Isolado, Obama diz que poderá desistir da agressão à Síria

Os chanceleres da Síria, Waled Muallem, e da Rússia, Sergei Lavrov, discutem proposta russa de entrega das armas químicas a uma organização internacional para evitar a agressão norte-americana.

 
Com o enfraquecimento da campanha pela intervenção militar contra a Síria, o presidente dos Estados Unidos, Brack Obama, anunciou, nesta segunda-feira (9), que pode voltar atrás no plano contra o país árabe. O governo do presidente Bashar al-Assad aceitou a proposta russa de submeter seu estoque de armas químicas à Organização das Nações Unidas. Nesta terça (10), a própria Liga Árabe, que apoia a oposição a Assad, afirmou aceitar a medida.


Na surpreendente manifestação contrária à intervenção militar por vários aliados do imperialismo norte-americano, até mesmo dentro da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), e enfrentando a possibilidade de ver seu plano negado pelo Congresso estadunidense, Obama afirmou que a proposta da Rússia é um "resultado potencialmente positivo" e um avanço para se evitar um ataque militar à Síria.
"Certamente é um resultado positivo quando os russos e os sírios dão gestos sobre entregar armas químicas. É o que estamos pedindo nos últimos anos, porque as armas químicas implicam uma ameaça significativa", disse Obama, apesar de admitir o apoio aos grupos armados que atuam dentro da Síria, contra o governo constitucional de Assad, inclusive através do terrorismo e com recursos bélicos estrangeiros.


O presidente estadunidense vem se confrontando com a expressiva falta de apoio à empreitada intervencionista, tanto entre aliados europeus e o Canadá quanto de países que já se demonstraram contrários à abordagem militarista contra a Síria desde o princípio, como a China, a Rússia, diversos latino-americanos, e até vizinhos, como o Líbano e o Iraque, que se pronunciou na Liga Árabe neste sentido.


Além disso, analistas sugerem que a votação prevista para esta quarta-feira (11), no Congresso norte-americano, dificultará o plano de uma intervenção militar contra a Síria, que Obama, o secretário de Estado John Kerry e o secretário de Defesa Chuck Hagel vêm promovendo pelo mundo, através de várias visitas e negociações.


É importante ressaltar o fato de a Síria ter aceitado a proposta russa como um esforço para demonstrar a posição de compromisso e a disposição para evitar que a dimensão do conflito se torne ainda mais abrangente, não só para escalas regionais, como já tem se verificado, mas também pelos efeitos devastadores impostos aos civis. Mais uma vez, o governo sírio reforça preferir a opção política frente à iminência do uso da força contra o país.


No mesmo dia do anúncio sírio, Kerry havia dito que se o presidente Assad entregasse as armas para a "comunidade internacional no prazo de uma semana", poderia evitar uma invasão, mas que acreditava que o presidente não tomaria tal medida.


Na Rússia, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Muallem foi recebido por seu homólogo, Sergei Lavrov, que tem expressado reiteradamente o apoio do seu país à disposição síria pelo diálogo político e pela investigação da equipe da ONU de verificação do uso de armas químicas, recebida na Síria com demonstrações de comprometimento com a perícia.


Mouallem assegurou que, apesar da ameaça de uma intervenção, Damasco "continua disponível a participar sem condições" na reunião de Genebra, encontro internacional acordado há meses entre Moscou e Washington, mas que foi sucessivamente adiado.


"Estamos também disponíveis para dialogar com todas as forças políticas sírias que queiram o restabelecimento da paz no nosso país", acrescentou o representante sírio, antes de advertir que esta posição mudará no caso de um ataque.


Lavrov disse também acreditar que "uma solução política é ainda possível" e advertiu Washington: "Cada vez mais políticos e responsáveis governamentais partilham a nossa opinião de que um cenário de [uso da] força conduzirá a uma explosão do terrorismo na Síria e nos países vizinhos e um enorme afluxo de refugiados".
 
Com agências,
Da redação do Vermelho


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Timothy Bancroft-Hinchey