT, ajudando a criar abrigos para vítimas abusadas ou assustadas e como Media Partner da ONU Mulheres, trabalhando para promover o projeto UN Women para lutar contra a violência de gênero e de lutar por um fim ao sexismo, racismo e homofobia.

Vegano, é também Media Partner da Humane Society International, lutando pelos direitos dos animais. Ele é diretor e editor-chefe da versão em Português do Pravda.Ru desde o lançamento em 2002.

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey