A “ucranização” do Brasil e as fascistóides intenções do mito mentiroso

Por Fernando Soares Campos

Se o movimento estudantil conhecido como Caras Pintadas, que em 1992 mobilizou-se em favor do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, há anos não é lembrado, quem, num futuro bem próximo, se lembrará desse ajuntamento denominado Movimento Brasil Livre ‒ MBL? Essa gente, esboçando um arremedo de patriotismo e moralismo hipócrita, defendendo a legalização de partidos assumidamente nazifascistas, torna-se uma ameaça ao Brasil, uma das instáveis democracias latino-americanas. 

Recentemente alguns membros desse grupelho estiveram na Ucrânia. Disseram que estavam indo na condição de combatentes voluntários, mas a imprensa em todo o mundo noticiou que se tratava de mercenários, gente aventureira, reunidos no que chamam de Legião Internacional de Defesa do Território da Ucrânia, treinados, armados e financiados por países membros da OTAN, capitaneados pelos EUA. 

Os "voluntários estrangeiros" estavam acomodados nas instalações da tal base destinada a mercenários de diversas partes do mundo. Falavam de suas supostas “miras cirúrgicas”, que fariam deles os mais comemorados snipers do front, mais que a franco-atiradora russa Lyudmila Mikhailovna Pavlichenko, a quem se atribui a morte de 309 soldados nazistas (há quem acredite que foram mais de 500), sendo ainda hoje considerada a franco-atiradora mais bem sucedida na História. 

Correspondência dos elementos brasileiros e suas mensagens nas redes sociais, jactando-se de suas habilidades com o uso de fuzis de última geração, forneceram as coordenadas que o exército russo utilizou para identificar, precisamente, o local do esconderijo daqueles elementos assoldadados e, por meio de um ataque aéreo, destruiu o acampamento da autodenominada Legião Estrangeira. 

Em entrevista a correspondentes de guerra, um brasileiro que, poucas horas antes do ataque russo, evadiu-se do local contou que, segundo informações do governo ucraniano, o ataque havia deixado cerca de 40 mortos e 130 feridos. Fontes russas garantem que, nesse combate, eliminaram aproximadamente 180 mercenários estrangeiros e destruíram armas fornecidas por países membros da OTAN e até mesmo por nações aspirantes a serem integrantes dessa aliança internacional baseada no Tratado do Atlântico Norte.

Batalhão de Azov

O Batalhão de Azov foi criado em 2014 durante os protestos da Euromaidan. Trata-se de uma organização paramilitar com estrutura semelhante à militar, cujos membros estão submetidos a uma disciplina talvez mais rigorosa que a do exército ucraniano, entretanto, apesar do nome (Batalhão), não faz parte, oficialmente, das forças armadas ucranianas; mas está vinculado ao Ministério do Interior da Ucrânia. Tudo indica que hoje, naquele país em guerra, essa força paramilitar tem mais autoridade (i)moral que o próprio exército ucraniano e expressa seu autoritarismo torturando e matando civis, principalmente russos e descendentes diretos de russos. 

Muitas são as vítimas dos truculentos milicianos da Ucrânia. As mais perseguidas são mulheres, gays, negros, ciganos e qualquer outro que se manifestar contra tal regime. Como os nazistas da origem, os de hoje também pregam e executam o que tratam como “trabalho de limpeza étnica". Aquele povo oprimido pelos nazistas do Batalhão Azov, quando tinha oportunidade, apelava para o governo russo, rogando apoio para se libertar daquele massacre. Pelo visto, estão sendo atendidos. 

O Batalhão de Azov representa um papel mais expressivo que uma milícia; possui, inclusive, seu próprio partido político. Uma de suas divisões é a temida força de vigilância conhecida como “Milícia Nacional (Natsionalni Druzhyny), que patrulha as ruas das cidades ucranianas ao lado da polícia. Ao contrário de seus pares ideológicos nos EUA e na Europa, também possui uma ala militar com pelo menos duas bases de treinamento e um vasto arsenal de armas, de drones e de veículos blindados a peças de artilharia" (Wikipédia - verbete O Batalhão de Azov)

É provável que o Batalhão de Azov conte com alguns colaboracionistas entre suas próprias vítimas. Certamente colaboram sob ameaça, tendo suas famílias na condição de reféns dos neonazistas; mas também contam com elementos que acreditam nas "boas intenções" das lideranças mercenárias, estas formadas por gente estúpida que tem "licença" do governo ucraniano para torturar e matar. 

Lev Golinkin

O premiado escritor ucraniano Lev Golinkin, autor de A Backpack, a Bear and Eight Crates of Vodka (Uma mochila, um urso e oito caixas de vodka), vencedor do “Premio Salerno Libro d’Europa”, chegou nos EUA em 1990, ainda criança, na condição de refugiado da cidade de Kharkov, no leste da Ucrânia (atualmente denominada Kharkiv). 

“Golinkin, diante de fatos incontestáveis, em artigo na prestigiada revista estadunidense The Nation, foi categórico denunciando que “A Ucrânia pós-Maidan é a única nação do mundo a ter uma formação neonazista em suas forças armadas”. Ele também apontou os “pogroms neonazistas contra os ciganos, ataques desenfreados a feministas e grupos LGBT, proibições de livros e glorificações patrocinadas pelo Estado de colaboradores nazistas”. 

“Ao tolerar gangues e batalhões neonazistas, distorções do Holocausto encabeçadas pelo Estado e ataques a LGBT e ciganos, os Estados Unidos estão dizendo ao resto da Europa: ‘Estamos na boa com isso’”. “As implicações – especialmente em um momento de renascimento global da extrema-direita – são profundamente perturbadoras”, garante Golinkin.

Aqui no Brasil, já estamos, de certa forma, vivendo sob um regime análogo ao do governo neonazista da Ucrânia. Mas... que forma é essa? Oficial, legal e regulamentada como no caso da Ucrânia? Não. Ainda não. Entretanto sabemos que já ocorreram tentativas de legalizar as ilícitas atividades milicianas no Brasil. Felizmente ainda não chegaram lá. Por enquanto estão apenas exigindo a "ucranização (nazificação) do Brasil", para que tudo aqui se torne terrivelmente real e de forma oficial, legal, mesmo que seja imoral, como Belzebu gosta. O pior é que, informalmente, ainda que seja sem a estreiteza de uma vinculação oficial com o atual governo brasileiro, mesmo assim, aqui no Brasil, muita coisa já acontece à maneira das tropas de choque neonazistas, racistas, supremacistas brancos da Ucrânia. Prova disso é o caso do congolês Moïse Kabagambe, brutalmente assassinado num quiosque da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde havia trabalhado e fora cobrar o pagamento de dois dias de trabalho. 

Diário do Centro do Mundo: "Ex-locutor da UEM é hospitalizado após agressão 

(DCM, 14 de março de 2022)

"O professor de Sociologia, Aguinaldo (Guiga), foi violentamente espancado por neonazistas, em Curitiba. Ele está na UTI!"

"Aguinaldo Timoteo Cavalheiro de Almeida, de 48 anos, ex-funcionário da UEM-FM, na cidade de Maringá, foi hospitalizado após agressão na cidade de Curitiba. Os criminosos que espancaram o professor foram identificados como membros de grupos neonazistas. O locutor é graduado em Filosofia, filiado ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), sigla pelo qual já concorreu às eleições na capital do Paraná. Ele é militante na causa dos sem-teto, além de professor. Foi atendido pelo Siate (Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência). Apesar de ter sofrido um traumatismo craniano, Aguinaldo Timoteo não corre risco de morte."

  Hoje entendemos que, se Bolsonaro for reeleito, provavelmente as milícias serão oficializadas, imoralmente legalizadas na condição de forças auxiliares, vinculadas ao Ministério da Defesa ou o da Justiça. Assim sendo, passarão a ter autoridade pública reconhecida e temida pela população. As polícias estaduais (civil e militar) tornar-se-ão estruturas de apoio logístico aos grupos paramilitares, como na Ucrânia. 

Fernando Soares Campos é escritor, autor de "Saudades do Apocalipse - 8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018; e "Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo", Grafmarques, Maceió, AL, 2022.

 

 


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Fernando Soares Campos