Presidente da Fifa relacionado aos 'Papeis do Panamá'
Pouco mais de um mês após assumir presidência da maior entidade do futebol mundial, Infantino tem nome envolvido nos recentes documentos vazados. Não era necessário conhecer profundamente futebol a fim de prever que se tratava de mais um cartola que se enriquece com o esporte, e que nada novo traria
Edu Montesanti
"Infantino não representa outra coisa, senão a continuidade de cartolas mais comprometidos com os negócios sujos do futebol", reportava este autor na Pravda [1] em 27 de fevereiro, Novo Presidente da FIFA Não Trará Nada Novo à Enlameada Entidade, assim que o que o suíço Gianni Infantino assumia a presidência da Fifa, generalizadamente atolada em escândalos de corrupção.
Pois agora, pouco mais de um mês depois o principal dirigente da maior entidade do futebol mundial, que sempre garantiu não possuir nenhuma ligação com os escândalos de corrupção no esporte, tem o nome ligado ao caso dos Papeis do Panamá que aponta: Infantino assinou contrato com Hugo e Mariano Jinkis, empresários acusados de suborno por terem comprado os direitos de TV da Liga dos Campeões da Europa e os venderem por quase o triplo do preço original. O contrato foi assinado por Infantino em 2006, quando ainda era diretor da Uefa (entidade máxima do futebol europeu).
Entre 2003 e 2006, Infantino, então secretário da Uefa, vendeu os direitos de transmissão da Liga dos Campeões, da Liga Europa e da Supercopa Europeia à empresa argentina Cruz Trading, que por sua vez os repassou à emissora de TV equatoriana Teleamazonas pelo quadruplo do preço.
O jornal britânico The Guardian teve acesso aos documentos liberados por Papeis do Panamá, e reportou neste dia 6: "O nome de Infantino aparece nos contratos como diretor de serviços legais da Uefa. (...) De acordo com os contratos, a Cruz Trading, registrada no pequeno paraíso fiscal do Pacífico Sul de Niue, concordou em pagar 111 mil dólares pelos direitos exclusivos de transmissão de futebol da Liga dos Campeões no Equador, entre 2006-2007 e 2008-2009. Na carta de apresentação contendo os contratos plenamente executados, a UEFA afirma: 'Parabéns por se juntar à família de parceiros de transmissão para as temporadas 2006-2009 da UEFA Champions League... estamos ansiosos por trabalhar com você!'".
No entanto, segundo o Guardian a emissora equatoriana pagou à Cruz Trading 311.170 dólares pelos direitos sobre a Liga dos Campeões. "Não está claro por que a Teleamazonaspagou tanto pelos direitos, mas uma probabilidade é que a Cruz Trading lucrou gigantescamente com o negócio. Fontes locais também confirmaram que um acordo semelhante esteva em vigor três anos antes, quando a Teleamazonas comprou um pacote semelhante de Cross Trading para uma taxa, acredita-se, de cerca de 400 mil dólares", relata o maior diário britânico.
Os documentos ainda apontam que, de 2003 a 2006, a Uefa fechou negócios com uma das empresas e outros personagens da Fifa envolvidos em casos de corrupção, que resultaram na destituição do ex-presidente Joseph Blatter. Além de Infantino, aparece na investigação o nome do ex-presidente da Uefa, Michel Platini. Jinkinks está em prisão domiciliar na Argentina, enquanto Uefa e Fifa negam irregularidades.
Uma vez que WikiLeaks comprova o financiamento de Washington sobre os Papeis Panamá, tais investigações perdem grande parte da credibilidade, por motivos óbvios e bem conhecidos da humanidade. Porém, nem tudo é descartável muito menos neste caso cuja entidade envolvida possui sistema igualmente bem conhecido globalmente, há muito, completamente deteriorada.
Somada a isso, a própria essência do discurso de Infantino logo que assumiu a Fifa: conforme abordado na Pravda à época, propunha medidas demagógicas e politiqueiras enquanto nada de concreto em relação ao combate efetivo à corrupção e a uma mudança na cara da administração do futebol mundial.
Uma máfia que nem a maior parte dos jornalistas ousa tocar: uma vez mais, a roubalheira indiscriminada que tomou conta do esporte vem à luz não devido ao jornalismo investigativo (que deve ser classificado de seletivo), mas cai do céu mais este capítulo da triste realidade do esporte, como pacote premiado nas manchetes internacionais - certamente, para logo cair no esquecimento e tudo seguir como sempre esteve até porque muitos políticos e mesmo jornalistas estão envolvidos nos mais diversos esquemas de corrupção dentro do judiado futebol.
Por isso tudo, nada aponta para mudanças, nem de um lado, nem de outro indicando que a tal de paixão mundial seguirá funcionando muito mais como ópio, velha distração popular que como qualquer outra coisa.