O embaixador da República Árabe Saaraui Democrática, Malainine Etkana, conversou com o jornal Granma sobre a situação do povo da última colônia na África
CLAUDIA FONSECA SOSA/Granma
Decorreram 38 anos desde que o Marrocos invadiu Saara ocidental, privando o povo saaraui de seu direito à autodeterminação e independência.
Após décadas de enfrentamento armado contra as forças invasoras, em 1991 a Frente Polisário declarou o cessar-fogo sob o suposto de que seriam efetuadas eleições supervisionadas pela ONU. Contudo, o ansiado referendo ainda não se concretizou e continua adiando-se, em virtude dos interesses da monarquia norte-africana.
Acerca deste tema conversou com o jornal Granma o embaixador da República Árabe Saaraui Democrática (RASD) em Cuba, Malainine Etkana.
"Após a assinatura do plano de paz chegou a Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sara ocidental (Minurso), mas infelizmente - embora se tenham feito várias rodadas de negociações - ainda continuamos esperando pelo referendo, pois Marrocos continua colocando empecilhos e descumprindo seus compromissos internacionais".
"O referendo propõe a opção de integrarmo-nos ao Marrocos ou conseguir a total independência, e nós temos certeza de que a maior parte dos saarauis vai votar por esta segunda opção", afirmou.
Etkana denunciou que, entretanto, "Marrocos continua aproveitando-se dos nossos recursos naturais. O Saara tem uma das maiores reservas no mundo de fosfato e uma zona de pesca muito favorecida". "A Frente Polisário devolveu os marroquinos presos durante os anos da luta armada, mas Marrocos não liberou nenhum dos nossos combatentes".
"Desde o ano 2005, quando nossa população nos territórios ocupados começou a manifestar-se, mediante o que chamamos a Intifada (método de protesto pacífico) houve uma forte repressão por parte das autoridades marroquinas. Os direitos humanos dos civis saarauis são violados, chegando inclusive a ser submetidos a julgamentos militares, e a Minurso não faz nada a esse respeito, porque Marrocos não permite".
Então, essa é a razão pela que se fala em voltar às armas?
"Se bem estamos dispostos a continuar negociando com a mediação da ONU, os saarauis não descartamos a possibilidade de voltar às armas para que finalmente o Saara seja livre. Não podemos continuar suportando a intransigência de Marrocos e que este país continue rejeitando a legalidade internacional".
Neste 2013 completam-se 40 anos da fundação da Frente Polisário (Frente Popular de Libertação de Saguía el Hamra e Rio de Oro), único representante legítimo do povo saaraui...
"A Frente Polisário fundou-se em 10 de maio de 1973, para lutar contra o colonialismo espanhol. Em 1975, a Espanha foi embora do território saaraui de uma maneira vergonhosa, assinando um acordo tripartite com o Marrocos e Mauritânia (retirou-se em 1979) e a partir desse momento, nosso povo tem enfrentado torturas, desalojos, encarceramentos arbitrários e outras formas de repressão".
"Contudo, estamos orgulhosos destes 40 anos de luta e resistência. Marrocos invadiu o Saara para liquidar os saarauis, mas não conseguiu vencer-nos. Nosso povo está agora mais unido que nunca. A Frente Polisário fundou em 1976 a República Árabe Saaraui Democrática, que hoje é reconhecida por mais de 80 nações no mundo".
"A integração da RASD à Organização para a Unidade Africana (OUA) em 1984 e a participação na fundação da União Africana em 2002, têm sido os sucessos diplomáticos mais importantes do nosso povo".
Como se define a República Árabe Saaraui Democrática?
"Somos uma frente de libertação nacional, com uma ideologia revolucionária que garante os direitos civis, a liberdade e a dignidade do nosso povo. Temos aprendido muito das revoluções independentistas do mundo, como - por exemplo - a de Cuba, a da Argélia e a de muitos países no sul da África. Desejamos um Saara livre da opressão marroquina".
"Boa parte da nossa população vive em acampamentos de refugiados na Argélia, onde - apesar das dificuldades - temos conseguido alguns sucessos em matéria de educação e saúde".
Como se desenvolvem as relações com Cuba?
"Cuba sempre tem acompanhado a causa saaraui e nos ajudou. Muitos dos nossos profissionais foram graduados em universidades cubanas, e uma brigada médica cubana trabalha nos acampamentos de refugiados, em Tinduf".
"Parafraseio as palavras do secretário-geral da Frente Polisário e presidente da RASD, Mohamed Abdelaziz, durante a comemoração do 50º aniversário da OUA, quando disse que Cuba fez muito pela África e por isso temos que apoiá-la em sua luta contra o bloqueio estadunidense".
"Também felicitamos René González por seu retorno à Pátria e esperamos que em breve se unam a ele seus quatro irmãos lutadores antiterroristas".
"Os saarauis temos muita fé no futuro, nosso povo está unido para conseguir o projeto nacional e seu legítimo representante: a Frente Polisário".
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