Hoje, 5 de março, completam-se 2 anos em que cessou de funcionar o cérebro revolucionário, criativo, generoso e audacioso do Comandante Hugo Chávez, vítima de um ainda mal explicado câncer. Incertezas a parte, há uma certeza: o seu legado continua desafiando não apenas o tempo, mas iluminando caminhos para a unidade dos povos em luta contra o império, fornecendo exemplos de audácia programática e política para a integração latino-americana e semeando lições que se renovam para a formação de novos lutadores sociais dotados de projeto claro para priorizar a participação direta das massas pobres na política, incluindo todos os setores progressistas da sociedade.
Durante seu período à frente da Revolução Bolivariana - que mantém sua fidelidade ao Plano Pátria, por ele escrito - Chávez ofereceu ao mundo uma poderosa lição ao demonstrar, na prática, o papel revolucionário de correntes militares, sempre que conscientes e comprometidas com um programa de libertação nacional, de transformação das velhas estruturas oligárquicas, dependentes do imperialismo, erguidas para esmagar os povos, proibi-los do acesso à cultura, aos bens da ciência e da tecnologia. Como seu próprio exemplo, Hugo Chávez , libertador de si mesmo pela via do compromisso com Bolívar renascido, também libertou as forças armadas da Venezuela da prisão de seguir cumprindo o papel de guardiã dos indefensáveis privilégios do império e da burguesia vassala. Com isso, foi aberto um novo horizonte para que os militares venezuelanos, sejam construtores do futuro, garantidores da integração dos povos, protetores das conquistas sociais que fizeram da Pátria de Bolívar o país que mais igualdade conquistou e que melhor cumpre as Metas do Milênio definidas pela ONU na América Latina.
O papel revolucionário de correntes militares
A unidade cívico-militar é, provavelmente, um dos maiores legados históricos semeados por Chávez, que, com inteligência e criatividade, recuperou outras experiências da história, na qual, a unidade entre militares e povo viabilizou profundas transformações sociais, tais como a Revolução de 30, no Brasil, a Revolução Inca, no Peru, comandada pelo General Alvarado, a Revolução dos Cravos, em Portugal, derrotando a ditadura de Salazar, a Revolução Justicialista do General Peron, na Argentina. Certamente, a resistência da Revolução Bolivariana, assediada permanentemente nestes 15 anos de existência, deve-se, fundamentalmente à união entre militares e povo , onde as forças armadas foram transformadas em instrumento de defesa das transformações sociais, do povo, da Pátria, dos ideais de Bolivar e da construção de uma sociedade socialista.
Chávez , o internacionalista
São muitos os legados de Chávez, por isso é obrigatório usar o plural no título, tão vasta é sua obra e seus exemplos. O Chávez internacionalista, por exemplo, mantém vive na política exterior da Revolução Bolivariana , que busca incessante, permanente, criativa, sem sectarismo, de construção de uma Unidade Anti-Imperialista Mundial. Notável é o papel de Chávez construção de alianças como com a Revolução Iraniana, com a Siria Nacionalista, sua incansável luta para defender a Revolução Líbia, denunciando o sanguinário massacre militar imperial contra o povo líbio e o regime do Coronel Kadafi, ação criminosa apresentada pela mídia imperialista como “Guerra Humanitária”, no que foi apoiada por intelectuais europeus confusos, que chegaram a justificar politicamente uma ocupação militar neocolonial. Chávez não vacilou, apelou ao mundo, apelou ao Conselho de Segurança da ONU, ao seu Secretário-Geral, denunciou o crime que se cometia contra a Líbia, por parte de países que se julgam democráticos e que querem dominar o mundo, como EUA, França, Inglaterra. Kadafi estava propondo a formação de uma Organização do Tratado do Atlântico Sul, propunha a exclusão do dólar nas operações com petróleo e , também, um novo impulso nas articulações para a cooperação África e América Latina. Essas, fundamentalmente, foram as razões para a sua destruição, sob a falsa bandeira de “guerra humanitária”, uma manipulação denunciada corajosamente pela Telesur, outro legado vivo de Chávez, que revelou-se dos mais brilhantes e criativos comunicadores que o mundo contemporâneo conheceu.
Construtor de nova arquitetura financeira
Nada é mais atual, dentro das obras que Chávez edificou, juntamente com outros dirigentes como Lula, Nestor Kircher, Evo Morales, Rafael Correa etc, do que o Banco do Sul, cuja entrada em operação plena poderá fazer toda a diferença, inclusive porque agora já existe também o Banco dos Brics, cuja criação detonou uma ação odiosa e ilegal do império contra a presidenta Dilma Roussef, incluindo a espionagem sobre seu celular e sobre a Petrobrás. Uma articulação, já anunciada, entre o Banco do Sul e o Banco dos Brics, certamente terá efeitos e desdobramentos internacionais de largo alcance, configurando uma nova situação não apenas monetária, financeira, mas, sobreutdo, geopolítica, reduzindo a incidência das políticas desastrosas do FMI.
Por esse novo desenho no quadro internacional, Chávez batalhou arduamente, era uma chama viva, nunca se apagava. Em Porto Alegre relembrou, tirando do ostracismo, a importantíssima Conferência de Bandung, base para a criação do Movimento dos Não Alinhados, hoje presidido pela heróica Revolução Iraniana, que resistiu a 36 anos de sabotagem imperial e hoje já lança naves tripuladas ao espaço sideral, com tecnologia própria. Era enorme a amizade entre o presidente Mahmud Ahmadinejad e o comandante Chávez, além de sua admiração e respeito pela civilização persa, bem como pela revolução iraniana, o que ser vê de estímulo para que setores da esquerda, ainda resistentes aos vários significados das transformações sociais na nação persa, reflitam sobre aquele fenômeno histórico. A conclusão que Chávez nos trás com seu gesto é que revoluções tanto podem ser engendradas nos quartéis, como nas mesquitas.
Educador político incansável
O Chávez educador político, sempre convocando as novas gerações de revolucionários ao estudo das experiências históricas. Por isso tanto recordava a Peron, como ao Coronel Thomas Sankara, a quem chamava de Guevara Negro, dirigente da Revolução de Burkina Fasso, na África, como também ao coronel Nasser, a Torrijos, e o fazia de forma criativa e estimulante, seja por meio de programas de televisão, de dialogo permanente e ininterrupto com a militância de todos os países, seja promovendo verdadeira revolução editorial na Venezuela em que textos sobre estas experiências foram amplamente difundidos ao povo! Além disso, suas reflexões sobre o internacionalismo revolucionário eram sempre acompanhadas de iniciativas singulares, como, por exemplo, o apoio às massas pobres dos Estados Unidos e da Inglaterra, com petróleo para a calefação de suas moradias durante invernos rigorosos. E , sempre, essas iniciativas eram seguidas de ampla divulgação, comunicador vibrante que era, denunciando, vigorosamente, o desprezo imperial pelos seus próprios povos, apesar de tanto gasto com armamentos e com ações militares contra outros povos.
Chávez, por sua audácia, lucidez e criatividade, provoca, mesmo após sua sembra, um grande pânico nas burguesias latino-americanas, porque ele é a prova de que se pode tanto unir massas exploradas e militares patriotas em torno de um projeto de emancipação nacional, como também se pode erradicar rapidamente o analfabetismo, aplicando o método de alfabetização elaborado pela generosa Revolução Cubana. Demonstrou que uma revolução orçamentária é possível ao fazer aplicação original da renda petroleira, que serve tanto para industrializar o país como para pagar as seculares dívidas sociais consubstanciadas na falta de moradia, de hospitais, de remédios e de cidadania. Hoje, a Venezuela possui o maior salário mínimo da região e uma das mais avançadas leis trabalhistas também, o que, por muito tempo, foi representado pela herança da CLT de Vargas e das leis laborais de Peron, de quem Chávez tinha forte admiração.
Solidariedade
Se a Revolução Bolivariana é atacada, por sabotagens, tentativas de golpe, assassinatos de dirigentes, desabastecimento desorganizado, contrabando estimulado por dentro e por fora do país, campanhas midiáticas terroristas que nunca cessaram, um dia sequer, porque ela é portadora de mandato histórico e coletivo gerado pela persistência, determinação e consciência revolucionárias de Hugo Chávez e seu compromisso com o socialismo! Qualquer presidente que tente avançar em mudanças políticas e sociais democratizantes é logo chamado de “bolivariano”, de “chavista”, como aconteceu com a Presidente Dilma ao propor a reforma política, a convocação de uma Constituinte e de um plebiscito.
Os vários e imprescindíveis legados de Chávez para o mundo, são temas muito vastos e ricos apenas para um artigo. Por isso, é muito importante que se publiquem livros, artigos, e que se difundam vídeos e filmes sobre a obra e a maneira de atuar de Chávez, sobretudo agora que sua maior obra, a Revolução Bolivariana, nascida da unidade cívico-militar, está ameaçada pelo império e merece toda a solidariedade internacional,. Uma solidariedade que inclua aprender, preservar e enriquecer todas as lições de Chávez, mantendo-o vivo no coração e nas mentes de todos os povos que lutam pela sua emancipação e libertação do jugo imperial!
Beto Almeida
jornalista
5 de março de 2015
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