O espetáculo de humanitarismo dado pelo Atlético Nacional de Medellín e pelo povo colombiano que tem surpreendido os grandes meios de imbecilização das massas, "impressionante", apenas causa surpresa em quem não conhece a Colômbia, ou ainda insiste em entregar a mentalidade à mídia oligárquica a serviço dos interesses das elites internacionais.
por Edu Montesanti
Espetáculo, lamentavelmente e uma vez mais na história, inversamente proporcional ao apresentado pela cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e por que não, da própria sociedade brasileira em geral uma vez mais paralisada com o "choque" frente ás telas da TV. Daqui uns dias, tudo terá passado e será como sempre foi, como se nada tivesse acontecido sob choro sufocado da cidade de Chapecó e dos familiares das vítimas, das mais diversas partes do País.
A Colômbia é um dos países naturalmente mais maravilhosos do planeta, e os colombianos em geral são de uma gentileza e senso solidário fora do comum. Tudo isso invertido pela mídia predominante como parte da falsa Guerra às Drogas dos Estados Unidos na tentativa (infelizmente bem-sucedida) de impor a ideia de que a Colômbia vive um caos, e que sua população em geral é violenta e viciada em drogas. Desta maneira, os Estados Unidos têm um pretexto para seguir fazendo da Colômbia uma de suas maiores bases militares da América Latina.
Quem escreve tais palavras teve o imenso prazer de cruzar aquele país de ponta a ponta, testemunhando demonstrações das mais divinas de cidadania e companheirismo, além de uma beleza paisagística talvez única no mundo. Antes da viagem, não faltaram mentalidades reduzidas, militadas por ideias pré-concebidas formadas e impostas por meios como Rede Globo que aterrorizaram psicologicamente a esposa deste autor: "Vai ser metralhada na Colômbia! Não viaje com esse louco!". Nestes dias, a jovem esposa chorou de alegria ao relembrar a Colômbia manifestando o desejo de retornar, emendando: "Que lindas demonstrações dos colombianos", referindo-se às homenagens à Chapecoense.
O que os moradores da cidade de Medellín, de todas as idades e classes sociais fizeram no estádio lotado e as mais de 100 mil pessoas nas ruas em memória das vítimas do acidente aéreo do último dia 29, no horário em que jogariam o local Atlético Nacional e a Chapecoense, foi de arrepiar e chorar (a esposa chorou). O Atlético Nacional, tanto diretoria quanto jogadores, têm repetido o que anuncia o sítio na Internet do clube: "Para nós e para sempre, Chapecoense campeã da Copa Sul-Americana".
Mas que se repita: não surpreende em nada quem conhece a Colômbia.
Exatamente nesta quinta-feira, confirmou-se que o avião caiu por falta de combustível. O Brasil, portanto, tem todos os motivos para manifestar solidariedade e protestar.
Atualmente na cidade de Itajaí, mesmo estado da cidade de Chapecó, isto é, Santa Catarina, o que este autor mais gostaria de fazer era manifestar, coletiva e publicamente, as condolências a todas as vítimas daquele voo. Mas não tem havido nada neste sentido, em nenhuma parte do estado catarinense, o que era de se esperar - e este autor nunca esperou o contrário; tudo tem se limitado aos comentários individuais. Hoje mesmo pela manhã, passei em frente ao estádio do time da cidade, Marcílio Dias, o qual observei atentamente, por todos os lados na esperança de ver alguma bandeira da Chape, ou do Brasil ou do próprio Marcílio à meia-haste: melancolicamente, nada!
Foram tentadas, diversas vezes, escrever alguma homenagem na Pravda com a natural revolta, profundo sentimento de impotência, desolação pelo ocorrido: nunca consegui terminar a primeira linha: desisti. Tentei novamente ao me emocionar com as homenagens colombianas. Não deu.
A macabra conversa de Marco Polo del Nero, presidente da CBF, com Ivan Tozzo, presidente em exercício da Chapecoense, contudo, serviu desgraçadamente como "inspiração" para escrever alguma coisa.
Palavras de Tozzo: "Conversei com o presidente Del Nero sobre a partida contra o Atlético-MG. Ele disse: 'Este jogo tem que acontecer. Tem que ser uma grande festa'. Respondi: 'Não temos 11 jogadores'. Ele disse: "Tem sim. Vocês têm categoria de base, os jogadores que ficaram. Não importa. Tem que fazer uma grande festa. Chapecó e a Chapecoense merecem'".
O Atlético Mineiro, através de seu presidente Daniel Nepomuceno, declarou que não comparecerá a Chapecó para a partida, o que levará seu clube a perder por W.O.
O futebol, precisa, urgentemente, ser dirigido por ex-jogadores! Não por essa cúpula engravatada, arrogante e corrupta que rege o esporte sem nunca ter chutado uma bola na vida.
Concluo este pobre, desanimado e talvez mal-elaborado texto, escrito no afã de querer terminar logo, atônito e sem condições de discorrer sobre a tragédia, com meu "Obrigado, Colômbia! Você é mais que digna! Lamento não ter podido estar aí a fim de, ironia do destino, extravasar pacificamente a alma, homenagear com colombianos meus patrícios brasileiros".
Deixo também a música de Cazuza: "Brasil, Mostra a Tua Cara!" - aproveitando, inclusive, o desejo ardente de Del Nero e de toda essa canalhada da CBF por uma grande festa futebolística que, é claro, deveria se estender às arquibancadas em Chapecó, em busca de retorno financeiro:
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)