Capitalismo 5 - 0 Futebol: Outro Mundo É Possível

Capitalismo 5 - 0 Futebol: Outro Mundo É Possível

A perversidade inerentemente degragante do sistema capitalista, deploravelmente redutor da existência no planeta pode ser facilmente entendido a seguir até por dizer respeito à declarada paixão global: envolve, entre tantos aspectos da vida na Terra como tem sido abordado em Pravda Brasil, o nível descendente do futebol mundial há mais de três décadas. 

Esta modalidade esportiva começou a se transformar, proporcionalmente muito mais que as outras no mesmo período, em um milionário negócio transnacional, grande fonte de lucro fácil e exorbitante para empresários e dirigentes a partir do final dos anos de 1970 e início dos de 1980 através sobretudo das negociações em massa de jogadores ao exterior especialmente os do chamado Terceiro Mundo e ainda mais particularmente atletas sul-americanos, exportados aos financeiramente poderosos clubes europeus.

Concomitantemente, e nem poderia ser diferente, acabou florescendo também a indústria do marketing esportivo como complemento a este emergente mercado que "revolucionava" o futebol mundial, transformando a tudo e a todos - inclusive atletas - em meras marcas esportivas a serem exploradas pela mídia e por empresários, produtos comercializáveis acima de tudo ainda que se tratassem de vidas humanas. 

Diante disso, o assunto principal dos "debates" futebolísticos (igualmente empobrecidos pelo sistema) já não era mais a graça do futebol, o bem-estar de atletas e torcedores, a justa elaboração na elaboração de torneios e calendários das competições esportivas mas como estes se adequavam ao lucro financeiro. O foco passou a ser o quanto o futebol pode ser rendoso aos burocratas que regem o esporte, a empresários de atletas e de marcas esportivas, e aos principais meios de comunicação em nada preocupados com a qualidade do esporte em primeiro lugar.

Não por mera coincidência, já em meados da década de 1980 o mundo passou a assistir desoladamente à queda vertiginosa da qualidade dos jogos de futebol, vendo logo sua denominada era romântica que se estendia por quase meia década desmanchar-se no ar. Tal ciclo foi encerrado na Copa do Mundo do México em 1986, com o futebol já em visível decadência técnica. 

No caso particular do Brasil, logo em maio de 1985 já se sentia os efeitos nefastos da globalização do mercado do futebol: em 1985, enquanto se preparava para o Mundial do ano seguinte com Evaristo de Macedo como técnico, entre uma série de jogos sofríveis veio a primeira derrota para a então fraquíssima Colômbia, até então sem nenhuma tradição: 0-1 em Bogotá, onde a seleção "canarinho" levou um "vareio". Ali, sinais já eram dados  sinais claros de que o futebol estava se nivelando por baixo, e o Brasil viria a colecionar, nos anos seguintes, derrotas inéditas no cenário esportivo internacional. 

Eis que após uma participação com bons jogos na Copa do México no ano seguinte, quando o Brasil de Telê Santana em determinados momentos fez lembrar o futebol espetáculo dos anos anteriores, tendo perdido injustamente nos pênaltis para a boa França, veio a Copa América de 1987 no Chile: a melancólica participação da "amarelinha", que já havia desfilado como melhor seleção do mundo por várias décadas, foi finalizada ainda na primeira fase com derrota para os donos da casa: uma estrondosa, vergonhosa derrota por 4-0.  

A Copa seguinte, em 1990 na Itália, marcou o início da nova era de apresentações futebolísticas patéticas, sem a menor graça em sua grande maioria que em nada lembravam um passado que enchia os olhos e os corações de paixão em todo o mundo. Mesmo naqueles que outrora se haviam consagrado como grandes clássicos mundiais, já se havia instalado a pateticidade o notável desfile de interesses mercadológicos que afetavam diretamente a qualidade dos jogos e, paradoxalmente, retiravam o interesse das pessoas. 

Nas Eliminatórias de 1993 para a Copa seguinte, a ser disputada em 1994 nos Estados Unidos também marcada pelo baixo nível técnico, outra derrota histórica do Brasl: 0-2 para a fragilíssima Bolívia em La Paz. E mais: o Brasil, sempre muito forte politicamente junto à dona FIFA, recebeu naquela competição, como é tradicional na história, uma mão bastante amiga das arbitragens para chegar à disputa nos EUA, o que se repetiria gritantemente em Eliminatórias posteriores.

Um breve relance interno: quem não se lembra - e sente saudades - dos campeonatos estaduais, especialmente o Paulista com aqueles belos clássicos e jogos pelo interior do Estado? Guarani, Ponte Preta, Bragantino, Inter de Limeira, Ferroviária, São Bento, Taubaté, XV de Piracicaba, Portuguesa Santista, XV de Jaú, América, Juventus, Paulista, Noroeste, Marília, São Carlos, Botafogo, Comercial... Como eram apaixonantes aqueles jogos, e o quanto era complicado a qualquer equipe grande, de São Paulo e do Brasil, jogar contra esses clubes! Um tempo que, lamentavelmente, já se foi há muito. Acabou!


E essa tendência apenas piora ano a ano tanto quanto, claro sinal dos tempos, a empáfia desses atletas-produtos contemporâneos cujas "personalidades" não fazem, em nada, lembrar aquelas dos jogadores das épocas áureas do futebol quando dava gosto ouvir os jogadoes falar, era prazeroso conversar com eles fazendo-se entresistecer comparados às figuras dos perfeitos idiotas de hoje.

Por fim, vale ressaltar que também se deve ao sistema capitalista a feroz briga entre jornalistas esportivos pelo famoso jabá, isto é, uma porcentagem financeira "presenteada" por empresários e cartolas cada vez que uma negociação é efetivada àqueles que valorizam, artificialmente, seus atletas de estimação em comentários na TV, no rádio e na mídia impressa.

 


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Timothy Bancroft-Hinchey