Como já escrevi na coluna que inaugurou essa minha série "Duopoly Watch" para o The Greanville Post, um dos livros mais importantes do grande líder da Revolução Russa, Vladimir Ilyich, Lênin, foi O Estado e a Revolução (1918). Dentre outras coisas, escrevi que:
"o livro trata da natureza do aparelho do Estado em regime capitalista. É importante compreender que o aparelho do Estado nunca existe independentemente do sistema econômico do país dentro do qual o Estado está erigido (itálicos nossos). Em vez disso, o Estado lá está para assegurar que ele, o sistema econômico, permaneça bem firme no seu lugar. Os desacordos entre partidos políticos nas nações capitalistas acontecem em torno de como melhor proceder para manter no comando sempre a mesma classe governante, vale dizer, os indivíduos, corporações, organizações e interesses que têm as mãos postas nas alavancas do poder econômico [e consequentemente político] na nação. Em outras palavras, para manter no comando os beneficiários principais e diretos do governo do capital."
Sobre a natureza da 'democracia constitucional' em regime capitalista, o próprio Lênin diz o seguinte:
'Decidir uma vez a cada alguns poucos anos qual o membro da classe governante que terá o encargo de reprimir e esmagar o povo usando para isso o Parlamento - eis a real essência do parlamentarismo burguês, não só nas monarquias parlamentares-constitucionais, mas também nas repúblicas mais democráticas'."
Pois apesar de tudo isso, hoje ainda, com triste frequência, nos aparece um partido esquerdista, que promete operar dentro dos limites de uma "democracia constitucional" capitalista, e que realmente acredita que (a) possa ser eleito; e que (b) poderá realmente mudar o controle da classe dominante, servindo-se, como ferramenta, do sistema parlamentar. Assim sendo,
Lição de grego n. 1: o que aconteceu ao Syriza e a Tsipras mostra, mais uma vez, que aquele projeto nunca seria possível. A classe dominante é a classe dominante, e, na ausência de uma revolução, como Lênin observou, certeiro, continuará a ser a classe dominante, de um modo ou de outro.
Lição de grego n. 2: A classe governante grega parece estar saindo da briga em excelente forma. Deram jeito de garantir que as piores medidas de arrocho [não é 'austeridade'; é arrocho], impostas pela sua turma na União Europeia, sejam aplicadas ainda mais firmemente, sob o controle apenas nominal de um governo 'esquerdista', do que sob o governo de centro-direita que havia antes.
Claro que aquele governo de centro-direita foi o principal responsável por criar as atuais dificuldades (sobre isso, ver artigo MUITO importante: "How Goldman Sachs Profited From the Greek Debt Crisis [Como Goldman Sachs lucrou com a dívida grega: o banco de investimentos ganhou milhões ajudando a ocultar a real dimensão da dívida e, no processo, conseguiu duplicá-la", de Robert B. Reich (autor que nada tem de socialista).
Observem também que os aumentos de impostos que a União Europeia exigiu não parecem recair sobre a classe governante grega (só se deixei passar alguma coisa!), nem as "reformas" (quer dizer, mais e mais castigos sobre os trabalhadores gregos, para pagar pelos erros/ganância da classe governante) parecem incluir que os milionários gregos tenham afinal de pagar impostos, que jamais pagaram, porque seus lucros vivem protegidos em outros países.
Lição de grego n. 3: A classe capitalista internacional governante (da qual a classe governante grega faz parte, é claro) está absolutamente decidida a mostrar ao povo da Itália e da Espanha o que os espera, no caso de elegerem governo de esquerda que pense em tentar qualquer coisa assemelhada ao que o Syriza tentou originalmente, se se toma a retórica deles como reflexo fidedigno do que tinham alguma real intenção de fazer (em resumo: forçar um corte significativo no total devido aos emprestadores originais mais temerários).
Na minha visão, o objetivo de Angela Merkel & classes governantes adjuntas das nações da UE, naquelas "negociações", sempre foi ensinar essa lição política - muito mais do que a conversa de "não importa quem assinou as dívidas, gente séria paga o que deve,sacomé?".
Há muitas outras lições para partidos 'de esquerda' em estruturas parlamentares das ditas democracias, é claro. Mas para mim, graças a Vladimir Ilyich, essas são as primeiras e as mais importantes.*****
Editor Sênior de The Greenville Post. É professor emérito de Medicina Preventiva na Stony Brook University (NY) e autor/coautor/editor/coeditor de mais de 30 livros. O livro mais recente do Dr. Jonas é 15% Solution: How the Republican Religious Right Took Control of the U.S., 1981-2022: A futuristic Novel, Brewster, NY, Trepper & Katz Impact Books, Punto Press Publishing, 2013, http://www.puntopress.com/jonas-the-15-solution-hits-main-distribution/, também disponível na Amazon.
24/7/2015, Steven Jonas,[1] editor de The Greenville Post