Bioma é um conceito usado em ecologia para designar um conjunto de ecossistemas correlacionados entre si. No recorte do território brasileiro, foram identificados sete biomas pela WWF: a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal Mato-grossense, os Campos Sulinos, a Caatinga, a Mata Atlântica e a Zona Costeira. O Ministério do Meio Ambiente embute a Zona Costeira na Mata Atlântica. É preciso considerar que, na frente da Amazônia, também existe Zona Costeira. Exemplifiquemos com a Amazônia, por exemplo. No bioma, existem os ecossistemas fluviais e lacustres; as matas permanentemente inundadas, em que a base das árvores está sempre sob as águas; as matas inundáveis, ora alagadas, ora secas; as matas de terra firme; os campos limpos e sujos e, na costa, as restingas e os manguezais. Tudo forma o Bioma Amazônico, no qual predominam formações geológicas de planície, enormes reservas de água doce, clima equatorial e extensas massas florestais.
Arthur Soffiati, ecohistoriador e ambientalista
Já o Cerrado conta com solos antigos e bastante trabalhados por processos naturais, déficit hídrico, ecossistemas florestais nativos de médio porte, árvores tortuosas e de casca grossa para a conservação da umidade e fauna pujante, sobretudo alada. Embora predomine a vegetação arbustivo-arbórea, existem as veredas, onde a água é mais abundante, chegando a aflorar, e onde reina a palmeira buriti.
O Pantanal é uma planície alagada e alagável pela bacia do Rio Paraguai. A diversidade ambiental é fantástica em termos de ictiofauna, herpetofauna, avifauna e mastofauna. Há ainda rios de água cristalina e de beleza invulgar.
Os Campos Sulinos são mais conhecidos como Pampas, espraiando-se pelo Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina. Trata-se de uma imensa planície com arroios e originalmente uma vegetação herbácea onde pastavam emas e outros animais.
A Caatinga, por sua formação geológica, seu relevo, seus solos, seu déficit hídrico, apresenta uma vegetação primeva entre savana e estepe adaptada a secas prolongadas e ao aproveitamento máximo da água. Paira o mito de que este mato (caa) branco (tinga) seja pobre em biodiversidade. No entanto, ela era bem elevada no período pré-cabralino.
A Mata Atlântica que, cada vez mais, é chamada de Domínio Atlântico, trata-se de um bioma com florestas úmidas geralmente acompanhando a Serra do Mar, florestas estacionais nas partes baixas e com menor umidade, florestas mistas e campos de altitude.
Por fim, a Zona Costeira envolve ecossistemas diversos: restingas, em toda a costa brasileira, manguezais, marismas e praias. A vegetação herbácea, arbustiva e arbórea das restingas medra em solo arenoso. Vez que outra, aparecem os costões rochosos, com sua vegetação rupícola. Os manguezais são riquíssimos ecossistemas estuarinos com vegetação exclusiva e adaptável a elevados teores de salinidade. As marismas ocorrem principalmente no Rio Grande do Sul, embora possam aparecer em outros pontos da costa brasileira. Nelas, a salinidade da água limita o desenvolvimento de plantas intolerantes ao sal e estimula as plantas halófilas.
Os principais problemas que afetam o Bioma Amazônico são o desmatamento, as queimadas, as obras de engenharia (como as represas), o garimpo (que vem contaminando os rios com mercúrio), a agropecuária, a caça e o interesse crescente das empresas farmacêuticas pelo valor econômico de sua megadiversidade. Estima-se que, de 1500 aos dias de hoje, os ecossistemas florestais amazônicos tenham sofrido um decréscimo de, pelo menos, 15%.
Já a situação do Cerrado inspira mais cuidados. A partir da segunda metade do século 20, o bioma perdeu 50% de sua vegetação nativa na abertura de novas fronteiras agropecuárias. Dentre as muitas atividades rurais, as mais incrementadas são a soja e o gado para exportação. Há também um considerável processo de urbanização depois da transferência da capital do país para Brasília, em 1960. Hidrelétricas, dutos e estradas completam o quadro preocupante do Cerrado.
Era inimaginável que o Pantanal, com tanta água, pudesse ser vítima de grandes agressões ambientais. Mas está sendo. A supressão da vegetação nativa aumenta para dar lugar a pastos, muitos deles extensivos. Os teores de poluição já começam a assustar os especialistas. A pesca e a caça já ultrapassam os limites da sustentabilidade dos ecossistemas. Há ameaças à biodiversidade. Já os Campos Sulinos passaram por mudança tão radical com o estilo de vida europeu que pouco restou de sua composição florística original. Os arroios estão poluídos e a fauna nativa foi expulsa pelo gado.
A Caatinga sofreu muitas agressões antrópicas. Sua tendência à aridez começou a ser intensificada já em fins do século 16, quando o gado do litoral começou a se deslocar para interior a fim de não competir com a cana e com o algodão plantados no Domínio Atlântico e na Zona Costeira. As imensas fazendas de gado subiram o Rio São Francisco e desceram o rio Parnaíba, principalmente. Progressivamente, as secas foram se tornando mais intensas e destacaram o Nordeste no cenário nacional. Luiz Gonzaga as imortalizou em suas tristes canções.
Um dos mais atingidos biomas foi o Domínio Atlântico. Com cerca de um milhão de quilômetros quadrados em 1500, tem sua superfície atual reduzida a 7% da original. As principais cidades brasileiras cresceram em seu âmbito. Hoje, habitam nele mais de 80 milhões de pessoas. Os custos ambientais do extrativismo vegetal, da agropecuária, da industrialização e da urbanização foram altos. Majestosas florestas transformaram-se em lenha ou em madeira nobre. Nascentes secaram, rios se tornaram torcidos, assoreados e poluídos. As famosas biodiversidade e beleza da Mata Atlântica, tão caras a Tom Jobim, desaparecem rapidamente, transformando o Domínio Atlântico num dos mais ameaçados do planeta.
A Zona Costeira, a primeira parte do território do futuro Brasil a sentir o peso do pé europeu. Área de baixada, regada por rios que descem das montanhas, ela também sofreu destino idêntico ao do Domínio Atlântico: extrativismo mineral, vegetal e animal, implantação indiscriminada da agropecuária, urbanização e industrialização. Praticamente todos os seus rios e lagoas estão poluídos assoreados e eutrofizado. As praias sofreram uma ocupação desordenada que as descaracterizou. Os manguezais estiolam.
Quinhentos anos de colonização européia destruíram os biomas brasileiros incomensuravelmente mais do que o fizeram os povos nativos em 15 ou 20 mil anos de ocupação e uso de uma natureza luxuriante. Voltar às origens não é mais possível, mas é viável reverter parcialmente o processo de destruição, restaurando ecossistemas e biomas para estabelecer um modus vivendi equilibrado entre a sociedade brasileira e seu meio ambiente.
O conceito mais usual de bioma diz que se trata de um conjunto de vegetação nativa que alcançou situação clímax, ou seja, um grau de maturidade avançado. Neste sentido, o conceito não se aplicaria aos ambientes marinhos e insulares, nem mesmo, na verdade, ao bioma costeiro, com suas formações vegetais pioneiras.
No entanto, outro conceito, mais geral, entende um bioma como um conjunto de ecossistemas interligados por razões pedológicas, climáticas e latitudinais. Por este prisma, podemos acrescentar mais dois biomas aos sete reconhecidos pela WWF no Brasil: o oceânico e o insular oceânico.
O primeiro é formado pelos vários ecossistemas marinhos afastados da costa. No Brasil, estes ecossistemas se caracterizam pela temperatura amena e pelas correntes oceânicas. O bioma oceânico brasileiro localiza-se no Oceano Atlântico a abriga muitas espécies de clima tropical que nele vivem o tempo todo, ou nele vêm se acasalar ou ainda procriar e passar parte a sua vida infantil e juvenil até poderem retornar aos seus ambientes de origem. É o que ocorre com algumas espécies de baleias e peixes. O biólogo Fábio Scarano propôs que a Plataforma Continental seja considerado bioma.
Já o bioma insular oceânico é constituído pelas poucas ilhas oceânicas em domínio marinho brasileiro. As que mais se destacam são o Rochedo de São Pedro e São Paulo, o arquipélago de Fernando de Noronha o Atol das Rocas e as ilhas de Trindade de Martim Vaz. O isolamento delas permite, por um lado, o desenvolvimento de espécies distintas das continentais. Por outro, sua fragilidade é muito grande, pois apenas uma espécie introduzida nelas pode causar grande desequilíbrio ecológico, como ocorreu com a introdução de cabras na Ilha de Trindade.