Os militares e grupos de inteligência dos EUA envolvidos com o Comando Central no Oriente Médio celebraram o 1º de maio com uma disputa entre eles e duas inacreditáveis seleções de alvos: Ataques aéreos comandados pelos EUA que lutam contra o grupo Estado Islâmico mataram hoje pelo menos 52 civis numa vila no norte da Síria, disse no sábado um grupo de monitoramento.
Ataques aéreos comandados pelos EUA que lutam contra o grupo Estado Islâmico mataram hoje pelo menos 52 civis numa vila no norte da Síria, disse no sábado um grupo de monitoramento.
"Ataques aéreos da coalizão, no início da manhã da 6ª-feira contra a vila de Birmahle na província de Aleppo mataram 52 civis" - disse Rami Abdel Rahman, do Laboratório Sírio de Direitos Humanos.
"Sete crianças foram mortas e há 13 pessoas ainda presas nos escombros" - disse ele.
Abdel Rahman disse à AFP que milícias curdas e rebeldes sírios estavam combatendo contra o Estado Islâmico numa cidade a menos de dois quilômetros do ponto que foi atacado.
"Mas em Birmahle só há civis, nenhuma posição do EI nem qualquer luta" - disse Rahman.
Abdel Rahman disse que "nem um único terrorista do Estado Islâmico morreu no ataque dos EUA à vila".
Bem feito!
Mas ainda pior serviço apresentou o grupo de inteligência militar do CentCom que apoia a guerra dos sauditas contra o Iêmen:
Uma série de ataques aéreos sauditas atingiram um hospital e instalações de socorro médico no sul do Iêmen na 6ª-feira, matando pelo menos 58 civis e ferindo pelo menos 67, informaram funcionários do governo no Iêmen no local.
A maioria dos mortos e feridos eram médicos e pacientes - informaram as mesmas fontes.
Hospital Raheda é um dos maiores e mais lotados que há na área. As instalações de socorro médico são parte do hospital.
Três funcionários do governo do Iêmen informaram que o hospital não é usado por rebeldes houthis e quenão morreu nenhum rebelde no ataque saudita ao hospital.
Pelo que se vê, o grupo que define alvos no Iêmen venceu a disputa: 58 a 52 civis mortos.
O melhor balanço geral da guerra no Iêmen apareceu hoje no The Independent. O artigo especula um pouco em torno da motivação dos sauditas, e sugere que o rei Salman e o filho teriam visto a guerra contra o Iêmen "como modo de firmar o próprio poder e remover do poder facções rivais da família real". É possível que esse seja um dos motivos colaterais, mas o motivo real é o sugerido por Hillary Mann Leverett:
O que estamos vendo é um produto da desorientação e do terror saudita, numa região que poderia vir a ser mais representativa em termos da própria governança, mais independente em termos da própria política exterior. Os sauditas estão tentando impedir que esse tipo de independência surja no Iêmen. E mais uma vez seguiram os EUA por essa trilha que leva a guerra sem fim.
Essa explicação está adequada ao fato de que os sauditas iniciaram o bombardeio exatamente quando a ONU já negociara um acordo de partilha de poder no Iêmen. Como se lê no Independent:
O início dos ataques aéreos pelos sauditas há cinco semanas, pôs fim às negociações que estavam próximas de resultar num acordo de partilha de poder na capital Sanaa, como informou o enviado especial da ONU Jamal Benomar. Benomar disse ao The Wall Street Journal em entrevista que "quando essa campanha começou, detalhe significativo mas que não foi noticiado, era que os iemenitas estavam próximos de chegar a um acordo que institucionalizaria um poder partilhado com todos os grupos, inclusive os houthis."
Os EUA apoiaram o bombardeio desde o primeiro momento, fornecendo aos sauditas a inteligência necessária. Com os ataques, acabaram-se as negociações que poderiam levar a solução pacífica para a disputa política no Iêmen. Não surpreende que o enviado da ONU tenha renunciado, em sinal de protesto. De 26 de março:
A Arábia Saudita disse ao governo Obama e aliados no Golfo Persa no início da semana, que estava preparando operação militar no vizinho Iêmen e que confiava fortemente nas imagens da vigilância e informações sobre alvos a serem fornecidas pelos EUA para o prosseguimento da operação, segundo altos funcionários norte-americanos e do Golfo Persa.
Daí em diante, o apoio que a inteligência dos EUA dá aos sauditas aumentou. De 10 de abril:
Os EUA estão expandindo a partilha de informação de inteligência com os sauditas, para garantir-lhes mais dados sobre alvos potenciais na campanha aérea que o reino move contra as milícias houthis no Iêmen - informaram à Reuters funcionários dos EUA.
Os mesmos funcionários norte-americanos disseram que a assistência ampliada inclui dados sensíveis de inteligência, que permitirão que os sauditas definam melhor os seus alvos na luta que já matou centenas e destruiu moradias de dezenas de milhares desde março.
O que pensarão os iemenitas cujos parentes foram mortos no hospital atacado ontem, dos serviços de inteligência dos EUA e o apoio para seleção de alvos que os EUA dão aos sauditas?
O artigo em The Independent citado acima também traz a seguinte frase, que eu creio que esteja surgindo pela primeira vez na empresa-imprensa dominante:
[O rei Salman] não apenas começou uma guerra aérea no Iêmen como, além disso, deu forte apoio à Frente al-Nusra, afiliada da al-Qa'eda, e a outros grupos jihadistas na Síria. Esses terroristas obtiveram recentemente várias vitórias na província de Idlib, contra o exército sírio e forças leais ao presidente Bashar al-Assad.
Os sauditas também estão apoiando a Al-Qaeda no Iêmen, e até pressionando para que outros se unam eles:
Jornalistas têm de acordar & escrever sobre a pressão que os sauditas estão aplicando contra tribos e líderes em Hadhramaut para que aceitem que a AL os comande.
Os sauditas exigem mais apoio à Al-Qaeda, e a inteligência dos EUA está selecionando alvos civis para serem bombardeados.
Alguém aí acredita que isso possa acabar bem?
2/5/2015, Moon of Alabama -- http://www.moonofalabama.org/2015/05/a-terrific-day-for-us-target-intelligence-in-syria-and-yemen.html