O Brasil de Bolsonaro, o segundo pais mais enlutado do mundo pela Covid-19, que teme a chegada iminente de uma terceira onda do coronavírus, está disposto a abrir suas fronteiras para a Copa América.
O chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro, o ministro Luiz Ramos, informou na terça-feira que as partidas seriam disputadas sem público.
"Confirmada a Copa América no Brasil. Venceu a coerência! O Brasil que sedia jogos da Libertadores, Sul-Americana, sem falar nos campeonatos estaduais e Brasileiro, não poderia virar as costas para um campeonato tradicional como este", — disse no Twitter Ramos.
"Fui consultado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, da nossa parte, é positivo", — disse Bolsonaro em declarações aos jornalistas em seus primeiros comentários.
O torneio deve começar em 13 de junho.
A decisão foi tomada após a renúncia dos dois planejados co-organizadores - Colômbia, em 18 de maio, por causa de distúrbios políticos no país, e Argentina, nesta segunda-feira, em meio a um surto epidêmico e uma onda de críticas no país.
O Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil, liderado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, rejeitou nesta segunda-feira que o país seja sede da Copa América.
O PT pediu ao Supremo Tribunal Federal a suspensão das negociações relacionadas à realização da Copa América, devido ao "risco à saúde da população, dos jogadores de futebol e das delegações estrangeiras".
"Considerando a importância da matéria e a emergência de saúde pública decorrente do surto do coronavírus, bem como a urgência que o caso requer, solicitem-se prévias informações ao presidente da República no prazo legal, que é de cinco dias", — afirmou o magistrado do Tribunal Supremo Ricardo Lewandowski.
As sedes que receberão as partidas da Copa América, segundo Luiz Ramos, são: Distrito Federal, cuja capital é Brasília, Rio de Janeiro, Mato Grosso, e Goiás.
Há um quinto local que será confirmado nos próximos dias. Por enquanto, o governador de São Paulo, João Doria, informou em seu Twitter que havia comunicado à CBF que o estado não deveria sediar o torneio, pois a prioridade de seu governo é controlar a pandemia.
No Brasil o coronavírus já matou mais de 452.000 pessoas e continua a ceifar uma média de 2.200 vidas por dia.
Uma tragédia, uma catástrofe, uma calamidade, um desgosto. Alguns até dizem "genocídio". Porque sim, milhares de mortes poderiam ter sido evitadas.
Desde 27 de abril, uma comissão parlamentar de inquérito, convocada por mais de um terço dos senadores, tenta estabelecer a responsabilidade do governo pela gestão desastrosa da pandemia. Desrespeitoso com as vítimas, a quem qualifica de "chorões", irônico sobre as vacinas que poderiam "nos transformar em crocodilos", Jair Bolsonaro é acusado nas redes sociais de descontrole, "nítida ausência de política de saúde pública no meio da pandemia, o que contribuiu diretamente para milhares de mortes de brasileiros".
O país ainda tem que imunizar 80 milhões de pessoas consideradas prioritárias. A variante brasileira do vírus (P1) é mais transmissível do que as outras cepas e a imunidade adquirida durante uma infecção anterior com SARS-COV-2 não protegeria contra P1.
Por Lyuba Stepushova