Nos primeiros dias de fevereiro na Colômbia quatro ataques terroristas mataram 20 e feriram mais de 100 pessoas. As duas bombas plantadas em veículos explodiram perto das delegacias de polícia nas cidades de Tumaco e Villa Rica (sudoeste do país), depois foram jogadas granadas a uma unidade militar, e a última bomba explodiu perto dum hotel.
O governo imediatamente culpou os rebeldes esquerdistas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC — Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) a controlarem aproximadamente 20 por cento do território do país, na maioria nas áreas remotas no centro e sul, ao lado dos Andes, se estendendo até o Pacífico.
Segundo as autoridades, as FARC estão totalmente recuperadas depois de uma longa crise causada por morte dos seus líderes. Nos últimos três anos caíram em resultado dos bombardeios ou nas mãos dos assassinos os seus dirigentes Raul Reyes, Alfonso Cano, Ivan Rios e o fundador e líder do grupo Manuel Marulanda de 78 anos. No entanto, de acordo com o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, os atentados apresentam novos elementos da luta das FARC por entrarem em uma aliança com os gangues — em particular, com a maior quadrilha na região — Los Rastrojos.
No entanto, esta versão não foi suportada por profissionais nem por residentes. "Primeiro, é duvidoso que os três ataques foram das FARC, disse o pesquisador da Corporación Nuevo Arco Iris, Ariel Ávila, à BBC.
"Por modus operandi o governo diz que eles são, mas lá nas regiões as pessoas têm muitas dúvidas. Minha pesquisa nessa área me fez para me responder ''aqui há outra coisa'', disse. Segundo ele, "não há nenhuma aliança (entre as FARC e Los Rastrojos — Red.). Mas está óbvio também que 'Los Rastrojos' não estão interessados no agravamento das relações com o governo", citou Ávila o jornal colombiano ElPais.
Os moradores da cidade de Tumaco (o porto, localizado na fronteira com o Equador, e um importante ponto de narcotráfico) argumentam que as FARC não tem nada a ver com explosões. " A gente sabe por quem foi feito, mas preferimos manter silêncio", citou o jornal colombiano Semana. "Pouca gente fala aqui das FARC, todo mundo está falando sobre Los Rastrojos. A maioria mantem-se calada, todo o mundo não confia nas autoridades, a polícia é corrupta e os criminosos podem matar sobre qualquer motivo. Somos todos reféns", diz um dos residentes locais.
Site oficial das Farc também descarta a sua participação nos últimos ataques terroristas. De fato, é difícil supor que, após a nova chefia do grupo, representada por Timoleon Jimenez (Timochenko) ter manifestado a sua disponibilidade para iniciar um acordo político, e no meio das difíceis negociações para a libertação do cativeiro de seis elementos (outras fontes dizem 10) das tropas do exército colombiano, a guerrilha tenha cometido tais ações impensadas. Este agravamento não é vantajoso também para o presidente Juan Manuel Santos, que sucedeu a aliado dos EUA, Álvaro Uribe, nesta posição.
Santos realizou várias iniciativas para normalizar as relações com as FARC e a Venezuela, acusada por Uribe de ajudar a guerrilha. Foi Santos que diminuiu a influência dos EUA no país, em particular do do Departamento Antidrogas dos EUA (DEA), apostando na sua própria força, e começou o processo de reconciliação política que foi reduzida a nada pelas 48 horas nos primeiros dias de fevereiro. O presidente chamou os líderes das FARC de hipócritas, e os atentados de "covardes e insensatos, que resultaram impossível uma solução pacífica". Mas até as suas palavras mostram inconsistência visível na história oficial: "No começo eles anunciam a liberação deles (os reféns), e depois nos atacam.", disse Santos. De fato, é ilógico. Não os narcotraficantes, nem guerrilheiros, nem o governo precisaram do agravamento da situação. Então, quem precisou ?
O lobby de drogas local e o Departamento de Estado dos EUA, que leva longa guerra contra o narcotráfico com objetivos políticos. Não é por acaso o presidente boliviano Evo Morales ter dito que após a expulsão do DEA do país, muitos grupos de narcotráfico locais foram destruídos ou reduziram significativamente as atividades. Declarações semelhantes foram feitas por Hugo Chávez, que apoia as FARC como um movimento camponês Bolivariana, originalmente dirigido contra latifundistas, e no início dos anos 90 — contra as empresas americanas explorarem os ricos recursos naturais do país.
Segundo o experto colombiano Ramon Jimeno, os EUA tem usado a presença de suas instituições no continente como uma ferramenta para monitoramento e espionagem. "As atividades da DEA e da CIA e outras agências de segurança norte-americanas, criadas contra antiterrorismo, na Colômbia atuam há muito, desde os anos sessenta e setenta, e envolvem tanto assuntos políticos em segredo, como em matéria de política pública, o que é o tema das guerrilhas na Colômbia, que liga os traficantes de drogas e guerrilheiros.
Portanto, a interferência destas agências sempre foi vista como um fator negativo em toda a América Latina. Não há nenhuma dúvida que a atividade do DEA serve por sua conexão com o mundo muito baixo de drogas e narcotráfico para obter informações de todos os movimentos ilegais que se movem através das canais clandestinos para importar armas, para roubar elementos de espionagem necessários para grupos terroristas ", argumenta o especialista.
Com esta informação e a história de meio século de perseguição, as FARC, incluídas pelos EUA na lista de organizações terroristas, há muito tinham que ser eliminadas, mas a realidade está longe das declarações do governo dos EUA. Assim, é lógico supôr que as explosões tenham sido organizadas por serviços secretas norteamericanos para restaurar a sua influência na Colômbia e excluir a reconciliação pacífica, o que, como no Afeganistão, aumenta a produção de cocaína e seu tráfego para os Estados Unidos.
Quanto a métodos de luta, como sequestro e envolvimento no narcotráfico, esses, sim, fortemente minam a credibilidade das FARC na comunidade mundial. Mas o país inteiro é contaminado pelo narcotráfico. Droga alimenta os camponeses que cultivam coca, os fabricantes que produzem cocaína, os traficantes a movê-la, os guerrilheiros a sequestrando e revendendo, forças de autodefesa (Paramilitares) que defendem narcobarões, a elite e empresas norte-americanas, e a polícia que protege todo o mundo se ele pagar. A lista pode ser continuada ao longo da cadeia de poder.
E quando chegarmos a presidente Santos, podemos adivinhar as razões para as suas propostas feitas em novembro do ano passado para legalizar o comércio de drogas em nível internacional. De acordo com Santos essa medida reduzirá o nível de violência e crime, mas, talvez, o que é mais provável, legalize os rendimentos, inclusive os seus próprios.