Larguem os EUA. Unam-se à União Econômica Eurasiana

Proposta "surpreendente" dos russos à Europa: Larguem os EUA. Unam-se à União Econômica Eurasiana 

4/1/2015, Tyler Durden, Zero Hedge - http://goo.gl/tQl49f


Lenta mas ininterruptamente, a Europa vai-se apercebendo de que o principal resultado do bloqueio econômico e financeiro do ocidente contra a Rússia é que a própria Europa é quem mais sofre. Se a Alemanha foi a primeira a reconhecer o fato em 2014, quando a economia por lá desabou e vive hoje à beira de uma recessão, agora já há outros que também estão caindo na real. 

Caso em tela, hoje: o ex-presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, disse ao jornal Messaggero que "quanto mais fraca a economia russa, tanto menores os lucros na Itália."

Outros detalhes do que disse Prodi:


Preços rebaixados nos mercados internacionais de energia têm aspectos positivos para os consumidores italianos, que pagam menos pelo combustível, mas é efeito só de curto prazo. No longo prazo, a economia em situação cada dia mais fraca nos países que produzem recursos de energia, por causa dos preços rebaixados de petróleo e gás, principalmente na Rússia, é extremamente não lucrativa para a Itália" - disse ele.

"O rebaixamento dos preços do petróleo e do gás, combinado com as sanções geradas pela crise ucraniana, farão cair o PIB russo em cerca de 5% a.a., o que acabará por cortar cerca de 50% das exportações italianas" - Prodi continuou.  

"Deixando de lado que as sanções são inúteis, deve-se destacar uma tendência bem clara: independente do que valha o rublo em relação ao dólar, que já está quase pela metade, as exportações dos EUA para a Rússia estão aumentando, enquanto as exportações da Europa definham."


Em outras palavras, ainda bem lentamente, fato é que o mundo está começando a perceber o que se passa: não é qualquer calote que a Rússia venha a dar, nem alguma ameaça de contágio, se a Rússia entrar em grande recessão, ou pior que isso. A coisa é muito mais simples, e levará a dano gravíssimo aos países europeus: é que a atividade comercial está estagnada.

Porque os bancos centrais podem monetizar qualquer coisa, levando a uma bolha sem precedentes que, pelo menos por enquanto, está ainda inflando a confiança de ambos, investidor e consumidor, mas eles não podem imprimir atividade comercial, não podem imprimir comércio - esse absolutamente importante gerador de crescimento num mundo globalizado, desde muito antes que os bancos centrais se pusessem a monetarizar mais de $1 trilhão em papeis cada um e todos os anos, para mascarar o fato de que o mundo está profundamente afundado numa recessão global.

Essa é a razão pela qual se deve ler com máximo interesse o seguinte relatório publicado ontem no Deutsche Wirtschafts Nachrichten, porque vai direto à conclusão da coisa toda.  Lá, a Rússia apresenta proposta nada modesta à Europa: abandonem o comércio com os EUA, cujo ataque aos "custos" russos custou a vocês, europeus, mais um ano de crescimento econômico decrescente, e, em vez deles, unam-se à União Econômica Eurasiana. Diretamente da fonte:


A Rússia apresentou surpreendente proposta para superar todas as tensões com a União Europeia: A UE deve renunciar ao acordo de livre comércio com os EUA, TTIP
 [ing. Transatlantic Trade and Investment Partnership / Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento] e, em vez daquilo, deve firmar uma parceria com a recentemente criada União Econômica Eurasiana. Claro que faz muito mais sentido uma zona de livre comércio com países vizinhos, que o tal 'acordo' com os EUA, do outro lado do mundo.


Sentido, sim, sem dúvida faz melhor sentido, mas, nesse caso, como a Europa poderá fingir-se de muito indignada quando descobrir que a Agência de Segurança Nacional dos EUA andou outra vez a espionar seus "mais próximos parceiros comerciais?" 

Mais detalhes sobre a proposta dos russos, de EUobserver:


Vladimir Chizhov disse a 
EUobserver: "Nossa ideia é iniciar contatos oficiais entre a União Europeia e a União Econômica Eurasiana, o mais rapidamente possível. [A chanceler alemã Angela] Merkel falou sobre isso há bem pouco tempo. As sanções da União Europeia contra a Rússia não são obstáculo".

"Entendo que o senso comum nos aconselha a explorar a possibilidade de estabelecer um espaço comum econômico na região da Eurásia, incluindo os países foco da Parceria Oriental [política da UE de laços próximos com Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia e Ucrânia]".

"Devemos pensar numa zona de livre comércio que una todos os interessados eurasianos".

Descreveu o novo bloco liderado pela Rússia como melhor parceiro para a União Europeia, que os EUA, inclusive por causa dos baixos padrões sanitários da indústria alimentícia norte-americana.

"O que haveria de inteligente em consumir tanta energia política numa zona de livre comércio com os EUA, se vocês têm bem aqui, ao seu lado, parceiros muito mais naturais, muito mais próximo de casa? E nós, aqui, nem envenenamos nossos frangos com cloro" - disse o embaixador russo.

O tratado que cria a União Eurasiana entrou em vigência 5ª-feira passada, dia 1º de janeiro.

Inclui Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia; e o Quirguistão será integrado em maio.

Formatado pelo modelo da União Europeia, tem um corpo executivo com sede em Moscou, uma Comissão Econômica Eurasiana, e um corpo político, o Supremo Conselho Econômico Eurasiano, no qual os líderes de estados-membros tomam decisões por unanimidade.

Cria livre circulação para trabalhadores e mercado unificado para construção, varejo e turismo. Nos próximos dez anos, será criada uma corte em Minsk, um regulador financeiro em Astana e, possivelmente, serão abertos escritórios da Comissão Econômica Eurasiana em Astana, Bishkek, Minsk e Yerevan.

A União Econômica Eurasiana visa também a criar livre trânsito de capitais, bens e serviõs, e ampliar o próprio mer4cado único para 40 outros setores, com produtos farmacêuticos já na lista de espera, para 2016.


Para não esquecer: a União Econômica Eurasiana, bloco comercial de ex-estados soviéticos, já cresceu na 6ª-feira: agora são quatro países, com a Armênia já formalmente integrada, um dia depois de a União de Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão ter começado a operar.

Assim, portanto, a bola está na quadra de vocês, Europa: podem ficar com recessão de tripla-queda (e, depois, quádrupla: vejam o Japão), com o banco central de vocês controlado por algum Goldman, sempre saqueando o que ainda reste da riqueza da classe média, com promessas de que esse ano - agora a coisa vai! - e é bem aí que a coisa vira, de vez. Ou quem sabe a Europa reconhece que já chega, e muda de estratégia e começa a negociar a partir do ocidente e de olho (por que não?) no oriente? (Ah! O ministro da agricultura da Alemanha já avisou que "Ninguém consegue proteger todos os salsichões", referindo-se à TTIP)

Considerando os interesses que os burocratas não eleitos em Bruxelas representam, melhor ninguém prender a respiração, em suspense. ******

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey