Grécia: Venceu o "não", e agora?

A vitória do “Não” no referendo sobre as condições impostas sobre a dívida pública grega foi arrasadora, por mais de 21% dos votos válidos. O "OXI" (Não, em grego) venceu com mais de 60% dos votos no referendo deste domingo. O líder do partido Nova Democracia, Antoni Samaras, que encabeçou o governo anterior e a campanha pelo “Sim”, renunciou.

Mas: Qual é o significado da vitória do “Não”?

1. O “Não” que venceu é o não às condições truculentas da União Europeia, uma organização controlada pelo imperialismo europeu, encabeçado pela Alemanha e a França.

2. O governo do Syriza (o PSOL grego) chegou muito perto das propostas da Comissão Europeia e do FMI, um dia antes do referendo.

3. O que está colocado é a reestruturação da dívida grega para que os gregos continuem pagando-a.

4. O resultado do referendo será usado não somente pelo governo grego, mas principalmente pela Alemanha e a França, para impulsionar essa reestruturação, contra as pressões dos países mais direitistas da Zona do Euro, como a Dinamarca e a Finlândia.

Por que a Grécia possui tanta importância para a Europa?

1. A economia grega representa apenas 0,4% da Zona do Euro.

2. A economia grega sofreu uma contração de, aproximadamente, 40% desde 2010.

3. Os ataques contra o povo grego têm sido brutais. O imperialismo quer aumentá-los.

4. A bancarrota da Grécia e a saída da Zona do Euro geraria um prejuízo enorme para os monopólios.

5. Somente os bancos alemães encontram-se expostos com 48 bilhões de euros e os franceses com 40 bilhões. Isso sem contar os 170 bilhões em "ajudas" do BCE (Banco Central Europeu), que é controlado pelo Bundesbank (o banco central alemão).

6. O "calote" da Grécia geraria um amplo contágio sobre o Estado espanhol, a Itália e a França. Esses países se encontram em situação muito crítica e eles sim têm condições de jogar a Europa, e, em efeito dominó, a economia mundial, num colapso de gigantescas proporções.

7. A especulação financeira, que representa o coração do capitalismo ultra parasitário atual, gira em torno de mecanismos extremamente podres como os derivativos financeiros, que hoje movimentam 15 vezes o PIB mundial.

8. A bancarrota da Grécia geraria também o acionamento dos CDS (credit default swaps) com enormes prejuízos para as seguradoras. Se o mesmo acontecer no Estado espanhol, o colapso seria incontrolável, principalmente considerando o gigantesco endividamento dos estados burgueses, que escalou a partir de 2008.

9. Observação: os seguros são feitos sobre as apostas e contra apostas em cima dos títulos financeiros, sobre a possibilidade de um determinado título ser pago ou não. E isso com vários tipos de dependências e entrelaçamento (um mais podre do que o outro). Ou seja, é o mundo transformado num casino especulativo pelas 150 famílias que dominam o mundo.

Qual é o significado da dívida pública grega (e brasileira)?

1. A dívida grega é altamente corrupta, conforme mostram os primeiros detalhes que foram revelados pela Comissão da Verdade sobre a dívida pública aberta pelo Parlamento grego. Uma pequena ideia aqui.

2. No Brasil, entre outras "maravilhas", em 1993 a futura equipe econômica de FHC foi a Luxemburgo (o mesmíssimo paraíso fiscal utilizado no caso da Grécia) e, num passe de mágica, duplicou a dívida externa brasileira (para US$ 110 bilhões), numa "negociação" com o FMI e os Estados Unidos. Posteriormente, essa nova dívida foi convertida (no grosso) em dívida interna (com rendimentos ainda maiores) e os novos títulos (ultra podres) foram usados para "comprar" as empresas públicas que FHC privatizou por 10% do valor.

A Grécia pode resolver a crise nas fronteiras nacionais?

1. Dada a gigantesca integração da economia mundial e especificamente da economia europeia, a Grécia não tem a possibilidade de resolver a questão da espoliação imperialista dentro das fronteiras nacionais.

2. A Zona do Euro, ao mesmo tempo que implica no saque dos recursos nacionais e a disparada do parasitismo financeiro, implica numa válvula de escape social devido à migração de milhões de trabalhadores para as economias centrais e/ou as mais desenvolvidas.

3. Mas a ascensão revolucionária na Grécia tem o potencial de impulsionar as tendências revolucionárias, fortemente, em direção aos países centrais, principalmente, o Estado espanhol, a Itália, a França, a Inglaterra e a Alemanha.

4. Para o próximo período, está previsto um novo colapso capitalista mundial de dimensões apocalípticas.

Nouriel Roubini, o economista norte-americano que, em 2006, previu o colapso de 2008, em detalhes, em fevereiro deste ano previu um novo colapso, ainda maior, para 2016. Acontecerá a partir do estouro da "mãe de todas as bolhas”, a "impressão" desenfreada de dinheiro podre pelos bancos centrais. Para 2015, ele previu uma certa bonança, "a espuma" que precede a tempestade, segundo Roubini.

5. Os acontecimentos politicos impulsionam a crise econômica, e vice-versa. O colapso capitalista mundial de 1974 teve na base a derrota do imperialismo norte-americano no Vietnã. O colapso de 2008 teve na base as derrotas militares norte-americanas no Afeganistão e no Iraque.

O novo colapso tem na base um "coquetel" de crises políticas e militares. Oriente Médio, Ucrânia, Mar da China, entre os principais. A Grécia tem o potencial de acelerar a crise na Europa, que representa um dos três bastiões do imperialismo mundial, junto com os Estados Unidos e o Japão.

Qual é a saída para a Grécia (como também para o Brasil, e o mundo todo)?

1. A esquerda oportunista grega (Syriza) que está no poder não se propõe a romper com a dívida pública ultra parasitária, nem com o imperialismo. O mesmo acontece no Brasil.

2. As dívidas públicas foram transformadas num dos mecanismos mais espoliadores dos trabalhadores. Na Grécia, consome 56% do orçamento público. No Brasil, 44%.

3. As dívidas públicas devem ser desconhecidas. Obviamente, os bancos irão quebrar imediatamente e devem ser estatizados.

4. Todas as grandes empresas somente conseguem lucrar por meio dos departamentos financeiros. Os monopólios também devem ser estatizados.

5. Todos os acordos com o imperialismo devem ser rompidos.

6. Essas, assim como outras medidas, são as únicas que podem conter o aprofundamento da crise capitalista, que passa pelo enfrentamento do punhado de vampiros capitalistas que domina o mundo.

7. Essas medidas gerariam a reação das potências imperialistas, com sanções econômicas, e pressões políticas e militares.

8. A esquerda burguesa e pequeno burguesa, que se encontra integrada ao regime, infectada até o tutano de cretinismo parlamentar e que morre de medo da mobilização revolucionária dos trabalhadores, não tem a mínima condição de impulsionar o rompimento com o imperialismo.

9. Essas medidas somente podem ser colocadas em prática a partir de um amplo movimento de massas.

10. Para o próximo período, está colocada a ascensão do movimento de massas sobre a base de um gigantesco colapso capitalista mundial.

Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] 

 

Foto: Adolfo Lujan (CC BY-NC-ND 2.0)

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Timothy Bancroft-Hinchey