Marcus Eduardo de Oliveira (*)
O PIB mundial em 2013 deve atingir o montante de 74,1 trilhões de dólares correntes. Com 1,1 bilhão de habitantes, a participação das economias mais ricas no "bolo" da produção de bens e serviços deve ser de 49,2%, com uma renda per capita de mais de 41 mil dólares em termos de paridade do poder de compra (ppp, na sigla em inglês).
Do outro lado do planeta, a renda per capita para os demais 6 bilhões de habitantes atingirá 7,4 mil dólares (ppp).
Assim, o "bolo" da economia mundial vai crescendo e cada vez mais as distorções em termos de acesso ao que foi produzido vão se acentuando. Enquanto o "lado rico" do planeta continua recebendo polpudas ajudas financeiras, ao "lado pobre" sobram quirelas.
Em abril de 2009, numa reunião em Londres, os países integrantes do G-20 (as 20 economias mais avançadas) prometeram aos países vulneráveis a importância de 1,100 trilhão de dólares. Passados quatro anos, somente 5% desse valor "desembarcou" nos cofres das economias mais carentes, ao passo que, no mesmo período, US$ 18 trilhões foram injetados nas veias das instituições financeiras dos países mais avançados.
Depois do pacote de ajuda à Grécia, Portugal e Irlanda, agora é a Espanha que pede socorro. Os países da zona do euro já se movimentam para esparramar na economia espanhola até 100 bilhões de euros (cerca de R$ 251,1 bilhões) na tentativa de recapitalizar o setor bancário. De onde virá o dinheiro? Do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e do Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE).
Não obstante a isso, a financeirização internacional movimenta em termos especulativos 3,5 trilhões de dólares por dia, montante 40 vezes superior ao valor monetário das transações de bens e serviços mundiais. Depois que eclodiu a crise financeira internacional em 2008, os especuladores retiraram recursos de ativos de alto risco apostando na valorização das commodities puxando assim os preços dos alimentos para cima, o que resultou maior dificuldade de acesso à comida, sobretudo nas áreas mais afetadas pela fome.
Por esse caminho, de um lado, se empanturram de dólares os cofres da agiotagem internacional, enquanto do outro ronca de fome 1 bilhão de estômagos vazios. Desse 1 bilhão de pessoas (jovens, idosos, pobres e miseráveis) que passam fome, 180 milhões (quase um Brasil inteiro) são crianças (menores de 10 anos de idade). Destas, 11 milhões são sepultadas todos os anos.
Enquanto se discute meios para proporcionar ajuda monetária aos incompetentes banqueiros internacionais, o mundo contabiliza 25 milhões de óbitos em decorrência da Aids.
Enquanto os dentes afiados dos especuladores agem livres, leves e soltos nas praças financeiras em busca das maiores taxas de juros e da valorização de commodities, corpos de inocentes vão tombando ao chão pela falta de acesso à água potável e pela crônica desnutrição - a cada 3 segundos uma pessoa morre de fome no mundo. Só na Somália, as Nações Unidas estimam que 3,9 milhões de pessoas estejam passando fome, o que equivale à 40% da população (dados de 2011).
No entanto, bastaria menos de 0,5% do PIB mundial para acabar de uma vez por todas com essa sandice chamada fome e desnutrição. Já que há um Fundo de Estabilidade Financeira, por que não é criado um Fundo de Amparo à Fome e a Desnutrição? Já que há um Mecanismo de Estabilidade para salvaguardar bancos, por que ainda ninguém pensou em criar um Mecanismo de Moralidade para decretar o fim da pobreza e da miséria no mundo?
(*) Economista, especialista em Política Internacional e mestre pela USP.
Professor de economia na UNIFIEO e na FAC-FITO (São Paulo)
prof.marcuseduardo@bol.com.br