Wu Zhong (editor de "China"), Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/China/NH29Ad01.html
HONG KONG - Sinais recentes sugerem fortemente que o Partido Comunista Chinês (PCC) está pronto a marcar a data para a realização do congresso nacional que selecionará os principais líderes do país para a próxima década.
Dia 17 de agosto, o presidente Hu Jintao e todos os outros oito membros do Alto Comitê do Politburo encontraram-se em Pequim com os atletas chineses que participaram das Olimpíadas de Londres, para cumprimentá-los pelas 38 medalhas de outro, 27 de prata e 23 de bronze. É notícia que extrapola, em muito, a página de esportes.
Depois da recepção, na noite de 31 de julho, que marcou o 85º aniversário da fundação do Exército Popular de Libertação (EPL), foi a primeira vez que os nove homens mais poderosos da China apareceram juntos, em público.
É sinal de que os encontros informais, de feriado, entre governantes atualmente no poder e os que já passaram pelo poder na China, que acontecem no resort de Beidaihe, já podem ser dados por concluídos, para esse ano. (Não há quem não saiba na China que todas as mais importantes políticas nacionais chinesas são definidas e modeladas em Beidaihe, por mais informais e "de feriado" que sejam aqueles encontros.)
No início de seu primeiro mandato, Hu cancelou, uma única vez, o encontro anual em Beidaihe; no ano seguinte, o encontro voltou a acontecer. Líderes anteriores, sobretudo o predecessor de Hu, Jiang Zemin, ainda conservam muito ativa influência no governo chinês, são ouvidos e desejam ser ouvidos nas principais questões do partido e do estado.
Esse ano, o encontro em Beidaihe foi ainda mais importante, porque ali se decidiram os candidatos a compor o novo Alto Comitê do Politburo, que serão oficialmente confirmados pela Assembleia do 18º Congresso Nacional do Partido Comunista da China. Também foi preparada uma lista curta de candidatos a compor o Politburo, de 25 membros; a lista normalmente inclui alguns nomes a mais, para que o Congresso do Partido selecione.
O encerramento do encontro em Beidaihe significa que já há consenso quanto à composição do novo principal corpo de líderes do Partido Comunista da China. Dado que esse é o principal item da agenda do 18º Congresso do PCC, já se espera que o congresso seja marcado para breve - a imprensa em Hong Kong prevê que aconteça entre 22 de setembro e 25 de novembro. (...)
O governo da municipalidade de Pequim, onde o congresso do PCC acontecerá, já anunciou a criação de um corpo de alta segurança, especial para o evento, para impedir incidentes indesejáveis durante o evento. Segundo a imprensa chinesa, a polícia de Pequim já está recolhendo a abrigos os mendigos, pedintes e moradores de rua. O serviço de bombeiros de Pequim já começou a inspecionar, duas vezes por dia, os locais onde acontecerá o Congresso, os hotéis onde se hospedarão os deputados, centros de imprensa, aeroportos e estações ferroviárias.
Em resposta ao descontentamento popular, Pequim aumentou o empenho no trato das questões que mais enfurecem os chineses. O Premiê Wen Jiabao e outros governantes têm repetidamente prometido que o governo não afrouxará os macrocontroles destinados a esfriar o mercado privado, apesar de economistas exigirem que Pequim ponha fim, de vez, aos tais controles, para aumentar o investimento no mercado imobiliário que pode estimular o crescimento.
Pequim também apertou o cerco contra casos de corrupção e crimes em geral, sobretudo os que envolvem altos funcionários. Semana passada, uma corte em Hefei, capital da província de Anhui, manteve a suspensão da pena de morte contra Gu Kailai, esposa de Bo Xilai, presidente do Partido em Chongqing e caído em desgraça. É sinal claro de que o PCC decidirá em breve sobre o modo de punir o próprio Bo.
No final da semana passada, a imprensa chinesa noticiou que o ex-ministro de Serviços Ferroviários, Liu Zhijun, seria julgado ainda antes do Congresso, acusado de receber grandes propinas em projetos de trens de alta velocidade, e por manter encontros com mulheres oferecidas como "suborno sexual". Em maio, Liu perdeu os direitos de membro do PCC. E em diferentes planos locais, vários funcionários corruptos também estão sendo julgados.
Dia 21 de agosto, He Guoqang, atual membro do Alto Comitê do Politburo encarregado da Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCDI) - principal órgão de vigilância anticorrupção - revelou que o partido tomará medidas para aprimorar o "sistema anticorrupção".
Pequim também tomou medidas severas para impedir que se alastrassem os boatos sobre mudanças na liderança superior do Partido, temerosa de que os boatos semeiem confusão na sociedade e prejudiquem a indispensável atmosfera "harmônica". Mas os boatos continuam.
Pouco depois de concluídos os encontros desse ano em Beidaihe, a imprensa de Hong Kong, que nunca perde de vista a China, noticiou diferentes versões do que se estima que venha a ser a composição do novo Alto Comitê do Politburo.
Diz-se que se formou um consenso em Beidaihe, no sentido de reduzir o número de membros do Alto Comitê do Politburo do PCC, dos atuais nove, para sete. Não é anômalo, porque não há qualquer delimitação quanto ao número de membros. Hoje são nove, mas houve tempos em que foram cinco, depois sete. O único cuidado é que seja número ímpar (para não haver empates).
Na minha pessoal opinião, a formação abaixo é a mais provável.
O vice-presidente Xi Jinping, 59, e o vice-premiê Li Keqiang, 57, permanecem no Alto Comitê do Politburo; os demais sete membros aposentam-se no Congresso desse ano. Xi deve ocupar o posto de Hu como supremo líder da China; e Li deve substituir Wen, como premiê. Os outros cinco membros do Alto Comitê do Politburo devem, muito provavelmente, ser os seguintes:
- Yu Zhengsheng (67), atual presidente do Partido em Xangai e membro do Politburo, provavelmente substituirá Wu Bangguo na presidência do Congresso Nacional do Povo (o Parlamento chinês);
- Zhang Dejiang (66), atual vice-premiê, presidente do Partido em Chongqing e membro do Politburo, provavelmente substituirá Jia na presidência do Congresso Político Consultivo do Povo Chinês (principal corpo de assessoramente e aconselhamento do país);
- Li Yuanchao (61), membro do Politburo e atual diretor do Departamento de Organização Central do PCC, provavelmente será vice-presidente, substituindo Xi;
- Wang Qishan (64), atual vice-premiê e membro do Politburo, provavelmente substituirá Li Keqiang como vice-presidente executivo, encarregado de supervisionar os negócios econômico-financeiros do país;
- Wang Yang (57), atual presidente do Partido em Guangdong e membro do Politburo, será provavelmente encarregado de supervisionar a disciplina partidária e a aplicação da lei, assumindo as pastas hoje ocupadas por He Guoqiang e Zhou Yongkang.
Essa parece ser a formação mais provável, porque mostra distribuição equilibrada de poder. Dos sete, Xi Jinping, Yu Zhengsheng e Wang Qishan são princelings [descendentes de famílias de grandes revolucionários na história chinesa recente]. Yu e Zhang Dejiang são conhecidos como homens do grupo de Jiang Zemin. Li Keqiang, Li Yuanchao e Wang Yang são conhecidos como do grupo de Hu porque, como Hu, ascenderam dentro do Partido, desde a União da Juventude Comunista Chinesa.
Estrutura equilibrada de poder é o melhor que pode acontecer ao governo chinês e à China. A "política do líder forte" é passado, enterrada com Mao Zedong e Deng Xiaoping. Sob as atuais circunstâncias, governo que manifeste posições só de um grupo poderia não durar (como no Japão) e dificilmente favoreceria a estabilidade, sobretudo num país gigante, como a China.
Tradução: Vila Vudu