França bloqueou acordo nuclear com Irã por uma razão óbvia

Para surpresa geral, o ministro francês do Exterior, Laurent Fabius, não aceitou selar o acordo nuclear do grupo P5+1 e o Irã no domingo 10, em Genebra. A França é um dos países com poder de veto entre os cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU, e portanto a próxima rodada de negociações foi postergada para o próximo dia 20.

O chanceler Fabius quer estreitar elos comerciais com o Golfo Pérsico. Riad, inimiga de Teerã, comprou seis fragatas francesas por 1 bilhão de euros em outubro

Gianni Carta, de Paris 

CartaCapital

Para surpresa geral, o ministro francês do Exterior, Laurent Fabius, não aceitou selar o acordo nuclear do grupo P5+1 e o Irã no domingo 10, em Genebra. A França é um dos países com poder de veto entre os cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU, e portanto a próxima rodada de negociações foi postergada para o próximo dia 20.

O motivo da surpresa? No sábado 9 um acordo estava, segundo o ministro britânico do Exterior, William Hague, prestes a ser assinado por todos os presentes, inclusive pelo representante do sexto país, a Alemanha.

Mohammad Javad Zarif, o chanceler do novo presidente iraniano Hassan Rouhani, tinha motivos para sorrir. Nunca, desde a revolução islâmica de 1979, o diálogo entre os países Ocidentais e o Irã parecia ter sido tão decisivo.

E particularmente entre o Irã e os Estados Unidos . Para Barack Obama, que tem enviado seu secretário de Estado John Kerry para consertar os fiascos alimentados pelo Tio Sam no Oriente Médio, um acordo seria, pelo menos por ora, uma forma de evitar uma guerra dos EUA contra o Irã.

Mais: o acordo com o Irã, e aí adentramos o campo do ingênuo otimismo norte-americano, poderia acabar com as divisões entre xiitas liderados pelos iranianos e os sunitas, como aqueles da reacionária Arábia Saudita, aliada, diga-se, do Tio Sam. Nesse quadro geopolítico - continuamos a delirar - haveria paz entre xiitas iranianos a apoiar o ditador sírio alauíta (seita xiita) Bashar al-Assad e os sauditas a financiar, na guerra civil na Síria, a oposição sunita, um saco de gatos composto inclusive por fundamentalistas.

Como sempre, após a inesperada notícia dada por Fabius teve início o costumeiro balé diplomático. Da chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, ouvimos: "Houve progresso concreto, mas algumas diferenças permanecem".

No entanto, houve fúria por parte de iranianos. De sua conta Twitter, o Líder Supremo, Ali Khamenei, antiamericano até a eleição de Rouhani, disparou em inglês: "Funcionários franceses têm sido abertamente hostis contra o Irã nos últimos anos". A conta Facebook de Fabius foi inundada por frases como esta: "O muro da embaixada da França em Teerã tem quantos metros?"

Na verdade, não foi nenhuma surpresa a atuação de Fabius. De saída, o ex-premier não pode ser considerado um novato no cenário da política internacional. A França quer reforçar sua influência política no Golfo Pérsico. E, por tabela, estreitar os elos comerciais com a região. Em outubro a Arábia Saudita adquiriu seis fragatas francesas por 1 bilhão de euros. Em julho, os Emirados Árabes Unidos pagaram 1 bilhão de euros em por um sistema de defesa antiaéreo francês. E o Catar, onipresente na França, estaria interessado na compra de caças franceses Rafale.

 


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Timothy Bancroft-Hinchey