Greve de Fome presos políticos saharauis do grupo de Gdeim Izik
Os presos políticos saharauis do grupo de Gdeim Izik, anunciou a sua decisão de lançar uma greve de fome num acto extremo para reivindicar o seu direito à liberdade, e para lembrar a brutalidade do ataque militar marroquino e brutal desmantelamento do acampamento de protesto pacífico de Gdeim Izik, composto por cidadãos saharauis que defendiam os seus direitos enquanto indivíduos e como povo.
Passaram mais de cinco anos desde que ocorreram estes factos e durante este tempo, milhares de vítimas e centenas de prisioneiros foram submetidos a todos os tipos de tortura e abuso. Entre eles, 25 do grupo de Gdeim Izik acusados de crimes que não foram provados e julgados por um tribunal militar que os sentenciou de 20 anos a prisão perpetua, sendo que 21 de eles se encontram na prisão marroquina Salé 1 em Rabat, dois foram libertados no final do julgamento com penas cumpridas de dois anos e meio, um está em liberdade condicional e um quarto, Hassana Aalia foi julgado em ausência e encontra-se em Espanha com pedido de asilo político.
Por estas razões e devido à contínua repressão e privação dos seus direitos, o grupo dos presos políticos saharauis em Gdeim Izik, emitiu o seguinte comunicado:
Comunicado da Comissão de greve
Greve de fome de tempo indeterminado dos prisioneiros de Gdeim Izik com inicio a 1 de março de 2016
Prisão Salé-Rabat
"O campo em que a liberdade sempre foi conhecida, (...) é no domínio da política e não no da interioridade ou da vontade. A liberdade não é fazer o que eu desejo, mas sim iniciar uma ação com coragem. Hannah ARENDT em "A Crise da Cultura" em 1974.
Passados 5 anos e meio de prisão arbitrária e do julgamento ilegal, pelo tribunal militar das Forças Armadas Reais marroquinas, de 17 de fevereiro de 2013, que nos condenou a penas que variam de 20 anos à prisão perpetua e que são a expressão da vingança do Estado marroquino contra a nossa luta pacífica pela liberdade, iniciamos uma greve de fome por tempo indeterminado para:
-Chamar a atenção da ONU e do SG das Nações Unidas para a nossa situação, a própria ONU reconheceu que a detenção é arbitrária (ver Relatório 2014 do Relator Especial para a detenção arbitrária). A visita de Ban Ki-Moon nestes dias aos acampamentos de Tindouf é uma oportunidade para a Frente Polisário discutir a nossa situação e a de todos os presos políticos saharauis em Marrocos e no Sahara Ocidental ocupado.
-Renovar a mobilização da solidariedade nacional e internacional sobre a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados do Sahara Ocidental e sobre a situação dos presos políticos em todas as prisões.
-Contribuir para denunciar as manobras e os obstáculos postos em prática pelo Estado marroquino contra os esforços das Nações Unidas tanto no plano das negociações políticas e do trabalho do representante pessoal do SG, sobre a principal reivindicação da resistência pacífica nos territórios ocupados, ou seja, a expansão do mandato da MINURSO à monitorização dos direitos humanos, reivindicação esta, que foi integrada num projecto de resolução por um dos membros do Conselho de segurança desde 2013 e a organização do referendo de autodeterminação do povo saharaui.
-Intensificar a pressão sobre o governo marroquino para que este anule o acórdão do tribunal militar de Rabat, de Fevereiro de 2013 e obter a nossa libertação imediata e incondicional.
- Obter o reconhecimento do nosso estatuto de presos políticos e todos os nossos direitos como definido pela lei internacional dos direitos humanos e do direito internacional humanitário.
- Solicitar o apoio das ONG internacionais de direitos humanos, associações de solidariedade e todos os mecanismos especiais da ONU para garantir o nosso direito de ser transferidos para perto das nossas famílias em El Aaiun, a capital Sahara Ocidental.
Os 13 prisioneiros em greve são:
Mohamed Bashir Boutanguiza, Sidahmed Lemyejed, Ahmed Sbaai, Mohammed Bani, Brahim Ismaili, Sidi Abdullah Abahah, Naama Asfari, Hassan Dah, Mohammed Boreal, Cheikh Bang, Mohammed M'Barek Lefkir, Abdullah Toubali y Bashir Khada
Não participam da greve os presos doentes.
AS ONG's saharauis ASVDH, CODESA e o coletivo de advogados nomearam uma Comissão de Acompanhamento da greve por tempo indeterminado, cuja missão é coordenar com as ONG marroquinas de Direitos Humanos, designar as pessoas que virão a Rabat para entrar em contato com os responsáveis políticos das embaixadas e da representação da UE em Rabat, estarem em contacto com os membros do Conselho de segurança e informar as organizações internacionais e ONG's de direitos humanos sobre a situação dos grevistas e as respostas do estado marroquino.
Salé, 29 de fevereiro de 2016.
Pela Comissão dos prisioneiros greve por tempo indeterminado de Gdeim Izik:
Naâma Asfari