Maduro: Relação com EUA só mudará quando respeitarem a Venezuela

Em conversa com o jornalista Kennedy Alencar da Rede TV! na madrugada desta segunda-feira (13), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, falou de sua infância, trajetória política, relação do Brasil e dos EUA com seu país e afirmou estar disposto a dialogar com a oposição que, segundo ele, tem semeado o ódio no país. Na última semana, o presidente visitou o Brasil, a Argentina e o Uruguai para firmar parcerias estratégicas, principalmente nas áreas agrícola, industrial e petrolífera.


Quando questionado sobre qual é sua frase favorita, Maduro mencionou uma que costumava ser dita por Chávez: "temos lutado e nossa luta valeu a pena. Agora temos um mundo por fazer e vale a pena lutar por ele". Acompanhe os principais temas abordados pela entrevista:

Relações com o Brasil
Com o Brasil, temos hoje uma relação política de afeto e relações econômicas de cooperação integral. Nossa balança comercial subiu para US$ 6 bilhões e caminha para US$10 bilhões. Os investimentos do capital brasileiro na Venezuela superam US$ 10 bilhões. Temos com o Brasil um projeto de montar um parque industrial para produzir fertilizantes e alimentos. Esta reunião foi extraordinária em todos os sentidos.
 
Eleições
Nós triunfamos e foi uma vitória muito importante. O povo venezuelano enfrentou uma guerra, não uma campanha eleitoral. Durante três meses sabotaram nosso sistema elétrico. Fizeram isso e deixaram cidades inteiras sem luz. Além disso, sabotaram o abastecimento de produtos de primeira necessidade. E travaram uma guerra psicológica brutal.
De 100% da informação que os meios privados da Venezuela produziram durante a campanha, 70% eram positivos para Capriles e os 30% que falavam sobre mim, era tudo negativo. Uma guerra que permitiu provar a fibra do povo venezuelano.
Neste sentido, o gesto do Brasil foi fundamental [de ter reconhecido prontamente o resultado das eleições]. O Brasil é um país que respeita o processo democrático e a autodeterminação de todos os povos do mundo. Em nossa região sul-americana, a Unasul [União das Nações Sul-Americanas] se reuniu em 18 de abril. Os presidentes foram todos acompanhar minha juramentação. A Unasul, a Alba [Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América], Celac [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], e até a OEA [Organização dos Estados Americanos] ou seja, todos os organismos internacionais reconheceram como devem reconhecer as eleições no país.
 
Oposição
Nós acreditávamos que o caráter golpista da direita já havia passado. Que o golpe de 2002 havia sido um acidente histórico. Tanto que Chávez arquivou o processo movido contra os golpistas. Mas não foi assim. Quando Chávez morreu, pensaram que era a chance de tentar um golpe de novo.
Hoje Capriles tenta um golpe e isso é reconhecido por seu pequeno grupo de direita. Ele tem semeado a Venezuela de ódio, de xenofobia. Tem um projeto antibolivariano, antilatino-americano. Eles promovem o ódio contra o povo, contra o pobre, contra os médicos cubanos que têm ajudado a população venezuelana nas zonas mais pobres. Estão desconhecendo a Constituição, as instituições.
Estamos dispostos a conversar até com o diabo pela paz da Venezuela, pela democracia. Eles [a direita] promovem o ódio. Para nós não resta dúvida do caráter fascistóide. É uma direita intolerante que pretende destruir a revolução bolivariana. Fazemos um chamado a todos os movimentos do continente e ao Brasil particularmente. Para que deem atenção, porque é o mesmo grupo que dirigiu o golpe de Estado.
Esta direita, por exemplo, diz que fiz esta visita ao Mercosul [Uruguai, Argentina e Brasil] para comprar, com petróleo, os presidentes desses países. Então é assim que eles reagem.
 
Auditoria das eleições
O Brasil deve saber que estão fazendo a auditoria. Venezuela é o único país do mundo em que é feita uma auditoria de 54% dos votos ainda no dia das eleições. Os votos da urna física são comparados com o que é emitido pela urna eletrônica. O resultado foi 100% correto. Mas, a oposição pediu a auditagem dos outros 46%. O poder eleitoral começou uma nova auditoria e o que fez a oposição? Retirou-se da auditoria.
 
Manipulação midiática
Eduardo Galeano disse: o país liderado por Chávez que fez sua Constituição por uma assembleia aprovada pelo povo. Desenvolveu e incorporou milhões de venezuelanos ao processo político. Um líder [Chávez] que democratizou a vida pública venezuelana. Mas ainda assim, recebeu uma campanha internacional inclemente de mentiras.
Na Venezuela temos uma democracia. Basta ir para lá e ver. Em qualquer parte da Venezuela encontrará um povo com pensamento próprio, com liberdade de expressão. Os meios de comunicação, 80% deles estão em mãos de empresas privadas, são ardentes críticos do processo.
 
Industrialização
O resgate do petróleo é um grande feito de Chávez porque o primeiro passo é recuperar os recursos. Chávez investiu, dos US$ 700 bilhões que entraram, US$ 550 bilhões em educação, saúde, alimentação, cultura. Investiu na vida social de um povo, que passou de 70% de miséria para 20%. Este processo de industrialização está em curso no país.
Há cem anos, a Venezuela sofreu uma amputação de sua cultura produtiva para um modelo rentista petroleiro. Mas uma cultura industrial não se cria da noite para o dia.
O Brasil é um grande parceiro, grande aliado para o desenvolvimento industrial, na produção de alimentos. Temos uma grande extensão de terra para produzir feijão, arroz, soja, girassol, alimentos para a população.
 
Estados Unidos
O que fazemos é reagir diante do intervencionismo. O que dificulta [nossa relação com os Estados Unidos] é a obsessão eterna deles de interferir nos assuntos internos da Venezuela. No mesmo dia que morreu Chávez tivemos que expulsar dois militares estadunidenses que buscavam militares da Venezuela para aplicar golpes.
Obama tem um sorriso simpático, mas segue fazendo o mesmo que Bush, invadindo, interferindo em assuntos internos. Este conflito só vai terminar quando entenderem que devem ter ações de respeito com nosso país e de igualdade.
Para mim não é importante que me reconheçam [os Estados Unidos ainda não reconheceram sua eleição], mas que a Unasul, o Mercosul, a Celac, a União Africana, os irmãos do mundo tenham me reconhecido. Só a elite dos EUA não nos reconhece.
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=08bded4b29e13c27e400662136eadbeb&cod=11465


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey